quarta-feira, dezembro 31, 2008

Proposta de Cessar-Fogo

“Israel recusou proposta francesa de cessar-fogo”

Israel – Nem pensar!...
França – Pensem lá bem, é bastante razoável…
Israel – Quê? Só isso pelo cessar-fogo? Pfui! Ele ainda vai ficar connosco a crescer durante mais algum tempo e depois sim, explodirá. E aí iremos vendê-lo por muito mais. Esqueçam. Não têm mãozinhas para o cessar-fogo.
França – OK, OK, pronto. Vamos considerar um esforço adicional.
Israel – Não estou a ver, mas diz lá.
França – 1 monumento judeu em Paris e 1 caixa de champanhe.
Israel – Ora!...
França – 2 caixas de champanhe.
Israel – Queres lá ver que…
França – E 1 queijo.
Israel – Ah!
França – E…
Israel - …
França - … acho que é tudo.
Israel - …
França – Pois. Já fomos muito longe.
Israel – E…
França – Diga…
Israel – O monumento… é grande? Assim… tipo, sei lá, uma coisa… gloriosa, triunfal? Ou assim mais para o lamechas, com criancinhas e animais? É que não gosto de coisas lamechas…
França – Sim, sim, claro! Que cabeça a minha!... Esqueci-me de dizer que o monumento será o maior do género na Europa. É mesmo pujante. É uma espécie de Campo Pequeno, mas muito melhor. É do melhor que há.
Israel – Ah!...
França – Pronto, agora é que já disse tudo. Que tal? Temos o cessar-fogo?
Israel – O queijo… é de Provença?
França – Claro, claro.
Israel – 2 queijos, um para mim e outro para o Spielberg.
França – Como? Está a brincar comigo, não?!
Israel – Ai, ai, estou a ver que vamos ter um reveillon aos tiros, olá se vamos…
França – O que você está a pedir pelo cessar-fogo demonstra a sua irresponsabilidade! Tenha vergonha, sua personificação de país! Tenha vergonha! Onde já se viu, dois queijos por um cessar-fogo! Dois queijos franceses de Provença! Mon dieu, mon dieu !
Israel – Vocês é que sabem. Um queijo é razoável para o esforço do cessar-fogo.
França – Hmmm… Está bem, está bem. Isto é descer ao limiar da indignidade, mas desta vez passa. Temos cessar-fogo?
Israel – Acho que estou a fazer um mau negócio… mas pronto, vá lá… ficam vocês com o cessar-fogo.
França – Bom, devo admitir que não foi fácil, você está de parabéns. Então e quando é que ele chega?
Israel – Eh pá, pode ser já amanhã, se vocês quiserem. Não nos faz muita diferença.
França – Como assim?
Israel – Daqui a uma semana já temos aqui outro cessar-fogo ainda mais bonito a despertar-vos a cobiça. Mas esse deve ir para os americanos.
França – Raios ! Devia saber ! Vocês são mesmo propensos a… judiarias !
Israel – Ahahahah! Bang-bang, mon ami !
França – Maldito sejas !
Israel – Tem calma, pá. Nós somos a maior escola de cessar-fogos do Mundo. Somos a Academia de Alcochete dos tiroteios. Estão sempre tiros a despontar nos nossos palcos de guerra. É só promessas. Vem sempre um cessar-fogo que dá cartas durante mais algum tempo que outro, há sempre uma renovação. Nunca pára.
França – Irra ! Que este cessar-fogo me faça ao menos um bom-proveito !...
Israel – Olha, por falares em bom-proveito e para mostrar o meu espírito desportivo, vou convidar-te para comeres uma fatia do teu ex-queijo.
França – É como a estar a comer um pouco de mim… mas vamos lá. Vamos lá solidificar as nossas relações diplomáticas…
Israel – É isso mesmo, pá ! Shalom !

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Gente Comum


A gente comum não vai a lado nenhum.
A gente incomum diz que não lhes conhece de lado algum.
A gente comum é muito mais que um conjunto de anónimos da classe média, é toda uma sociedade anestesiada.
E a classe média nem sequer é mediana, é medíocre.
Troca de carro e muda de telemóvel mas a merda é insubstituível.
Quer ser ajudada e nunca ajudar, quer sacrifícios sem dor e ganhos espontâneos.
A classe média caminha a passos largos para a sua extinção.
E julga-se feliz porque pensa que está a evoluir para uma classe superior, mas está a afundar-se nas areias movediças dos interesses que a manipulam.
A gente comum pensa que é o suporte moral da sociedade.
Mas é apenas um repositório de invejas e gabarolices.
É apenas gente que quer comprar especialmente o que não se vende.
Eles não sentem a crise. Eles são a crise.
Continuam a ladrar para a caravana que os explora.
Gostam do espectáculo mórbido que é a sua própria aniquilação.
Fazem número e enchem espaço.
Agitam bandeiras e preenchem cruzinhas.
Vendem a alma por um plasma.
Desenham esquemas para sacar subsídios.
Estacionam o automóvel em lugares reservados.
Acham engraçado o cão defecar no quintal do vizinho.
Plantam couves no meio da capital.
Atribuem as culpas a entidades fictícias.
Vestem um fato para serem doutores.
Têm soluções que só colocam mais problemas.
Divertem-se a destruir as iniciativas dos outros.
A gente comum faz com que a gente reles seja algo a ter em conta.
A gente comum não percebe que está a rir-se ao espelho.
A gente comum não percebe alguma coisa de muitas coisas.
A gente comum tem demasiados olhos para uma barriga tão mirrada.
A gente comum queixa-se por tudo e por nada.
Bem o merecem.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

A Popota Mata!

