segunda-feira, março 23, 2009

Há Festa Na Capoeira

Rui Costa chega à capoeira e empina a crista, mostrando assim que é o galo que manda ali no meio. Fuma um Marlboro atrás do outro, mas ali não há cancro do pulmão que lhe ameace. O fumo de Rui Costa é conhecido na capoeira como sendo “o fumo de Deus” e há até umas quantas galinhas beatas que acreditam que aquele fumo tem propriedades terapêuticas capazes de curar enxaquecas e cataratas.
Rui Costa está preocupado. Parece que “A Bola” não fez uma capa particularmente animadora. “A Bola” referiu que Maxi Pereira é como o Cantinflas, mas muito melhor tecnicamente. Porém, Rui Costa queria que Maxi Pereira fosse intitulado como a nova Cindy Crawford, dono de uma beleza física tão assustadora quanto desarmante, o ídolo de toda uma asa direita que nunca existiu, senhor de um passe avaliado em mais de 30 milhões e desesperadamente cobiçado pelo Real Madrid e pelo Manchester United, e que a referida notícia ocupasse 80% da capa.
Infelizmente, a comparação Maxi – Cantinflas ocupou apenas 75% da capa e ainda deu para perceber no rodapé as vitórias de Sporting e Porto, que, como se sabe, apenas acontecem por batota e movidas por um desejo inquebrantável de ofuscar a bela crista de Rui Costa, de tão invejosos que são.
- Esse gajo? Esse gajo não, pá – diz o Deus da capoeira, ao telemóvel, para o chefe da arbitragem – Esse gajo é muito forte e eu não lhe consigo sequer mandar o fumo para a cara. Tens de meter lá um gajo que tenha medo de mim.

Entretanto, uma multidão de desdentados e desempregados aglutina-se em frente de uma gaiola com um canário vermelho, começando a entoar loas de glorificação à ave canora. O canário, com um QI largamente superior a quase toda a multidão que o aclama, liberta uma caganita em sinal de desprezo, que toda a multidão encara como sendo um sinal divino de redenção:
- Vomos ser campiões, vocezes vão ver! Olé-olá! Gloriozo Esse-Él-Bê… Gloriozo Esse-Él-Bê… - grunhe uma adepta minhota com o peso de 150 Vanessas Fernandes, mas com uma cara muito parecida à do pai da Vanessa Fernandes.
- Ninguém nos pára! – exclama um tipo da EMEL, que por acaso também é adepto do Benfica.
- Samos os maiores, car***o! – brada um emigrante no Luxemburgo com 2,1 metros.
- Esperem aí… isto não é o milhafre Vitória… é só um pintassilgo pintado! – adverte o ser mais inteligente daquela mole de gente, uma criança de 7 anos que é a única que ainda não bebeu vinho a martelo naquela manhã. A multidão não acredita.
- Cala-te puto! Isto é o símbulu du Benfica! Como te atreves? Levas já uma lambada e não comes os couratos para a dejua, ouvistes? – ralha o bom chefe de família que se costuma ver nos azulejos dessas tascas à beira da estrada para o filho insurrecto.
- O Rui Costa disse que isto não era o milhafre Vitória! – insiste a criança, já muito sabida.
- Ah, então se o nosso Deus disse, está dizido. Malta, vomos procurar a verdadeira águia Empate!
- Vitória.
- Vitória, pois claro. Que cabeça a minha! Passei muito tempo a ouvir UHF, fiquei assim… BURP!
De arroto em arroto, lá chegou a multidão aos zurros junto do açor Vitória para o grande momento do dia: um peido do Rui Costa na direcção da multidão.
Rui Costa dobra-se para a frente, contrai o abdómen e, com um ligeiro esgar, solta uma bufa monumental com uns pinguinhos acastanhados a escorrer pelo seu rêgo divino. A multidão considera-se abençoada.
- Eu senti o cheiro dos intestinos do Rui Costa! Já consigo cheirar! Milagre! Milagre! – exultou um fabricante de perfumes.
- O Rui Costa peidou-se para mim! Estou curado! Louvado sejas, meu Deus! – considerou um doente terminal, que morreu logo ali fulminado por um misto de felicidade e pestilência letal.

