sexta-feira, setembro 18, 2009

Bilderberg

Inglês rico #1 – Meus caros: como decerto se lembram, o ano passado decidimos as falências do Lehman Brothers e do sistema táctico do losango. O que é que vamos decidir este ano?
Americano rico #1 – Estamos à vontade?
Inglês rico #1 – Estamos completamente à vontade. Os jornalistas que eventualmente passarem o perímetro de segurança serão sumariamente executados. Este secretismo é essencial, já que estamos aqui para decidir o que fazer do mundo, porque nós… bem, nós somos o mundo.
Americano rico #1 – Mas mesmo à vontade? Ou seja, isto não vai ser gravado nem escrito em lado algum?
Balsemão – Está aqui o tipo do “Outra Louça”, mas isso só interessa aos brasileiros que andam à procura de fotos de gordas na Internet. E esses não percebem nada.
Inglês rico #1 – Estamos rigorosamente à vontade, como se pode avaliar pelo facto de eu estar descalço e a coçar as borbulhas do meu cu em plena mesa de reuniões. Diga lá, caro colega americano. Ups, esta tinha pus.
Americano rico #1 – Isso de estarmos mesmo à vontade tranquiliza-me. Porque senão falava da regulação financeira, da crise de valores no mundo ocidental, do papel da Europa do mundo e dessas miudezas. O que eu queria era falar sobre algo realmente polémico…
Alemão rico #1 – E que é?...
Americano rico #1 – Mamas. Quero falar sobre mamas.
Inglês rico #2 – Dear God!
Italiano mafioso #1 – Boa!
Francês rico #1 – Sacre bleu!
Balsemão – Eh, pá!...
Americano rico #2 – Desculpa, estava aqui a comprar umas armas ao Irão, o que é que disseste?
Americano rico #3 – Ele falou de mamas.
Americano rico #2 – Ah, eu gosto mais de homens suecos. Continuem sem mim.
Americano rico #1 – Mamas, meus caros. Temos que decidir algo.
Inglês rico #1 – Mas o quê?
Americano rico #1 – Temos de arranjar uma forma para as gajas mostrarem as mamas com mais frequência. Só gajas entre os 16 e os 45 anos, com menos de 70 quilos, mas podemos discutir detalhes…
Italiano mafioso #1 – Apoiado!
Americano rico #1 – Eu gostava de ver as mamas da tua mulher ao vivo, por exemplo. Mas acho difícil, ela anda muito resguardada. Daí esta ideia.
Francês rico #1 – Est-tu parlating avec moi? Sacre bleu!
Americano rico #1 – Sim, é mesmo contigo. Pá, eu não estou a falar em pagar às gajas para se despirem, isso é fácil e já gastei milhares de dólares e alguns espiões com isso. Estou a falar disto: elas mal nos vissem, tumba!, desapertavam logo os soutiens! Era uma espécie de continência. E nós ficávamos com a opção de as apertar, lamber, tirar fotografias ou qualquer coisa que nos apetecesse, na qualidade de gajos extremamente poderosos e inevitavelmente repelentes em termos físicos.
Alemão rico #1 – E poderíamos dar-lhes chapadas, cuspir-lhes e mijar-lhes em cima e essas coisas todas?
Americano rico #1 – Sim… pois… como preferires, Hans. Se é isso que fazem em Dresden, é lá contigo.
Alemão rico #1 – Wunderbar!
Americano rico #1 – Eu já não aguento ver gajas boas nas conferências e levar com o desprezo delas. E estou farto de gastar dinheiro com acompanhantes. Bolas, eu sou o gajo mais rico de todo o nordeste americano e as gajas nem sequer são capazes de me mostrar as mamas por respeito! Eu construí o hospital e pago aos médicos que lhes colocaram o silicone. Aquilo de alguma forma também é meu e mereço ver!
