quarta-feira, dezembro 03, 2008

A Popota Mata!

Não é uma novidade recente; a Popota, segundo sei, nasceu em 2003 e era então uma hipopótama rosadita e sem grandes tiques antropomórficos, uma espécie de peluche secundário do back catalogue da Disney. Porém, foi-se sofisticando com o tempo; agora a Popota mostra que é uma hipopótamo-mulher multifacetada, que tanto denota um vanguardismo ímpar na forma como assume o papel central no seu próprio rap/ hip-hop (nunca sei como classificar este género de som…), como conserva as referências clássicas ao “Titanic”, “Pulp Fiction” e “Saturday Night Fever“ (isto é, uma certa fixação pelo John Travolta…) que a elevam a um patamar multigeracional impossível de verificar em Leopoldina, a sua grande rival, que apenas se identifica com as faixas etárias mais próximas do topo da pirâmide pelo seu vetusto nome. Popota personifica o romantismo feminino para a pequenada, seguindo o caminho outrora traçado por Miss Piggy, e enquanto que esta tinha o seu Cocas de estimação, Popota parece encontrar os seus Cocas em cada esquina, fascinando todo um grupo de rappers/ hip-hoppers (???) meio hipopótamos, meio dreads. Popota, por ter menos tempo de antena, ainda não é uma personagem muito complexa (parece ser somente uma rapariga-hipopótamo sonhadora), nem é tão grotescamente patética ou violenta quanto Miss Piggy, mas dêem-lhe mais uns aninhos.

Pois é. Quando tentamos analisar a Popota sob o prisma do realismo, vemos que o marketing do Modelo assenta em pilares de quase absurdo. Se calhar, o Natal é uma época plena de parvoíce e o Modelo até faz bem em realçar o absurdo, mas isto são outras contas.
A Popota é, em rigor, uma hipopótama. Na realidade, um hipopótamo não é isto…
… mas sim isto:

Para quem não sabe, o hipopótamo é um assassino sem piedade. É feroz como poucos animais em África e morrem mais pessoas vitimadas por hipopótamos que por leões. Uma fêmea hipopótamo com crias não é flor que se cheire e um macho acossado por outro também não. São bestas tramadas e mesmo um grupo de leoas tem relutância em atacar um hipopótamo adulto solitário.
Estamos, portanto, a criar uma falsa imagem do hipopótamo. Como já criámos com o ursinho de peluche, essa fera cruel que de fofinho tem muito pouco e que foi dos maiores embustes da história do brinquedo.
Crianças, o hipopótamo aplicava-vos uma dentada letal se pudesse. Se forem com ideias de dar festinhas ao animal, o mais provável é ficarem sem mão ou o hipopótamo pura e simplesmente esborrachar-vos.
Crianças, a Popota não é querida, é uma máquina de morte.
Crianças, a Popota mata.
Especialmente a ti, que estás aí parada em frente à mãe hipopótamo para lhe dar um abraço e pensas que estes quadrúpedes são lentos a movimentar-se em terra.
Quando deres por ti, já não terás mais prendas para pedir.
Os hipopótamos atingem velocidades consideráveis para o seu tamanho. Correm mais que qualquer criança humana. É claro que não usam saltos altos como a Popota, mas também não usam ténis Adidas.

A imagem da Popota é uma imagem de candura. O rap/ hip-hop surge como algo muito na moda, o que até é verdade, mas sempre sem nenhuma maldade associada. Na verdade, esse estilo musical nasceu nos bairros pobres e era a banda-sonora para a delinquência, o que também não está muito afastado da realidade. Tudo é belo no mundo literalmente cor-de-rosa da Popota, mas a realidade não é nada assim.
Mas ninguém se importa. Para os adultos, é tudo a brincar, estamos apenas a falar a língua das crianças. E estas também não se importam, porque não vêem hipopótamos na rua todos os dias e os rappers/ hip-hoppers que costumam ver por aí são os seus vizinhos que acabaram de sair de uma loja de roupa devidamente equipados com o traje “da moda”. E, além do mais, estamos no Natal, é dar às crianças o que elas querem, que é felicidade e prendas, ou melhor, a felicidade por intermédio de prendas (de preferência, no Modelo e com fins humanitários em vista). Não há caso. Aliás, há muito mais para nos preocuparmos para além da Popota.

Porém, a Popota é uma aberração. Uma hipopótama carinhosa que canta um rap de Natal? Ainda há-de chegar o dia em que vamos ter o tigre de Natal, o escorpião de Natal, o Luís Filipe Vieira de Natal, o Hitler de Natal e todos vão ser muito fofinhos quando dançarem o ritmo dos tops com o seu enxame de abelhas, o seu cardume de piranhas, o seu grupo de NN Boys e a sua Gestapo. Porque não?

Um dia destes pondero concentrar-me na concorrência Popota – Leopoldina. Para já, parece-me que a Leopoldina, que representa uma cegonha ou lá o que é, sendo, portanto, um animal inofensivo, está a ganhar terreno na faixa que vai até aos 6-7 anos. A partir daí até aos 12-13 anos, ganha a Popota, um animal claramente mais arrojado e mais modernaço. E dos 13 aos 19 ganham os Morangos com Açúcar e a Floribella na fase sem mamas de plástico, ou apenas a Floribella fase FHM para os rapazes com mais de 15 anos. Poderei investigar melhor estas preferências. Ou só a FHM, ainda estou indeciso.

2 comentários:

Anónimo disse...

Oh Zé, uma aberração são pessoas como tu. Queres que mande uma imagem? E já agora as estatisticas foram tiradas de onde? Quando estavas a defecar o resto dos neurónios que te sobraram depois de escrever este texto que não passa de uma triste dissertação sobre a tua vida: " Hellooo, sou um triste, e agora vou falar sobre ...a Popota"
Deves ter tido um infância muito triste.

Rodrigues disse...

Obrigado pela visita, Toni.
Pede à tua mãe para te espalhar pomada, ajuda a aliviar.
Volta sempre.