terça-feira, janeiro 12, 2010

Homofonices

- Boa tarde. Eu gostaria de saber mais sobre o meu tempo.
- Com certeza… mas… espere aí, o sr. disse “meu tempo”, refere-se à sua cidade?
- Não, é algo pessoalmente mais amplo que isso.
- Ah, a sua região, portanto… diga-me, por favor, onde está localizado?
- Em casa, junto ao telefone.
- Pois… o que eu queria era saber a sua região… distrito ou concelho, por exemplo.
- Se isso serve para alguma coisa, eu então vou mais pelo conselho.
- Muito bem.
- Muito bem o quê?
- Diga-me o seu concelho, então.
- Não, eu estou a ligar-lhe precisamente para que VOCÊ me dê um conselho sobre o tempo…
- Como assim?
- Também não sei, por isso é que lhe peço um conselho.
- Há aqui uma confusão… eu referia-me a concelho, com “c”, divisão administrativa.
- Ah, está bem… não vejo como isso pode ser útil.
- Assim não vou poder dizer o tempo que vai fazer…
- Pronto, no mapa é uma terriola à direita de Sobral de Monte Agraço.
- Região este de Sobral de Monte Agraço, portanto…
- Sim, é esta região.
- ?
- Então?
- Bom, pela análise que faço das cartas meteorológicas…
- Ah, vocês também fazem isso tipo tarot? Quando vos contactei foi a pensar que o método seria mais científico. Mas adiante, já estou por tudo.
- Tarot?
- Sim, oráculo de Bellini e Maya e coisas do género… não me diga que não sabe…
- Peço desculpa, mas os nossos métodos são científicos e rigorosos. Recorremos a imagens de satélite e possuímos uma equipa altamente especializada em geofísica…
- Está bem, está… dizem todos o mesmo e o diabo a quatro… então, como é que vai ser o meu tempo?
- Olhe, perspectivam-se aguaceiros intensos e ventos com alguma intensidade a soprar de nordeste, isto até ao princípio da noite, depois…
- Eh pá, que está de chuva já eu sei! Eu queria era saber o MEU tempo: tipo, se vou viver muito, se há alguma coisa que devia estar a fazer neste momento, quem é o tipo mais fantástico da minha era, esse tipo de coisas…
- Mas… nós só tratamos de previsões de tempo…
- Pois, é isso mesmo! Por isso vos liguei!
- Nós somos o IM. Você sabe quem nós somos, por acaso?
- O INEM? Então não sei, têm aquelas ambulâncias amarelas e condutores muita marados, como não hei-de saber? Foi numa Iveco dessas que a filha da minha vizinha nasceu aqui há atrasado. Surpreende-me que você me pergunte essas coisas tão básicas… eu posso não ser tão “científico” como vocês, mas não me tome por burro… e eu não queria falar com ninguém dos bombeiros, não estou doente. Se é o caso de estar a falar com o INEM, desligo imediatamente o telefone que é para não estar a ocupar recursos e vocês poderem ir socorrer mais grávidas prontas a parir…
- Não é o INEM! É o IM, Instituto de Meteorologia! Previsões do ESTADO do tempo atmosférico e condições do mar na orla marítima, não do “tempo” individual de cada um!
- Ah é isso que vocês fazem? Está bem… e não fazem mais nada? Não conseguem reconfortar psicologicamente alguém, não conseguem aquecer o coração de um pobre solitário?
- Não, esse não é o nosso âmbito. Trabalhamos apenas em meteorologia.
- E distribuem meteorologia ao domicílio?
- Não creio que se possa falar nesses termos… estamos sediados no Aeroporto de Lisboa e…
- Pois, aqui não temos aeroporto, não dava para a menina vir cá ter… mas aqui o meu vizinho tem um curral que parece um hangar, se você aterrar a avioneta no descampado dele, que até é grandinho, pode depois guardar o aparelho no curral dele, ele não se importa. Tem é de ter cuidado com o pomar dele ao aterrar, se lhe tocam nas romãs, ele atira-se para si de ancinho em riste, é maluco para isso. Fora isso, e a tuberculose dele, é uma jóia de pessoa. Tome uma vacina, pelo sim, pelo não.
- Não vou a lado nenhum! Que insolência!
- Não se exalte, eu também estou meio insolvente e não desato aos berros com as pessoas… não pode fazer previsões sobre o meu tempo nem me consolar, mas podemos ser amigos, ou não? O que posso fazer para compensar o tempo que lhe estou a tomar?
- Nada, estou a ver que isto já não tem conserto…
- E por acaso… você até jeito para previsões! Como é que sabia?
- O quê?
- O concerto da Claudisabel aqui na terra foi cancelado… parece que se lhe rebentaram as mamas no concerto anterior e já não vai haver festa para ninguém. Pelo menos é o que se diz por aí. Como é que você soube?
- Outra vez! É conserto com “s”, como que a dizer que esta conversa já não tem arranjo, está definitivamente estragada! Como posso eu comunicar com alguém que passa a vida com trocadilhos à volta de palavras homónimas e homófonas? Você é insuportável, perdoe-me que lhe diga!
- Bah, você também errou na vocação.
- Ora… porque diz isso?
- Já parou de chover e você só me disse que ia parar à noite. Para a previsão do tempo não me parece a pessoa indicada. Mas como acertou no que aconteceu à Claudisabel, parece que tem jeito para prever o que se passa com as artistas portuguesas. Diga-me então, a Romana ainda tem as mamas no sítio para vir cá para a semana ou não? O meu outro vizinho ia gostar muito de saber isso, visto que quer trocar um pouco de brucelose pela saliva dela. Olhe que estou a perguntar-lhe pela Romana, não é pela outra que mostrou as mamas com a irmã, a Rute Marlene, ou lá o que é. Não confunda. Veja aí por favor nas suas cartas.
- CLIC.
- Estou? Estou? Ora bolas… Por falar nisso, apetecia-me era uma bolinha de Berlim. Deixa-me cá ver o número da embaixada da Alemanha.

NOTA: Em Janeiro, Ruth Marlene foi capa da Playboy; em Agosto já eu tinha adiantado qualquer coisa do género. Só não acerto no Euromilhões porque gosto de viver uma vida de desafios, acreditem. É só por isso e também porque não jogo.