Após esta homilia plena de entusiasmo, Rui Costa recolheu aos seus aposentos sem lavar o esfíncter e pensou logo na fusão entre a RTP Memória e o Canal Benfica. A RTP Memória estava com um pé atrás porque não queria que mais de 80% das suas imagens fossem a preto-e-branco. Para ajudar a pensar no negócio, o deus Costa fumou mais um maço de tabaco, picou-se com um pin do Benfica para mostrar a todos que é o Benfica que o faz chorar e agrediu um boneco com cara de árbitro, para se ir treinando para o confronto no túnel – mesmo que, como será mais provável, o árbitro até tenha beneficiado o Benfica e revelado ter sonhos molhados com a envolvente capilar do David Luiz.

Soube-se então que Di Maria reclamou. Di Maria reclamou, está reclamado: o Benfica afinal ganhou o jogo que perdeu por 3-0 e no início do próximo jogo será marcado um penalty pelo Reyes e, se este falhar, então repete-se até ser mesmo marcado o golo que reporá alguma justiça – porque justo, justo, é o Benfica ganhar tudo por decreto, desde o sarau de dança da filha do motorista até ao píncaro de toda uma época, o colossal Troféu do Guadiana. Se Di Maria reclama, nada pode ser feito para travar o pedido do orelhudo afilhado de Maradona, muito menos obstar à alegria do argentino, que é mais conhecido pelos festejos que se seguem aos seus protestos do que propriamente por algum lance de inspiração técnica.
“Inspiração técnica?”, pensa Rui Costa. “Isso é para os fracos, nós semos os maiores!”.

Enquanto o galinheiro se acotovelava para ver o strip-tease unissexo da Leonor Pinhão e um espectáculo de ópera clássico com laivos de pirotecnia pelos eruditos NN, Suazo foi nomeado o melhor jogador do mundo numa petição lançada na Internet pelo caniche do Jorge Máximo, o único ser vivo que consegue teclar sem partir teclas lá por casa.
Deliciado com este prémio, Quique posa para uma revista gay. Todas as mulheres do Benfica acham que isso só lhe fica bem e sugerem a Quique para deixar crescer um buçozinho tal como o delas, para Quique ficar ainda melhor. Para “A Bola”, Quique já é pentacampeão porque, a saber: arrebatou a Taça do Marisco ao ganhar um jogo de matraquilhos, após prolongamento, ao sobrinho-neto do Jesualdo Ferreira; ganhou o campeonato português na Playstation pelo Benfica, após ter repetido n vezes os jogos que não ganhou à primeira vez; ganhou um jogo sem discussão ao Rio Ave; porque o João Querido Manha acha que ele é muito fofo; e porque um gajo tão charmoso só pode ser campeão.
Luisão então entrou a matar, literalmente: com pontapé bem levantado na senda de um Jackie Chan com poderes super-heróicos sacados ao He-Man, assassinou um adversário qualquer. O adversário foi repreendido, dado que os regulamentos proíbem expressamente um falecimento em campo, para mais na presença do clube do falcão Vitória. Sim, porque todos nos devemos esquecer do Fehér e de todos os casos de doping que assolaram este clube. Luisão manifestou-se inocente e socorreu-se do seu arquivo para mostrar que em 1942 já houvera uma entrada igual e que o jogador em causa, que por acaso era do Porto, saíra incólume. Portanto, havia sido feita justiça e Luisão achava muito bem que o adversário fosse punido com 3 jogos de suspensão, ou mais, só por ter falecido sem ter marcado um auto-golo de agradecimento pelo facto de ter sido morto pelos pitons mágicos de Luisão.

O mundo do Benfica girava com alegria ao ritmo do batimento de asas da gaivota Vitória, gravitando em torno desse deus estrelado que é Rui Costa. Mas Rui Costa estava preocupado. Fumava um cigarro atrás do outro em busca da resposta para a questão que o atormentava: “E se esta gente, por absurdo e num dia qualquer, abre os olhos e vê a porcaria que somos na realidade?”. Luís Vieira, que vinha ainda a sacudir um pouco do pó que tornara um modesto aprendiz de mecânico num magnata na lista dos cem mais ricos do país, reconfortou-o. “Ó Rui, isso nunca vai acontecer. Samos os maiores!”.

