sábado, abril 25, 2009

Bigodes De Abril

Há os bigodes pujantes, como o do velho Artur Jorge. Há os bigodes reprimidos, como o do Hitler. E depois há o bigode do Vital Moreira.

O bigode do Vital Moreira não é bem um bigode. É um conjunto de pêlos brancos sob o nariz. Quase não se dá por ele. Ao início, até pensamos que o retrato está sujo. Mas não, aquilo é uma espécie de bigode. Um protótipo mal amanhado. Mais um forte incentivo à abstenção.
Se há alguma qualidade subjacente ao bigode do Vital Moreira, essa só pode ser a camuflagem. Nesse campo domina. O bigode do Vital Moreira, aliás, transmite na perfeição o perfil camaleónico do próprio Vital Moreira. Um ex-comunista europeu não merecia outro bigode.
Bigode a sério é outra coisa. Manuela Ferreira Leite mostra o caminho. É a voz da experiência. O seu bigode transpira confiança e sobriedade. Aquilo sim, é de homem.
Ah, que reconfortante é ver estas disputas do nosso querido centrão.

quinta-feira, abril 09, 2009

O Novo Cisma

Tem havido grande discussão na Igreja sobre a utilização do preservativo.
A maior parte dos sacerdotes está contra. A opinião geral é que eles querem sentir a pele do órgão e não estão para levar com intermediários de latex. “Nem pensar”, diz-nos um representante desta facção, “se é para levar na anilha, então levemos como deve ser”, confidencia-nos um feijão-frade anónimo. Perdão, apenas o frade. Esta fonte foi mais longe e disse “uma verga de um preto tem que ser apreciada em toda a sua plenitude; esse instrumento do mal a que se convencionou chamar «preservativo» retira o odor acre e o contacto pujante com a pele do mastro negro”.
A polémica numa das últimas jornadas de discussão incendiou-se quando um monge revelou-se a favor do uso do contraceptivo, mas não pela facilidade em evitar doenças sexualmente transmissíveis ou para evitar rebentos indesejados. Não. Ele gosta é dos sabores. “Desde que chupei um pau de framboesa não quero outra coisa” foi a frase-rastilho. A partir daqui, gritos e vozes iradas atravessaram o claustro, ora apoiando (“E havias de provar o novo de chocolate da Durex”), ora condenando semelhante afirmação (“E depois perdes o gostinho de sentir aquele jacto quente na tua cara, não?”)
Mesmo dentro da minoria que assume o seu celibato heterossexual não existe consenso. Se alguns se proclamam os donos de pequenas aldeias no interior e estão contra o pedaço de plástico (“Sou pai de 60% desta aldeia e as mulheres sabem que podem contar comigo para lavar-lhes o útero com o meu esperma que elas pensam que é leite Mimosa sagrado. Preservativo não, não é natural e faz-me perder o motivo para saltar-lhes para cima”), outros não assumem a sua produtividade sexual mas entendem que as práticas defendidas pela Igreja – e os orifícios em geral – devem abrir-se mais (“Eu só permito que me façam sexo oral no confessionário. Sexo a sério apenas atrás do altar. E sempre seguro, que eu não quero cá confusões com adolescentes prenhas. Sim, devíamos usar todos preservativos e derramar o esperma na cara dessas beatas porcas”). Apesar de todo este debate ter gerado muita excitação e algumas saídas discretas – geralmente em grupo – para aliviar tensões, os sacerdotes estão muito longe de chegar a acordo sobre esta questão essencial para o futuro do país e, sobretudo, para a intensa actividade sexual deles mesmos.
Por tudo isto, está em vias de se gerar o novo Cisma – deixar a pixa rolar livremente ou não, eis a questão.
Para já, estão marcados dois fóruns distintos onde se prometem extremar posições: do lado dos proibicionistas, a discussão vai incidir sobre a necessidade de aumentar a taxa de natalidade, para assim haver maior probabilidade de aumentar igualmente o número de devotos. Também existirão colóquios específicos sobre a diabolização de todas as práticas sexuais que não se proporcionem com o contacto directo entre dois corpos, com especial destaque para a masturbação e a utilização de dildos (“Irmão, diz não ao prazer da tua mão” é o mote da apresentação).
Do lado, digamos, liberal, conta-se com a presença da sexóloga Marta Crawford, que irá debruçar-se sobre a lubrificação correcta dos preservativos. Sabe-se que Marta é defensora de lubrificantes apenas à base de água, pois outros tipos de lubrificante poderão condicionar a eficácia do contraceptivo. Os sacerdotes irão pegar nesta deixa e incentivar à lubrificação com recurso à água benta, que não só permite manter intactas as qualidades do preservativo como o purifica totalmente. Está ainda por apurar se depois os sacerdotes pegarão na própria Marta Crawford para uma demonstração prática, algo que certos elementos não desdenhariam, embora muitos preferissem a Dra. Ruth ou o David Beckham. Marta Crawford admite negociar essa questão se lhe for reservado um lugar condigno no céu. E um colchão confortável na sacristia.

sexta-feira, abril 03, 2009

Neutrão

Eu tinha coisas para fazer. Tinha de me mexer rápido. E quanto mais tensa era a pressão do momento, maior a tentação de abrandar o passo. Ir contra o esperado. Formar conjuntos unitários isolados. Sem ligação à terra. Observar electrões acelerados numa travagem brusca. Personalizar o conceito de desconexão. A rede tem tantas ramificações que no fundo acaba por se tornar um grande buraco sem fundo. Precisava de me reabsorver. Estabelecer ligações para qualquer coisa. Fazer-me mal e convencer-me de que isso podia ser bom. Fazer-me bem e ficar deprimido por tal. Mostrar que tinha qualquer coisa que não tenho. Sentir-me injusto comigo mesmo. Eu precisava de me concentrar no essencial. Mas o acessório era muito bonito. Cedia às tentações sem cedências. Eu tinha de falar como se sentisse o que não sinto. Se é que sinto alguma coisa. Queria ser anestesiado desta anestesia e viver numa progressão de opiácios até ser um ser de éter. Mas isto já não era para mim. Há quem tenha de sonhar mas eu só tinha de dormir o estritamente necessário. Tenho as costas marcadas e pouco espaçosas. Não me podia permitir. Havia um prazo que apertava os pescoços da gente. Havia ordens que ninguém sabia ao certo quem dera mas que todos faziam por cumprir. Todos estavam com os corpos colados ao dever. Todos estavam reféns de entidades abstractas. Ouvi dizer que Deus estava a falar na rádio. Mas afinal era apenas dEUS. Fiquei a ouvir, a azáfama continuava ao meu lado e eu como se nada fosse comigo.