Suíço rico #1 – Eu gosto de todo o tipo de mamas, para dizer a verdade. Até de chocolate.
Inglês rico #2 – Eu gosto de mamas pequenas. Têm uma certa inocência infantil.
Alemão rico #2 – Eu gosto de mamalhões com grandes bicos, mesmo à laia de vaca leiteira.
Italiano mafioso #1 – Eu gosto de mamas assimétricas.
Americano rico #3 – Como assim?
Italiano mafioso #1 – Quando a mama direita é maior que a esquerda ou quando os bicos não ficam bem no centro daquela auréola que os envolve.
Americano rico #3 – Ah, está bem…
Italiano mafioso #1 – Aprecio os desequilíbrios, apenas isso.
Americano rico #1 – Vêem? Toda a gente gosta de mamas femininas…
Suíço rico #1 - … eu por acaso estava a falar de mamas de homens obesos, excitam-me como um raio. Por isso é que eu tenho 120 quilos e ando sempre com um espelho.
Americano rico #1 - … pois… Mas já pensaram bem? É como se fosse uma obrigação de usar burka, mas ao contrário.
Inglês rico #1 – No geral, até é uma ideia bastante válida. Mas parece-me que iria causar grande turbulência… e é levemente autoritária para o mundo livre. Além do mais, eu sou eunuco.
Francês rico #1 – Sacre bleu!
Inglês rico #1 – Sim, e sou feliz como um hermafrodita.
Americano rico #2 – Acho melhor discutirmos coisas a sério, como analisar exaustivamente as últimas declarações da Carolina Patrocínio. Isso das mamas é exagerado e resolve-se facilmente: quem é bom vê mamas, quem não é não vê (a não ser as rameiras na Internet).
Americano rico #1 – Bolas, mas nós somos ou não somos donos do mundo? Podemos ter o que queremos mesmo sendo uns zeros à esquerda em termos de charme!
Balsemão – Infelizmente, a mim já me custa chegar ao 18º buraco… deixemos as mamas para quem tem idade para isso.
Americano rico #1 – Pensem bem, meus caros: mamas à solta para todos! De graça! Sem petróleo nem favores políticos em troca! Nada! Ejaculações a torto e a direito!
Italiano mafioso #1 – Eu concordo. Mesmo que já só lá vá com Viagra.
Americano rico #1 – Mais alguém?
Alemão rico #1 – Tenho fome.
Alemão rico #2 – Vamos ao chucrute? Depois tenho aqui uma ideia para acabar com os terroristas que é genial: consiste em juntá-los a todos numa espécie de colónia de férias, gaseá-los e…
Russo mafioso #1 – Já foi feito.
Alemão rico #2 – Ah sim? Bom, vamos então à papinha?
Inglês rico #1 – Sim, sim, comamos. Se há coisa que pela qual o Bilderberg é conhecido é por arranjar panelinhas.
Americano rico #1 – Pensem nas mamas, meus senhores! Nós podemos ter as mamas todas do mundo na mão! Todas as vossas secretárias! Todas as vossas jornalistas!
Balsemão – Por acaso, a Fernanda Câncio tem um par do caraças…
Americano rico #1 – Vês? Vês? Não me queres apoiar nesta causa?
Balsemão – Já viste a minha pele? Estou a escamar-me até à morte, pareço um peixe ressequido ao sol. Isso já não é para mim.
Americano rico #1 – Goddamit!
Inglês rico #1 – O jantar está na mesa! Ponham lá os babetes antes de comerem a sopinha, está bem?