Não é uma novidade recente; a Popota, segundo sei, nasceu em 2003 e era então uma hipopótama rosadita e sem grandes tiques antropomórficos, uma espécie de peluche secundário do back catalogue da Disney. Porém, foi-se sofisticando com o tempo; agora a Popota mostra que é uma hipopótamo-mulher multifacetada, que tanto denota um vanguardismo ímpar na forma como assume o papel central no seu próprio rap/ hip-hop (nunca sei como classificar este género de som…), como conserva as referências clássicas ao “Titanic”, “Pulp Fiction” e “Saturday Night Fever“ (isto é, uma certa fixação pelo John Travolta…) que a elevam a um patamar multigeracional impossível de verificar em Leopoldina, a sua grande rival, que apenas se identifica com as faixas etárias mais próximas do topo da pirâmide pelo seu vetusto nome. Popota personifica o romantismo feminino para a pequenada, seguindo o caminho outrora traçado por Miss Piggy, e enquanto que esta tinha o seu Cocas de estimação, Popota parece encontrar os seus Cocas em cada esquina, fascinando todo um grupo de rappers/ hip-hoppers (???) meio hipopótamos, meio dreads. Popota, por ter menos tempo de antena, ainda não é uma personagem muito complexa (parece ser somente uma rapariga-hipopótamo sonhadora), nem é tão grotescamente patética ou violenta quanto Miss Piggy, mas dêem-lhe mais uns aninhos.

Pois é. Quando tentamos analisar a Popota sob o prisma do realismo, vemos que o marketing do Modelo assenta em pilares de quase absurdo. Se calhar, o Natal é uma época plena de parvoíce e o Modelo até faz bem em realçar o absurdo, mas isto são outras contas.
A Popota é, em rigor, uma hipopótama. Na realidade, um hipopótamo não é isto…
… mas sim isto:

Para quem não sabe, o hipopótamo é um assassino sem piedade. É feroz como poucos animais em África e morrem mais pessoas vitimadas por hipopótamos que por leões. Uma fêmea hipopótamo com crias não é flor que se cheire e um macho acossado por outro também não. São bestas tramadas e mesmo um grupo de leoas tem relutância em atacar um hipopótamo adulto solitário.
Estamos, portanto, a criar uma falsa imagem do hipopótamo. Como já criámos com o ursinho de peluche, essa fera cruel que de fofinho tem muito pouco e que foi dos maiores embustes da história do brinquedo.
Crianças, o hipopótamo aplicava-vos uma dentada letal se pudesse. Se forem com ideias de dar festinhas ao animal, o mais provável é ficarem sem mão ou o hipopótamo pura e simplesmente esborrachar-vos.
Crianças, a Popota não é querida, é uma máquina de morte.
Crianças, a Popota mata.
Especialmente a ti, que estás aí parada em frente à mãe hipopótamo para lhe dar um abraço e pensas que estes quadrúpedes são lentos a movimentar-se em terra.
Quando deres por ti, já não terás mais prendas para pedir.
Os hipopótamos atingem velocidades consideráveis para o seu tamanho. Correm mais que qualquer criança humana. É claro que não usam saltos altos como a Popota, mas também não usam ténis Adidas.

A imagem da Popota é uma imagem de candura. O rap/ hip-hop surge como algo muito na moda, o que até é verdade, mas sempre sem nenhuma maldade associada. Na verdade, esse estilo musical nasceu nos bairros pobres e era a banda-sonora para a delinquência, o que também não está muito afastado da realidade. Tudo é belo no mundo literalmente cor-de-rosa da Popota, mas a realidade não é nada assim.
Mas ninguém se importa. Para os adultos, é tudo a brincar, estamos apenas a falar a língua das crianças. E estas também não se importam, porque não vêem hipopótamos na rua todos os dias e os rappers/ hip-hoppers que costumam ver por aí são os seus vizinhos que acabaram de sair de uma loja de roupa devidamente equipados com o traje “da moda”. E, além do mais, estamos no Natal, é dar às crianças o que elas querem, que é felicidade e prendas, ou melhor, a felicidade por intermédio de prendas (de preferência, no Modelo e com fins humanitários em vista). Não há caso. Aliás, há muito mais para nos preocuparmos para além da Popota.

Porém, a Popota é uma aberração. Uma hipopótama carinhosa que canta um rap de Natal? Ainda há-de chegar o dia em que vamos ter o tigre de Natal, o escorpião de Natal, o Luís Filipe Vieira de Natal, o Hitler de Natal e todos vão ser muito fofinhos quando dançarem o ritmo dos tops com o seu enxame de abelhas, o seu cardume de piranhas, o seu grupo de NN Boys e a sua Gestapo. Porque não?

Um dia destes pondero concentrar-me na concorrência Popota – Leopoldina. Para já, parece-me que a Leopoldina, que representa uma cegonha ou lá o que é, sendo, portanto, um animal inofensivo, está a ganhar terreno na faixa que vai até aos 6-7 anos. A partir daí até aos 12-13 anos, ganha a Popota, um animal claramente mais arrojado e mais modernaço. E dos 13 aos 19 ganham os Morangos com Açúcar e a Floribella na fase sem mamas de plástico, ou apenas a Floribella fase FHM para os rapazes com mais de 15 anos. Poderei investigar melhor estas preferências. Ou só a FHM, ainda estou indeciso.