Chegou o momento anual de balanço sportinguista. Um momento único de lucidez no blogue. E logo na altura mais difícil.Por causa do tempo, claro, que já faz muito calor. Não menos despiciendo é o outro motivo: a época futebolística do Sporting, em termos globais.
Foi má? Teremos que concordar que sim. Não houve futebol, não houve resultados; repetimos o 4º lugar que conhecemos no final dos anos 80 e uma vez já há uma dúzia de anos, porém com piores exibições; jogámos talvez ainda pior que a pior época exibicional do Paulo Bento, mas nem uma tacita para amostra. Nem deu para ir a finais de nada.
Carvalhal foi irregular e julgo que se fez bem em tentar outra opção, mas o homem merecia mais respeito. Que foi coisa que Bettencourt, sinceramente, tudo fez para desmerecer. Não votei nele, agora é fácil assumir, mas não tenho prazer especial nisso. Tive alguns maus presságios, mas quando ganhou fiquei com esperança nele. O que podia fazer melhor? A outra alternativa também não cativava e um homem já na casa significava menos risco. Todavia, Bettencourt saiu-me um grande melão, aparentemente gostoso mas no final aguado.
Paulo Bento, ele mesmo o disse, ficou quatro meses a mais. Gosto muito dele, da sua disciplina trabalhadora, da distância desapaixonada com que avaliava os jogos, do seu timbre espanholado. Os espanhóis são muito mais competitivos que nós. E ganham. Enfim. Os jogadores e os jornalistas é que já estavam saturados. E só depois os adeptos. Os adeptos só manifestaram verdadeiramente o seu desgosto quando não se começou a ganhar e a distância para os outros a aumentar. Antes disso era só fumaça. O futebol não entusiasmante também não ajudava. Mas é só quando não se ganha que tudo se vai abaixo.
Carvalhal não tinha nada a perder. Não tinha muito tempo para ganhar. Não era fácil. Um começo aos apalpões, depois titubeante a descer, depois Everton e FCP e, quando tudo parecia encaminhado para uma época um pouco mais digna, Izmailov, Atl. Madrid, puf, Carvalhal perdeu o controlo. Como Sá Pinto já tinha perdido. E Carvalhal no meio de aquilo tudo, parecia uma criança a assistir aos pais a discutir, indefesa a um conto, agarrado ao seu ursinho. Neste caso, o ursinho de Carvalhal era a sua secreta esperança de permanecer pela pena dos outros. Não teve essa sorte. A sua boa-vontade esbarrou violentamente no muro de fogo canibal do Sporting. Ainda assim, mostrou resiliência psicológica.
Jogadores? Moutinho estagnado, todos com medo da próxima birra do instável Veloso, Yannick ao fundo no penoso final de época, Pongolle risivelmente caro, João Pereira a adquirir rapidamente os vícios malignos da equipa, Carriço apenas razoável (e baixo), e era o melhor (o que diz muito do estado da defesa), Izmailov embrenhado numa teia que tresanda a empresários por todo o lado, Pedro Mendes a prometer mais cérebro no meio-campo, Patrício foi evoluindo como pôde entre o ruído exagerado das críticas, Liedson exasperado e desmotivado. Foi mais ou menos assim e não vale a pena desenvolver mais.
Expectativas para o futuro? “Sei lá” parece ser o mais sensato. Bettencourt só pode melhorar, Costinha é um ponto de interrogação, Paulo Sérgio também é Bento e ficamos todos a aguardar. Dele só se exige mais músculo no balneário, melhores contratações, mais espectáculo e resultados mais agradáveis. Não é pouco. É antes um problema. Vamos testar quanta paciência haverá para tolerar mais fracassos. Dizem que não há dinheiro e desbarata-se no Pongolle, não deram no princípio a Paulo Bento o que deram a Carvalhal no meio e no final os jogadores parecem todos em subrendimento e estoirados. Mas a equipa tem de mandar alguém embora e buscar substitutos. Quantos desvarios mais se podem aguentar?
