domingo, agosto 23, 2009

No Consultório Aguardando Pela Chamada

1ª revista:
2ª revista:




3ª revista:

4ª revista:

A 5ª revista era dedicada ao crochet. Não fui capaz de ir tão longe.

sexta-feira, agosto 14, 2009

Tudo Pelos Bebés

[Câmaras a postos, flashes incessantes, microfones espalhados em cima da tribuna, onde se vêem vários artigos dos patrocinadores expostos – Bebécar, Chicco, Playmobil e Durex, entre outros, bem como um dildo em forma de urso de peluche; algum burburinho; assessor sai detrás da cortina e senta-se na cadeira mais à direita; faz um compasso de espera e um esquadro de expectativa até que começa a falar]
- Meus senhores, quero apresentar-vos em primeira mão o novo CEO da Baby TV, Carlos Cruz.
[Burburinho cresce, flashes intensificam-se, Carlos Cruz surge detrás da cortina com um boné do seu patrocinador oficial, a vaselina Tóquentrar, aperta o cordão do roupão, ajeita a gravata e senta-se na cadeira central]
- Boa tarde a todos. Chamo-me Carlos Cruz e estou aqui na qualidade de novo CEO da Baby TV. Antes de começar a responder às vossas questões, quero afirmar que estou aqui nesta posição com todo o prazer. Tenho mesmo muito prazer em poder abraçar esta tarefa de reorganizar o conteúdo programático deste canal que me merece todo o respeito e pelo qual nutro especial simpatia. Procurarei encontrar formas mais excitantes de fazer televisão, como aliás me foi solicitado pelo corpo [pausa para beber um pouco de Capri-Sonne] de accionistas. Feitas as primeiras considerações, estou então disponível para responder às vossas perguntas.
[Algumas perguntas ao mesmo tempo, cotovelos no ar, microfones agitados; alguém fala mais alto]
- Podemos esperar mudanças na programação psicadélica nocturna da Baby TV?
- Não queria falar de temas em concreto para já, mas posso adiantar que será improvável alguma alteração nesse capítulo, porque a equipa de hippies que realiza esses clips sob efeitos de LSD, haxixe e heroína vai ser a mesma. Em equipa que se droga não se mexe. Até porque eles são extremamente nojentos e não há ninguém verdadeiramente corajoso para ir lá reclamar com eles. E as crianças gostam, é o mais importante.
- Quais os principais desafios que tem pela frente?
- Tenho ali um miúdo de três anos que se está a fazer difícil e acho que vou ter que comprar mais um chupa para fazê-lo subir até ao meu quarto, embora eu…
- Eu referi-me aos desafios no sentido profissional e não no sentido pessoal…
- Ah, bom, está bem. Como sabe, os bebés são um público extremamente exigente e se não damos o que eles querem eles partem a televisão. Ou pelo menos, partem o comando, o que vai dar quase ao mesmo. Posso adiantar o seguinte: vamos apostar fortemente no amarelo, que estava um pouco desprezado, e em patinhos a nadar de rabinho para ar, pode ser que consigamos influenciar os comportamentos.
O nosso grande objectivo é retirar prazer daquilo que fazemos. E ultrapassar o share do jornal da TVI quando falam da Casa Pia. Mas, sobretudo, divertirmo-nos.
- Vamos poder contar com o Avô Cantigas a cantar em directo ou vai ser apenas um playback?