sexta-feira, março 20, 2009

És Uma Querida

Que cara é essa? As férias não te correm bem? Há uma melancolia muito plácida a pairar na tua face e escorrer sobre a areia, uma certa resignação pelos espelhos que partiste ao longo da tua vida e uma persistente lamentação pelas pessoas e animais que se desviaram de ti no passeio, assustadas e talvez até enojadas.
Mas tu não tens culpa.
Eu digo-te para seguires em frente e ignorar os risos patetas.
Eu aconselho-te a olhares o mundo com outros olhos que não essas diminutas bolinhas que tendem a esconder-se do mundo por vergonha.
É certo que há coisas que não poderás fazer.
Nunca serás uma modelo de elite, nem sequer para publicitar sumo de azeitona podre.
Nunca ninguém vai andar com uma fotografia tua na carteira, a não ser que seja a tua mãe, e mesmo assim subsistirão dúvidas.
Mas há muito que podes fazer.
Já vi gente a ganhar a vida a jogar às cartas.
Já vi gente a ganhar a vida a comentar os outros a jogar às cartas.
Já vi gente a ganhar a vida a aplaudir com sonoros “Muito bem!” os discursos formatados dos outros.
Há tantas oportunidades à espreita por aí.
Tu, quem sabe, terás sucesso num freak-show.
Dificilmente serás alvo de violação ou assédio sexual.
Poderás aproveitar todo esse enorme parafuso que é o teu nariz para fins siderúrgicos.
Tantas vantagens exclusivas só para ti.
E, quem sabe, terás uma enorme estaleca intelectual, que ninguém nunca vai querer saber ao olhar para essa combinação de brincos.
Nunca ninguém vai querer sair contigo, a não ser que pagues a conta. E mesmo assim vão querer que só apareças no fim. Mas incito-te a teres esperança.

Porém, não há nada que possas esperar de mim. Podes crer que nada farei para te sentires melhor, se isso não implicar nada de bom para mim.
Sentes-te usada para fins humorísticos e desprovida de humanidade, que posso eu fazer? Abdicar do meu palminho de cara e da superioridade do meu aspecto normal?
Nada feito.
O meu altruísmo tem a fineza das tuas sobrancelhas. Mas o meu condão de ser hipócrita e dizer “sinto muito” tem a largura da tua testa.
Mas enquanto me servires eu sirvo-me de ti. E quero lá saber se sabes que eu me aproveito de ti ou não, não tens muito por onde escolher. Não vais arranjar mais ninguém para estar assim tão perto de ti e fotografar-te na tua dolência que fere a vista da normalidade. Se há coisa que tu não tens, para além de uma cara bonita, é poder negocial.
Preciso dum caixote de lixo humano para elevar o meu moral. E tu és o meu caixote.
Sabe mesmo bem saber que temos certos privilégios. Só conseguimos ter esta percepção se te tivermos como termo de comparação, lá em baixo, nas subcaves desta sociedade movida pelo imediatismo da primeira impressão.
Sinto que a frivolidade do mundo te deixará triste.
Desculpa lá.

segunda-feira, março 09, 2009

Isso É Peito Que Se Apresente?

Este é o ano da crise.
Mas percebemos que certos negócios florescem, apesar de tudo.
Por exemplo, a indústria do silicone.
E não falo do silicone com a finalidade de selar instalações sanitárias.
Esse negócio está sempre na merda.
É antes isto: mal há um calorzinho, mamas dilatadas brotam por todo o lado.
E é aqui que tomamos conta do fenómeno.
É verdade, o silicone está aí para ficar, haja ou não crédito fácil como dantes.
Dantes é que as mamas desciam até ao umbigo.
Dantes é que as mamas se disfarçavam de pedacitos de algodão por trás dos decotes.
Hoje só é necessário 20ºC para as mamas incharem.
Isso e uma operação cirúrgica rotineira.
Mais uns cobres.
E cá estão as tuas novas duas melhores amigas.
Um par de mamas insuflado, espetado e volumoso.
Dois mamilos suculentos que ferem os olhos com a violência orgásmica da sua forma.
Duas bolas plásticas que fazem da nossa mente uma espécie de plasticina.
Aquelas que nós gostávamos de sentir coladas à nossa cara.
Vocês talvez não saibam, mas a minha opinião sobre o silicone (e objectos mamários femininos, no geral) já foi abordada atrás. Por isso, escuso de me repetir.
Mas hoje vi três pares de mamas em fila, qual pelotão de fuzilamento com seis balas irresistíveis, e, para além da súbita paralisação, apercebi-me que quatro mamas rosnavam-me em brasileiro.
E desde quando as brasileiras têm mamas grandes? É do conhecimento geral que as brasileiras só têm mamas grandes se colocarem silicone ou se forem a Fafá de Belém. Elas são 90% cu. Mas ali estavam quatro mamas silicónicas a espreitar sobre o rebordo do decote, digladiando-se contra o calor primaveril, sentindo uma urgência lasciva debitada sob a forma de pequenas gotículas de suor que vão escorrendo pelo rêgo resultante da sua convergência forçada por um soutien de dois números abaixo, estimuladas pela adição do poderoso silicone. Fizeram-me imaginar coisas.
Ao lado delas, uma rapariga muito tímida deixou que o seu enorme par de mamas falasse por si. Acho que compreendi tudo.
E pronto, este momento foi um dos destaques do meu dia.
Para além de todas as suas propriedades de enchimento e dos seus eventuais defeitos estéticos (o efeito “mama-quadrada”), o silicone tem dois efeitos perniciosos: faz muito mal aos olhos e absorve a nossa concentração.
Ah, e talvez cause cancro. Mas o que é que hoje em dia não causa?
As mamas são as principais candidatas a Personalidade do Ano, à falta de melhores alternativas neste ano de crise. Ao contrário das cotações, as mamas não vão ao fundo. Ficam sempre à tona. Engraçado, “tona” rima com “co”…
Bom, mas bem vistas as coisas, as mamas foram sempre uma sensação. Já ando aqui há alguns anos e o interesse pelas mamas nunca foi abaixo. O mercado mamário renova-se automaticamente sem grande perda de excitação, ano após ano. Boas mamas são um activo que nunca deprecia. Más mamas também não são propriamente um passivo. São um capital muito próprio e distribuem dividendos ao patrão e ao proletariado. Os gráficos bolsistas seguem a direcção do nosso pénis e erguem-se, instalando a euforia entre os investidores. Isto é economia e finanças aplicadas às mamas.
As mamas bem merecem sair deste Inverno opressor e tomar a dianteira. Mostrem-nos o caminho de saída desta crise castradora. E pode ser tão fácil provocar-nos um click. É só chegar-lhes um pequeno calorzinho, longe do plástico que é para não inflamar… e é o ar que se nos dá.