quarta-feira, setembro 16, 2009

Ainda Bem Que Não Fomos Nós

"Vítimas da queda da avioneta em Castro Verde não são portuguesas" - in "A Bola" online

Na verdade, podia morrer toda a gente do mundo num acidente qualquer, desde que não os portugueses. Esses não. Esses são demasiado bons, tremendamente válidos, estupidamente jovens e talentosos para morrerem tragicamente como os outros.
A comoção instala-se quando ocorre uma catástrofe. Não é por acaso; não é por sermos demasiado impressionáveis. Não: o pavor está em saber se há portugueses metidos ao barulho. Se houver, bom, é um desastre e peras, daqueles mesmo tramados. Se não, é um alívio; de repente, toda a sinistralidade inerente à hecatombe se dissipa; estamos perante mais uma banalidade, do género daquelas múltiplas calamidades naturais que dizimam milhares na China, na Indonésia ou na Guatemala. Coisas com as quais ninguém se preocupa e pelas quais passa com a indiferença típica do zapping.
Em qualquer acidente com vítimas, há os mortos esquecíveis, que são os mortos que nasceram fora deste rectângulo e das ilhas; e há os mortos insubstituíveis, que são os nossos. Todo o português morto em acidente é lamentado numa proporção incomensuravelmente superior ao morto que jaz ao lado e que seria, por hipótese, espanhol. Mesmo se o espanhol fosse um Prémio Nobel, por absurdo, e o português um serial-killer pedófilo e toxicodependente que roubava as caixas das igrejas. Ficamos sempre com pena do “nosso compadre lusitano”.
O português desaparecido em acidente desperta nos portugueses um sentimento de perda irrecuperável. Nasce com a morte dele a necessidade de serem escritas elegias fúnebres dramaticamente poéticas, de se depositarem flores coloridas no local da tragédia, de se fazer um minuto de silêncio em sua honra, de se acusarem todas as autoridades competentes e mais algumas por desleixo. Apenas por ter sido português. E se era português, então é porque nos era muito próximo e de alguma forma privámos com ele. Sim, porque todos acabamos por nos conhecer uns aos outros. Esta proximidade, tão frequentemente desprezada no quotidiano, é-nos devastadora na hora da desgraça.
Por norma, um português que morre num desastre morre com uma dignidade insuperável. E sempre em condições que roçam o heroísmo, pelo desafio inglório face à fatalidade. Os outros, geralmente, foram apenas incautos.
Um português morto num acidente tinha sempre qualquer coisa formidável para nos oferecer e foi apenas a inveja desse malvado destino que nos privou dessa coisa fantástica. Já um português morto de causas naturais merece apenas a atenção dos mais chegados. A tragédia que nos dá uma bruta estalada nas ventas, provocando-nos uma estupefacção que nos percorre toda a espinha, é a mesma que nos apressa a elevar o estatuto da vítima ao pedestal da imortalidade. Pelo menos durante uma semana. E esse pedestal será posteriormente revisitado por um programa qualquer da SIC, onde se vasculharão os familiares da vítima passados 10 anos.

“Acidente de viação vitima família de cinco pessoas"! Consternação! “Eram todos ciganos”. Ufa, pensei que era gente a sério; antes eles do que nós.
“Furacão violentíssimo fustiga barlavento algarvio"! Horror! “Só morreram ingleses”. Ah, então foi bem feito, os tipos não sabem apanhar sol e depois lixam-se.
“Vírus poderoso arrasa população da Amadora"! Pânico! “Só foram infectados os pretos”. Então caga nisso. São pretos, e, como todos sabemos, eles não são portugueses. Que se danem.
“Godzilla despacha bairro parisiense com grande colónia portuguesa"!
Emoção! “Afinal, os portugueses estavam a trabalhar e não foram afectados”. Ainda bem. O bichinho precisava de fazer estragos e em França já há tantas batalhas campais que mais uma nem se vai notar.
“Liedson apanha gripe A e está de baixa”! Bah, brasileiro do car***o… “Selecção Portuguesa a contas com mais uma dor de cabeça”. Eh pá, é verdade, o gajo já é português e tudo… isto é deveras lamentável. Só faltava o Obikwelu também apanhar poliomielite. Seria uma machadada fatal na nossa estima.