Resta-me aproveitar o Verão, pensar em coisas novas, espairecer, ver andebol. Ah, o andebol. Fez bem. Foi como se achássemos uma nota perdida no bolso depois de termos ficado sem a carteira. É o Pedro Solha, o Petric, o Fábio Magalhães e o Bjelanovic. É um pavilhão cheio a festejar em
verde-e-branco, é o testemunhar da comunhão entre equipa e público num dia inédito de glória. O nosso ego mostrou que estava vivo a ver a Taça Challenge refulgir no pavilhão de Almada, perante sportinguistas em celebração efusiva. Nem sequer era o melhor desporto. Nem sequer era a melhor taça. Mas “taça é taça”, reza o título. E esta é a que nós ganhámos, ganhando bem e ganhando em primeiro. Foi escrever história com gato em vez de cão. O relativismo com que encaramos certas coisas dava para escrever tomos de papel daqui até à China.
Fig1. – Lady Popota é fotogénica e ousada como a verdadeira Lady Gaga.
Fig.2 – Popota sabe cantar e até utiliza o microfone para sacar chimpanzés inteiros do seu nariz. Em carne e osso.
Fig.3 – O Modelo a mostrar que sabe cobrir as necessidades dos seus consumidores.
Estamos numa de não nos levarmos a sério. Minimizarmos as circunstâncias para aliviarmos a nossa alma de fardos desnecessários. Noutro dia esmaguei um pequeno insecto. Não lhe queria fazer mal, mas esborrachei-o. Acontece. Não foi nada de especial. Vai acontecendo. Ele morreu. Eu por cá ando. É assim a vida, construída de pequenos acontecimentos que para alguns são tudo e para outros pouco mais que nada. O truque está na trivialização sistemática dos actos. O tempo ajuda-nos a construir um aspecto blasé. A idade traz-nos coisas que julgamos estar em loop, um disco riscado que já nem sequer nos incomoda. A minha vida tem vindo a constituir-se por músicas de porcaria e dizem-me que essa é a banda sonora da minha vida. A música que se faz hoje em dia é muito má, ninguém parece dar por isso. Ligam-me sempre a músicas que estão nas playlists actuais e que eu não gosto, mas dizem que elas têm muito a ver comigo. Eu nunca me imaginei na última cena do meu filme com aquela música enquanto passam os créditos. Mas é mesmo assim. Há coisas que não conseguimos controlar. Nem devemos. Nem alguma vez iremos, se quisermos. É assim, ponto. Apenas há que ir tentando mudar. Enunciar citações alheias como forma de mostrar um grande aparato cultural. Soltar palavras chapa-5 na esperança que o nosso receptor ainda não as conheça e pense que somos um génio. Alguma coisa devemos ser. Nem que sejamos apenas o génio da banalidade.
A preguiça quando se instala é pior que um pacote promocional da TMN, demora a ser extraída. A sombra da bananeira é tão reconfortante que nos esquecemos que um dia temos de voltar ao sol, à torreira do trabalho, que as bananas estão lá em cima e não caem só por si. São apenas bananas, mas estão lá em cima. E nós, que somos a reserva moral desta sociedade, vamos ficando cá por baixo. Deixados à sorte de bananas. Isto já lá não vai só com palavras, mas é o melhor que nós conseguimos fazer. Somos poetas e criativos, não gostamos de actuar, ainda chateamos alguém. E isso é chato. Sentamo-nos em casa a ver os outros falhar. Engordamo-nos em centros comerciais e damos dinheiro para clubes de futebol e para os nossos filhos se divertirem como nós nunca pudemos divertir-nos. Pensamos que isso é o melhor. Se é que sequer pensamos a sério. Se o fazemos, não devemos. E os putos vão crescendo estupidificados em frente ao computador e com os telemóveis de última geração. Não vão querer saber de nada para nada. Vão entrar num ciclo vicioso de alienação e aos 20 anos já estão hiperactivamente deprimidos e nunca mais vão recuperar. Temos fé que uma busca no Google resolverá os nossos problemas. Todavia, a internet também esconde um grande problema: estar acessível a tanta gente tão pobre de espírito. O que quer que isso seja hoje em dia. Queremos acreditar que será tudo para o nosso bem. Estive a pesquisar tantas formas de ser feliz, tantos links supostamente milagrosos, e enquanto isso o dia foi-se lá fora.
