segunda-feira, agosto 25, 2008

Tubo de Escape

Toda a gente precisa de um. Ou então explode com toda a porcaria que acumula dentro de si. Essa é uma alternativa pouco agradável. Então venha de lá esse grande auxiliar, o receptor e exaustor de todos os nossos gases mentais, essa matéria indefinida aglutinadora de colagens dispersas que não pode ficar retida cá dentro.
Debruçamo-nos sobre a sua complexa simplicidade, é apenas um veículo transmissor de resíduos potencialmente nocivos, mas como seríamos nós sem ele ali? Um mecanismo tão básico e tão poderoso, como tantos outros, mas um que nos sacia instantaneamente. É óptimo este automatismo, tão bom que quase nem nos damos da conta da sua existência. Sentimos a porcaria, destapamos o buraco e lá vai. Lá vai disto. O produto de todas as combustões internas que alimentámos, de todas as metáforas medonhas que concebemos e de toda a prosa pretensiosa que engendrámos esfumou-se agora pelo cano, atomizou-se pelo universo. Há quem o inale, há quem não. E isso pode fazer sentir-nos ainda melhor ou não, isso talvez interesse, mas o que deve importar foi termos sobrevivido. Mais esta vez. Foi termos resistido por haver um tubo de escape a libertar-nos.
E que haja uma atmosfera suficientemente grande para acolher todos os nossos gases. Que o espaço seja infinito. Que ninguém se incomode por mais um tubo de escape emissor. É aborrecido levar com fumos alheios e não ter outra opção. Ninguém quer isso. Queremos só ter os nossos tubos de escape e que nos compreendam. Vocês também terão o vosso, mais ou menos explícito, ele lá estará nalgum recanto das vossas vidas. Entendam a valia do tubo de escape. Deixem-nos dedicar a ele. Ele é o nosso grande pretexto para fugirmos para algum sítio que não este. Deixem-nos estimá-lo como ele merece.