- Depois do lamentável incidente da gala Baby TV do último Natal [quando uma animação digital corrompida do Avô Cantigas foi para o ar indevidamente, mostrando o Avô Cantigas a negociar com duas prostitutas romenas no seu Audi A4 em Alcabideche, ao minuto 1:45 da peça], a partir de agora o Avô Cantigas deverá cantar apenas em directo, mas isso é algo que ainda estamos a discutir e que terá que ser aprovado em assembleia-geral. Sei que o administrador da área das Histórias da Carochinha, o Padre Frederico, está reticente quanto a esta opção [o assessor inclina a cabeça e sussurra umas palavras ao sr. Cruz]… perdão, eu queria dizer Pedro Frederico, está reticente, mas isso vai ser discutido, e outro administrador nosso para os Crimes e Animações Violentas, o Marc Dutroux [o assessor volta a sussurrar umas palavras ao sr. Cruz]… perdão, é o irmão dele, o Tintin Dutroux… desculpem, ainda sou novo por aqui, esta é a primeira vez e custa-me um bocado acertar [engole em seco, embaraçado] nos nomes das pessoas… para finalizar, tudo se vai compor.
- É agora que a Baby TV vai ensinar a fazer operações algébricas e a formar palavras como “pai”, “mãe”, “tio” e “ejaculação precoce”?
- Queremos apostar na literacia infantil, é um facto. Mas, por favor, não quero debruçar-me sobre temas polémicos para já. Sobre números não me pronuncio.
- Muitos circuitos dão como certa a contratação do Popas da Rua Sésamo para reforçar o ataque da Baby TV. Pode confirmar?
- O Popas consegue atrair muito as crianças e isso apraz-nos. Gostaríamos de atrair o maior número de crianças possível e, por isso, não nego que o Popas está nas nossas cogitações. Paralelamente, gostaríamos de contar com o Ferrão, que é muito bom para obrigar as crianças a despirem-se [engasga-se] de inibições, com a sua voz rouca e levemente ameaçadora. Popas para atrair e Ferrão para despir é um sonho nosso. Vamos ver. A Rua Sésamo não quer perder estes valores seguros, depois de ter perdido a Alexandra Lencastre para as novelas da TVI, onde ela revelou um fantástico par de seios que não havia sido suficientemente desenvolvido durante a sua estadia na Rua Sésamo. A Rua Sésamo agora quererá pensar bem duas vezes antes de libertar os seus activos.
- Qual a sua filosofia para a Baby TV?
- Muito amor, muito contacto directo com as crianças e, acima de tudo, muita honestidade na relação com as crianças: se não quiserem fazer festinhas, vão para a cama sem papinha. Vamos ser directos. Não vamos esconder a realidade das crianças. Elas têm que saber que mandar um cubo à cabeça de outra pessoa aleija, que as ovelhinhas fofinhas têm pedaços de merda agarrados na lã adjacente ao ânus delas e que aquilo não é chocolate e que “a grande bisnaga” do papá também dá leite, embora não tão doce.
- É certo que vai receber uma quantia exorbitante por este cargo?
- Olhe, eu já desconfiava que surgissem perguntas mal-intencionadas e por isso dou por terminada esta conversa. Lamentavelmente, há muita gente invejosa dos 2.500.000 € que um humilde CEO pode arrecadar num ano só por andar em almoçaradas com elementos ligados à Justiça. Por isso, despeço-me com estima e consideração por todos aqueles que me apoiam e apenas prometo uma coisa: muito pensamento no trabalho.
[Há insistências, atropelos entre fotógrafos, mas Carlos Cruz e o assessor saem de cena, torneiam a multidão e seguem directos para o sua viatura estacionada fora das instalações da Baby TV, onde um motorista lhes abre a porta. Partem a boa velocidade dali para fora, protegidos pelos vidros fumados. Carlos Cruz quer saber o que o assessor achou da sua apresentação]

