sábado, maio 31, 2008

Portugal Pró-Fundo

1. A assembleia aprovou por maioria qualificada a outorga do título de sede de concelho às seguintes localidades:

Viana do Sal
Figueira da Pêra
Idanha-o-Basto
Unhais de Montemor Gordo
Mondim de Casal Vedras
A-da-Condeixa Agraço
Cabeceiras de Xira
Castelo de Espada à Comba Dão
Vila Pouca da Rainha-a-Nova
Santiago do Conde
Castro de Torres à Cinta
Benfica Franca do Hospital
Albergaria Velha dos Vinhos
Póvoa da Pampilhosa
Vila Celorico de Varzim
Linda-a-Cabeça
Foz do Botão
Carrazeda Nova da Serra
Castanheira da Palmeira
Sarilhos Algodres do Cacém
Vila Real de Freixo-a-Pastora
Venda dos Pequenos da Beira
Oliveira de Aguiar
Alcácer de Canal Iria
Ferreira do Rio Zêzere Tinto
Sever de Ansiães
Aldeia Nova das Raparigas Grandes
Macedo d’Aire
Proença do Corvo
Fornos de São Brás da Feira
Paços de Miranda
São João de São João
Leça da Cruz Gorda
Carregal Caveira
Pedrógão da Moimenta
Torres do Balio
Figueiró da Quebrada
Caldas de Arruda


2. Na mesma sessão, a assembleia vetou por unanimidade a atribuição do título supra-citado às seguintes localidades, por violação dos princípios lógicos observados na lei de bases do Sistema Administrativo Nacional:

Alcabaxide
Carnideche

3. A assembleia aprovou por maioria simples a moção de apoio à distribuição gratuita de alucinogénios a todos os deputados no hemiciclo apresentada pelo Dr. Durão Ferreira Cervan, reiterando assim a pretensão de repetir o verificado na presente sessão em todas as restantes sessões em que não haja disposição da assembleia para discutir temas de carácter estratégico.

4. A assembleia culminou a sessão com uma salva de tiros seguida duma salva de palmas.

5. Os sobreviventes afirmaram sob juramento esta sessão ter sido o fim da sua carreira política.

6. O Eng.º Mota Leite de Coissoró indicou numa primeira instância recorrer do juramento prestado pelo Dr. Patinha Bota, mas retirou a sua intenção ao ser perfurado fatalmente pela baioneta do Arq.º Macário Canas.