domingo, março 08, 2009

terça-feira, março 03, 2009

Mário Soares

- Eh pá, eu gosto do Mário Soares.
- Pois eu gosto mais de gajas.
- Não estás a perceber…
- Pá, cada um sabe daquilo que gosta. Dás para velhos, é contigo. Não sou tipo para discriminações.
- Eu referia-me à capacidade política do Mário Soares, pá. O tipo continua muito lúcido, mesmo com esta idade. Esteve sempre na vanguarda política nos últimos 35 anos.
- Estás a falar de quem, afinal?
- Do Mário Soares, pá!
- O bochechas? O cota?
- Pois… Sim, é esse!... Um homem de estatura moral como já não se vê…
- Olha, o que eu sei é que ele deve ser mesmo muito intrujão para se aguentar durante tanto tempo… há muito pessoal que o detesta, também. O Zé do Talho detesta-o desde que veio de Moçambique com 5 anos.
- Isso é gente tacanha que não suporta viver em liberdade! O Mário Soares fez muito pela liberdade e independência deste povo!
- Tu lá sabes… eu é mais gajas. Não sei apreciar velhos.
- Bolas, estou a falar de política, pá! POLÍTICA!
- Tudo bem. Eu prefiro ter sexo. E tu, não?
- Bem, sim,…
- Meu, que hesitação foi essa? Gostas mais de fo**r ou de ouvir velhos a falar?
- Eh pá, de fazer amor, claro!
- Hmmm… parece que só estás a dizer isso para não ficares mal visto… cá para mim não gostas de sexo… só queres é ver engravatados a aldrabar-te…
- É claro que gosto! E é possível conciliar estas duas paixões: sexo e política.
- Achas mesmo, pá? Onde estavas tu no último congresso do PS?
- Fui lá, presenciar ao vivo. Agitar a minha bandeirinha e espetar o punho com a rosa no ar.
- E a tua mulher?
- Ficou por casa. A ler um livro.
- Ai ficou a ler um livro… meu, enquanto estavas por lá a babar-te para cima de moções da treta, a tua mulher cavalgava a cem à hora em cima de outro gajo. Meu, a política só serve para os políticos. E tu és apenas um totó armado em esperto.
- Não acredito! A Gustava não é desse tipo de mulher! Ela tem tudo o que necessita em termos amorosos!
- Pois não a achaste muito divertida quando voltaste? Ela não estava ainda à rasca para se sentar?
- Por acaso… espera aí! Não me digas que tu… e ela… enquanto fui ao congresso…
- Meu, acho muito bem que cada um se dedique às suas paixões. Eu já te disse que não quero saber do Mário Soares para nada.