- Correu bem, não correu?
- Definitivamente, senhor.
- Quer dizer… as pessoas ficaram esclarecidas, não ficaram?
- Certamente.
- E descansadas também, não acha?
- Totalmente de acordo, senhor.

- Acha que…

- Acha que eles… ficaram de certa forma intrigados por eu também me chamar Carlos Cruz?
- De todo, senhor. O público é inteligente.
- Acha que sim?
- Claro, senhor.
- Quer dizer que… quer dizer que para eles ficou totalmente claro que eu não sou o… outro… Carlos Cruz, você percebe aonde quero chegar, não percebe?
- Evidente.
- O público notou isso, não notou? Isto é, não vai pensar que eu vou para a Baby TV fazer as… “coisas”… “desse”… Carlos Cruz para lá, não é? Iria parecer… como dizer?, desajustado, não é? Eles compreenderam isso, não acha?
- Sem sombra de dúvidas, senhor.
- Sem sombra de dúvidas?
- Sem qualquer margem de erro. O senhor foi tremendamente elucidativo.
- Ainda bem, ainda bem. Se havia programa que eu detestava era o “1,2,3”.

terça-feira, agosto 11, 2009

Apenas F

Parece que não vens jantar. E desta vez até tinha preparado um molho de natas e cogumelos. Prometi que sabia fazer algo mais que fritar ultracongelados. Está visto que me enganei no timing. Assim fico sozinho e com um espírito semelhante aos últimos álbuns do Radiohead. Ou seja, muita produção e muito hype para nada, um estado de alma levemente zarolho e completamente amorfo enquanto olho para a televisão sem conseguir ver quase nada. Sou um homem sozinho, com todas as consequências parvas que daí advêm. Na MTV ensina-se a ser-se gay, pois isto da heterossexualidade é do mais careta que pode haver.
- É engraçado – disseste tu.
E não te referiste ao molho, mas sim à televisão. Eu quis acreditar que era em relação ao molho, mas naquela altura o molho já era uma espécie de água branca e fria onde boiavam cogumelos laminados e deslavados. Ninguém pode dizer que aquilo é engraçado. Mas há muita gente que acha graça aos ténis do Seinfeld e que pensa que o Markl inventou a roda da comédia, pelo que havia uma hipótese, remota, do cogumelo ferido na sua dignidade comestível ser realmente divertido. Mas não. Aquele cogumelo estava morto.
Embora ninguém diga mal de quem acabou de morrer, é verdade que nem eu consegui elogiar aquele molho. Quem morreu passou definitivamente desta para melhor, porque vai ser alvo dos mais variados elogios e na altura da morte todos os defeitos se evaporam com a alma que vai para o céu. Agora percebo essa expressão de “ir desta para melhor” e a glória de quem morre. Que no fundo é a mesma glória de quem é vivo, mas sem aquela característica tão particular de quem está morto, que é ficar quietinho e frio à espera que alguém se lembre de limpar a campa de quando em vez e encharcar o chão fofo do cemitério com lágrimas e odes lamechas. Morrer é fixe. Viver sim, é difícil e pouco gratificante.
Senti isto quando marquei aquele golo espectacular à meia-volta. Fui a correr até à linha lateral e procurei por ti nas bancadas. Depois beijei o anel e apontei na tua direcção. “Este é para ti”. Se eu estivesse morto, seria um delírio, um choro imenso, uma recordação passada em câmara lenta. Infelizmente, ainda estava vivo. Não vi grande festa. As costumeiras palmadinhas nas costas, as palmas de sempre, mas nada por aí além. Eu posso jurar que foi o golo do século, mas tu apenas a custo arrancaste um sorriso, preferindo a companhia inestimável do telemóvel. Julgo que os teus polegares já estão oponíveis a tempo inteiro, tal é o ritmo frenético com que te dedicas a mandar mensagens, a jogar paciência e a experimentar toques. Tens quatro telemóveis e levaste-os a todos para o jogo. E não foi para tirar uma fotografia ao melhor golo de sempre. Nem sequer ao marcador do melhor golo de sempre. Foi apenas para os telemóveis apanharem um bocado de ar e desentorpecerem os botões como se fossem uma matilha de animais de estimação à rasca para urinar contra um poste. Não compraste queijadas de Sintra e ficaste sentada a digitar depois do jogo ter acabado, até seres expulsa pelo próprio vendedor de queijadas, que já não podia ouvir o som irritante dos teus avisos de recepção.