7. O meu sonho pessoal era ser como a Amy Winehouse, mas mais gordinho.

terça-feira, maio 20, 2008

Taça é Taça - Parte II

Mais uma homenagem do Outra Louça aos bi-campeões da Taça. Desta vez não houve sonhos destrambelhados com o Tonel a partir a taça. Nada disso. Tonel portou-se bem, como, aliás, toda a equipa. Foi uma tarde tranquila e pardacenta, com um vencedor justo e o passarinho Tiuí a constituir-se como o homem do dia. Apenas quero deixar três ou quatro notas.
Tiuí tem uma alcunha que pouco augura. A pujança da terceira ou quarta opção para a frente de ataque veio ao de cima e ele próprio deve ter ficado surpreendido pelo facto de ter acertado duas vezes nas redes pelo lado correcto. Aliás, Tiuí ainda nem sequer ensaiou um festejo de golo, parecendo um pouco perdido por ser a figura central da festa. Tiuí, tudo me leva a crer, nem sequer é um jogador de futebol na verdadeira acepção da palavra, mas apenas alguém que estava no lugar errado à hora errada. Também não me admiro que ele seja extraterrestre ou que tenha próteses de platina. A mística muito característica do Jamor contagiou Tiuí, mas temo que o efeito seja passageiro e que ele recupere para os seus piores níveis de sempre. Mas, pronto, já chega de bater no passarinho; o passarinho decidiu, está (bem) decidido.
Paulinho esteve em grande, como sempre nos habituou. Coxeou de forma determinante no acesso aos balneários, flectindo a perna direita com o jeitinho aprimorado pela experiência que só ele possui, incuntindo assim uma grande motivação na equipa. Permitiu que lhe arremessassem com várias latas de Gatorade em simultâneo e conservou aquele estóico sorriso mongolóide que tanto anima um balneário de futebol. Conseguiu não partir os óculos no meio da festa, o que é uma façanha dentro da própria façanha. Contabilizou três ou quatro modestas nódoas negras e uma escoriação no couro cabeludo na ressaca dos festejos, nada que não se recupere na pré-época que se aproxima. Na próxima época, Rochemback promete partir-lhe um osso qualquer ainda não especificado.
Ronny ficou ofuscado na tribuna de honra pela camisola de Liedson que Derlei fez questão de exibir. Via-se que estavam lá os calções e as pernas do nº8, mas a cara tinha sido tapada pelo jersey do Levezinho. Tudo por uma questão estética. Foi certamente um conselho sussurrado por Fátima Lopes ao Derlei, que procurou o tipo menos prendado do plantel para lhe tapar a fronha. Derlei esteve certeiro, mais do que quando esteve em campo. Ninguém se importou com o Ronny, nem mesmo o Luís Represas, tão solícito quando se trata de defender Timor e os timorenses. E ninguém me tira da cabeça que Ronny É timorense.
Por último, Purovic. Na minha opinião, Purovic é maluco. É mau jogador, para mais no sistema que o Sporting joga; não tem técnica nem grande jogo de cabeça para a altura que tem; protesta demasiado e em maus tons com os árbitros, como se fosse a estrela que, manifestamente, não é; e, muito importante, é a opção que se segue ao… passarinho Tiuí. O cartão de visita não inspira, de todo, confiança. Mas, acima de tudo, terá dificuldades cognitivas e perceptivas. Não bate bem, ponto final. Nem sequer tem graça, como o Paulinho. E aquilo não é um tique esquisito, como o do Izmailov. Acho que é mesmo pancada, é defeito e/ou feitio, aquele olhar esgazeado, o penteado semi-electrificado e toda a deselegância desengonçada que o caracteriza. Também acho que se enganaram no ponta-de-lança alto e esguio que queriam trazer – era o IbrahimOVIC e não o PurOVIC… É provável que seja dispensado, isto se alguém quiser um cabide imprevisível e que execute movimentos estranhos lá por casa.
Para terminar: os votos que o Jamor continue verde-Alvalade por mais algum tempo… e, se possível, com o gosto a dobradinha que escapa desde 2002.

sábado, maio 17, 2008

Österreich Unter Alles

Ich bin ein Österreicher! Sou doido por sangue e extremamente sádico. Gosto de cultivar a antipatia como os belgas de semear a pedofilia e os escandinavos de cometer suicídio. E podia ir mais adiante, estabelecer mais comparações, mas toda a Europa mete-me nojo. Já fui grande, eu mais os húngaros, mas agora sou um pequeno país que nem sequer tem entrada directa na Champions League e que pediu a língua emprestada ao grande vizinho germânico.
Por acaso, é uma língua que nos assenta como uma luva, é uma língua assassina e intimidadora como poucas. Mas isso não apaga a humilhação. Se não fizer nada de cruel, serei um paspalho periférico e mediano como… olha, como os portugueses, vá lá. E então, fiquei assim.
Para mim, a atrocidade não conhece limites. O melhor cartão de visita é constatar que Hitler, filho de uma beirã, afinal era austríaco. Encarcero os meus filhos em caves durante anos, escondendo-os da luz e da vida social. Se não tiver filhos, rapto o filho de alguém com a tranquilidade com que esmago um inocente insecto com as minhas botas cardadas. Em piqueniques familiares no sopé dos Alpes gosto de mutilar os membros dos membros da família, depois de me empanturrar com pickles envinagrados ao som de Mozart.
Bom velho Mozart, ele próprio um maluquinho, como manda a boa tradição austríaca. Até o Freud tinha sonhos anormais com a mãe dele, mas eu entendo bem a sua fixação. Todos nós somos muito apegados à família e consideramos o incesto uma forma de reforçar os laços familiares. A consanguinidade nunca nos fez mal.
Em contrapartida, o yodel é apenas uma patetice para desviar as atenções. Enquanto berro “yudl-ay-EEE-ooo” estou a pensar na próxima vítima. Que pode ser eu mesmo. Tenho os braços cheios de queimaduras de cigarro e escavacados a golpes de canivete suíço, que nós nem para fazer canivetes servimos. Apenas sabemos fazer bom uso deles. Se vejo uma tipa qualquer na rua que me meta impressão, infantil ou idosa, arranjo logo forma de a violar. À bruta, amarrada a um cipreste numa cercania de Innsbruck, dando-lhe com fiveladas nos costados e penetrando-lhe com bastões de basebol.
Temos uma capital cheia de pompa apenas para que não reparem nos cadáveres que despejamos no jardim assim que saímos de casa, após mais um serão de carnificina e sacrifício humano no conforto do lar. Os homens do lixo, já pouco impressionáveis, por vezes aproveitam pedaços em decomposição para oferecer à filha mais nova que os andava a chatear por uma Barbie. Os ossos ficam para o cão. É tudo natural.
Enquanto os turistas contemplam a monumentalidade dos palácios, nós enforcamos o vizinho por ele nos ter olhado de lado na Quarta-Feira. Os filmes de terror são estudados no ensino pré-primário e dissecados até à exaustão por boas professoras austríacas, daquelas que gostam de sexo sado-masoquista com velas quentes a pingar na pele e também de matar veados após o expediente, cortando-lhes as cabeças às dentadas para as expor na sala de estar. Também os alunos menos cooperantes são dissecados, literalmente, pelos seus colegas no recreio.
Em orgias de sexo e droga fornicamos e trocamos fluidos com todos os sexos, incluindo animais, sacerdotes e octogenárias. Ah, como são apetitosas as velhas... E os velhos. Não nos repugna a perversão. Aliás, ela é-nos tudo. O que é monstruoso para muitos é corriqueiro para mim. Mas admito ser mal compreendido. Por exemplo, José Figueiras casou com uma austríaca. Temo pela sua sorte.
Estou apenas a ser sincero. Basta olhar para os factos. Basta constatar a imprensa estrangeira. Não quero ser mais papista que o papa, nada disso. Alles klar, Herr Kommissar?