quinta-feira, setembro 10, 2009

Ficção Dura de Roer

O enredo das telenovelas portuguesas entrou por caminhos lynch
ianos. Ou, pelo menos, assim somos levados a crer pelas revistas da especialidade, que nos mimam com resumos de elevado requinte literário. Há demasiada tensão entre as personagens e as histórias paralelas acumulam-se, trocando pontos em comum de quando em vez. O que lá foi há três meses já não interessa para nada agora.
Agora há “mães” suspeitas, com direito a aspas e tudo, mantendo relações dúbias com os filhos. Guardas prisionais à solta em plena luz
do dia, metendo-se com as pessoas nos momentos mais impróprios. E, acima de tudo, tipos que juram ""continuar mortos"" – com aspas duplas, que é para realçar que é uma citação de uma citação.

Tal ideia suscitou o seguinte comentário de Matt Warhol, um sobrinho-neto obscuro do tio-avô Andy:


O certo é que a mãe não anda bem. Numa aparição pública, desata aos tiros, alegando inverdades. Até a polícia, que por acaso estava por ali, sentiu-se na obrigação de detê-la. A ver se o bicho acalmava.

Os ânimos continuam exaltados um pouco por todo o lado. Mesmo os habitualmente imperturbáveis médicos queimam o rastilho muito rápido. Num momento de maior ebulição e quando os nervos pulavam à vara pela flor da pele, um bananeiro acorre ao local e conquista a simpatia da profissional de saúde, neutralizando a bomba. Na próxima revista não perca a sequência: sexo no consultório dela, ela com bata branca e ele com a maior banana da sua colecção.

Por fim, eclesiásticos corruptos e agressivos, de mente tão suja quanto a cor da sua batina. Alguém viu o que não devia. Deus vê o que Diabo faz na sombra através dos espelhos instalados na alma de todos nós. Dólares e euros, punhos e pontapés. Morte aos chibos. A fuga em frente, a toda a velocidade contra o destino.

Será um encontro com a droga? Ah, a droga, a religião, o dinheiro, o poder, as chantagens e o martírio das ressacas. Ficção bem rasgadinha, fracturante, dramática, diabólica.
Foge, padre, se queres sobreviver.
Outros preferem continuar mortos.

E assim este mundo vai girando.

Apaixonei-me Por Um Monitor

Tinha ele 55 polegadas e eu a ternura da idade, fez clique e foi tão fácil, era impossível resistir ao seu chamamento, radiante ele se impunha naquele pedestal dourado, confortável com todos os seus pixels, dominando todas as suas ligações e entradas, deslumbrando com a riqueza do seu Motion Plus 100 Hz. E qual criança em êxtase corri para junto dos braços dele para sentir a força do seu poderio cromático, o 16 por 9 tantas vezes quantas ele quisesse, sugávamos o nosso mel em simultâneo e em silêncio, tantas vezes só nós, por nós, podia morrer feliz se o visse sempre a brilhar o LED Crystal Engine numa sala escura e só nós os dois, brincando com os dias, a lareira acesa, os maus todos lá fora e nós ali, partilhando a fruição das nossas vidas, acariciando os nossos corpos, trocando o calor que emergia de nós. Sim, apaixonei-me por um Samsung, dizem que os coreanos têm-na pequena, mas este é grande, um grande monitor LCD e eu nunca me senti assim, tão facilmente arrebatado, tudo nele é super, acho que é amor para sempre. Já não me consigo imaginar sem ele, aquelas coisas simples como chegar a casa e afagar o seu adorável comando remoto primeiro que tudo, não quero sequer saber o quanto a minha cama iria parecer grande sem ele no meu quarto, antes prefiro degustar a nossa companhia suavemente com todos os meus sentidos e deixar-me passear na doce sedentariedade em que ele me envolve. Assim mudou a minha vida. Pensar que estive todo este tempo sem ir ao site da Pixmania.