- Acho que estou doente – disseste tu, e eu achei que isso era muito natural, porque já estava um cheiro nauseabundo na cozinha devido ao teu laxismo na arrumação da louça suja e alguma bactéria deve ter-te provocado uma infecção. Fiquei com pena, fiquei consternado. Não parecia ser a Gripe A, que até é uma doença porreira, por afectar também o Cristiano Ronaldo e obrigar as pessoas a lavar as mãos como se lavar as mãos fosse uma necessidade vital apenas descoberta recentemente. Parecia ser daquelas doenças degenerativas, em que a cara nunca fica a mesma, os olhos parecem cada vez mais miseráveis e os movimentos tornam-se arrastados, desastrados, desconexos. Mas não havia nada que eu pudesse fazer, apenas acreditar na ciência, nos santos, nalgum clique curativo instantâneo. Eu sempre fui mais do estilo “contem comigo para a festa mas já sabem que não tenho dinheiro para pagar a conta dos estragos”. E então convidei-te para o cinema.
- Não tenho vontade.
Podíamos ir a casa dos nossos amigos que têm óptimas fotografias para mostrar da sua viagem a Cuba.
- Não gosto de ver as viagens dos outros.
Então e se fossemos foder como se não houvesse amanhã, sabendo que não há muitos mais amanhãs por aqui?
- Poupa-me.
Poupada andavas tu. Em termos de sexo, bem entendido, que no resto nem por isso. Passavas dias sem me dirigir a palavra embora te tenhas tornado a melhor amiga do meu cartão de crédito. Esse galã desejadíssimo já conhecia quase todas as máquinas das redondezas, era um objecto promíscuo que dava a sua banda magnética a ler fizesse frio ou calor, que aconchegava o seu chip aqui e ali, ao sol ou à chuva, sem nunca parecer cansado. Ele era roupas e jantares, gasolina e presentinhos, um daqueles dias em que apareceste noite dentro, porque fazias “tratamento específico em horário pós-laboral” quis fazer as contas totais mas parei a meio, por falta de coragem, por cansaço, porque aquela conta estava a definhar a olhos vistos. Tinhas contaminado a minha carteira com a tua doença. O que quer que ela fosse.
Mas um dia cheguei a casa mais cedo e assustei-me quando dei por ti já na cama. Não era por ti. Só não esperava encontrar a Stefany junto contigo. Entre um misto de vergonha e estupefacção tu não conseguiste dizer que não. E eu, que julgava que ter duas mulheres juntas na minha cama seria o auge sexual da minha vida, não consegui encontrar motivos para sorrir. Todos aqueles sonhos em que elas se comiam uma à outra e depois a mim, num jogo incessante de troca de saliva e de posições kamasutrenses, caíram por terra como um pénis com o inverso do Viagra em cima. Foi como ver a minha septuagenária e flácida tia não depilada a abrir as suas pernas carregadas de varizes num matadouro. Não foi engraçado. Elas não me queriam ali. A Stefany foi-se embora como um bom homem deve ir: de cabeça erguida, olhando-me com a petulância possível num caso em que a casa era minha, a cama era minha, a mulher era minha, ainda e pelo menos em termos oficiais, mas era como se eu fosse o estranho por ali. O facto de eu estar bem parecia uma afronta enorme para ti e para ela. Tu acendeste o cigarro e ficaste ali na cama, tal e qual como um homem depois do trabalho feito. Se vocês chegaram a acabar o trabalho, não sei, desconfio que não.
Mas agora tudo ficou mais claro: percebo a mudança no teu guarda-roupa, pois ao saíres tu própria do armário atiraste para fora do mesmo armário os vestidos pomposos com os quais já não te identificavas, consigo compreender as razões porque consideravas o Miguel Vale de Almeida um intelectual com pés e (muitas) cabeça(s), porque é que achavas o Denim melhor que qualquer Calvin Klein for women e porque, enfim, fui encornado mansamente este tempo todo sem nunca ter desconfiado de todas as tuas justificações para o teu desinteresse galopante. Na verdade, não se tratava de outro homem, o que seria quiçá mais enervante, mas mais facilmente resolúvel. Era apenas uma wannabe de homem, o que podia fazer? Descer ao mesmo nível? Elevar-me para outro patamar? E agora? Pensei em apresentar queixa à Autoridade da Concorrência, mas depois pensei que nada podia fazer contra duas vaginas em fricção que nada desejam de um pénis honesto como o meu. E esse pénis permanece convicto, apesar de tudo. Ele há-de resistir. Isto é tipo um fogo incontrolável na floresta em que os bombeiros apenas tentam salvar as casas – o resto, leia-se, o corpo feminino, é bonito e dá saúde, mas não havia nada a fazer neste caso. É deixá-las roçar.
E percebi finalmente que o cabelo que aparaste curto não se devia à quimioterapia. Eras apenas fufa.