sexta-feira, maio 16, 2008

Ode a João Loureiro

Aqui fica uma singela homenagem à consideração dos Ban e do boavisteiro Manuel do Laço, que me partiu o coração quando chorou agarrado ao portão da Liga de Clubes, como se parte de si tivesse sido decepada a sangue frio pelas ríspidas e adverbiais palavras do sinistro, mas penteadinho, Ricardo Costa.

Considerem isto a retribuição de um favor pelas visitas que “Irreal Social” proporcionou ao Outra Louça. O João sabe bem do que é que falo quando me refiro a favores.

Arbitral
Coacção
Não é banal
Oh João
É fatal
Atracção
Fez-te mal
Foste ao pão

Gutural
Vozeirão
Da paternal
Protecção
Mas afinal
Tudo em vão
É o final
Da instituição

Susceptibilidade ferida
No túnel houve briga
Genealogia perfeita
É tudo a mesma seita

Natural
Despromoção
Coloquial
Argumentação
No jornal
A corrupção
O social
Em putrefacção

Voltar ao microfone?
Com escuta no telefone?
A megalomania
Estragou-te o dia

Parcial advocacia
Brutal burocracia
Do iceberg a ponta
A nacional afronta

quinta-feira, maio 08, 2008

Não Vou Ceder

Ele vai resistir. Já nos apercebemos do quão inútil é supor o inverso. A amálgama de sentimentos espúrios destas ocasiões chega-se à frente – eles são o orgulho, a obstinação e a persistência. Mexidos como ovos e atirados para a luz, esperando aterrar num qualquer fascículo de fábulas modernas, almejando alimentar folhetins e suscitar tertúlias de bairro.
A teimosia é dos burros, é substantivo semanticamente simples, ele é mais complexo. Não se percebe, todavia, se ele é um tubarão com cabeça de galinha ou uma formiga com cérebro de Einstein. Suspeitamos que há um traço que ele quer deixar, desconfiamos que ele quer que o mesmo seja indelével, duvidamos que ele possa cumprir os objectivos que delineou lá no alto, lá longe, onde as vistas mais comuns não alcançam.
Agora a montanha-russa já arrancou. Não há volta a dar, a saída faz-se em frente ao toque da sineta. Se ele quisesse, fechava os olhos e deixava-se levar pelos rodopios estonteantes. Mas não. Ele vai olhar de frente e enfrentar, batalhar, defender, atacar, aguentar. Resistir. Aturar-nos por termos que o aturar.
Ele não vai atirar a toalha ao imundo chão dos vencidos, é esta a sua causa, esta luta incessante pela individualidade, esta glorificação da singularidade, esta magnética atracção pela peculiaridade. Resiste porque já não há outra opção. Resiste porque é isso que está grifado na sebenta da sua ideologia. Resiste por estar agarrado a si mesmo e ele próprio agarrado a nada.
E quem diz ele, diz eu. No fundo, somos todos farinha do mesmo saco. Somos todos pães bolorentos e egocêntricos desta Humanidade. Desprezamos outras convicções. Fazemos de conta que somos a força das forças. Preferimos romper a coser. Resistimos.