quinta-feira, agosto 06, 2009

Repórter Punk-Estrábico

- Sou gay e sinto-me discriminado.
- Tu sentes-te discriminado? Bah, vai-te lixar! Devias ter as pulgas do meu cão vadio a jantar o teu rêgo para saberes o que é a discriminação!
- Ei! Um repórter não pode falar assim com os entrevistados!
- Eu é que sei, ‘tás a ouvir, ó florzinha? Porcaria de rabetas que me sairam estas andorinhas!...
- O que disse?
- Pá, o que eu disse não é para aqui chamado! Acabaram-se as perguntas!
- Mas… você só perguntou “Quem és tu e o que tens para me contar?”… e, ainda por cima, nuns moldes que considero altamente grosseiros…
- Eh pá, já te calavas um bocado, não?
- Então… mas… mas eu sou o entrevistado! Devia falar!
- Que se f**a a entrevista!
- Não eram essas as regras…
- Regras?! Ahahahahah!!! Comigo não há regras! Eu desprezo regras! Comigo é tudo a partir!
- Mas.. não há nem sequer uma pergunta que me permita exprimir de forma manipuladora o ponto de vista da imensa minoria que represento?
- Bah! Minoria sou eu! Isto já acabou! Agora quero uma cerveja.
- Acabou? Mas nem sequer começou!... Que raio de repórter é você?
- Eu não sou repórter.
- Então?
- Eu não sou nada.
- Nada?
- Pronto… toco bateria.
- É baterista, portanto?
- Eh pá… não, eu não disse isso. Toco bateria mas não sou baterista. Eu não suporto rótulos.
- Mas isso não é nenhum rótulo… é apenas uma…
- Se eu disse que não é porque é não mesmo! O que vocês dizem não significa nada para mim!
- Está bem, pronto!
- O que é que está bem? Nada está bem, ouviste?! Só se fores tu com as tuas manias do mundo a cor-de-rosa, arco-íris e paneleirices do género. Para vocês é que está tudo bem. Mas a mim… a sociedade oprime-me sem piedade. Vendido!
- Vendido, eu? Eu sou a face mais visível da contra-cultura!
- Só se for o cu mais visível da contra-cultura… eheheheh!
- Biltre!
- Chama-me o que quiseres… não me atinges. E sim, és um vendido! Eu é que sou a verdadeira resistência às regras asfixiantes desta sociedade repressiva.
- Como assim?
- Estás a ver este prego ferrugento que espetei no lábio? 10 euros na loja punk de Alfama. E estás a ver esta corrente de cinco quilos que trago agarrada às calças de ganga rasgadas e bem apertadas? Custou-me 15 euros na feira.
- E então?
- Eu esforço-me para manter um aspecto ousado e com isso estou a demonstrar a minha repulsa pelas convicções enraizadas. E nem te falei do gel colorido que usei para espetar o meu cabelo que é para não te assustar, tu que és sensível e essas coisas…
- Esforçar? Pagaste para ter esse aspecto! Pagaste ao sistema capitalista para supostamente teres uma imagem rebelde!
- Bah!, tu nem sequer eras capaz de pagar 25 euros para comprar um vibrador! E não paguei ao sistema, paguei à Mariline, que é uma tipa que tem umas botas biqueira de aço espectaculares… mas que fique claro que não gosto dela, porque eu não aprecio pessoas em geral.
- E onde é que arranjaste esse dinheiro? Trabalhaste?
- Pfui, eu nunca trabalhei nem hei-de trabalhar. Arranjei o dinheiro da única forma honrada que um punk pode arranjar: roubei a minha avó.
- Roubaste? Isso é digno?
- Então não? Temos de roubar quem nos explora sistematicamente! E a minha avó é uma porca exploradora que nunca foi capaz de me oferecer o álbum dos Exploited.
- Coitada da senhora…
- Coitada? Ela encarna o mal da sociedade! Como eu odeio esta sociedade e as suas promoções que nunca chegam aos 100%...
- Promoções?
- Sim! Como é que eu vou vestido para o próximo concerto dos Tara Perdida? Os preços dos produtos oficiais são um roubo! O que até acho bem, mas… não me roubem a mim, que sou espezinhado por esta sociedade sem valores! E não queres que eu leve a t-shirt rasgada dos Green Day, pois não?
- Por estar rasgada?
- Ahahahah!! És mesmo larilas!... Essa parte de estar rasgada até é altamente, mostra desprendimento e inconformismo… o pior é que os Green Day são uns vendidos. Só vêem dinheiro à frente. Pulhas! Já não há ninguém com espírito de afronta no mundo. Só eu e a Mariline.
- Estás mesmo apanhado por ela… eu sei o que isso é: quando vi o Cláudio Ramos a passar por mim fiquei hipnotizado pelo seu olhar penetrante… ihihihih…
- Eu não sei o que isso é! Eu não gosto de nada! A não ser destruição, anarquia e cerveja grátis na compra de um alfinete para as orelhas. Por falar nisso, onde está a cerveja?
- Eu não bebo álcool, engorda e depois fico barrigudo e o Cláudio Ramos já não olha para mim.
- Paneleiro do caraças! Estou a perder tempo contigo! Anda, cão, acabemos com esta porcaria de post e vamos mas é desafiar uma figura de autoridade!
- “Cão”? Bolas, o pobre animal nem sequer tem nome…
- Pobre? Tomara tu teres uma décima do espírito contestatário da carraça mais conformista dele!... Pfui, este cão caga em cima da tua paneleirice e dos teus valores conservadores!
- Eu não sou conservador!
- Pois, e eu acho que o Sid Vicious está vivo… cai na real, pá! És do mais irritante que há com essa merda do casamento para larilas, do quereres formar um lar e adoptar putos!... Coisa mais conservadora não há! Destrói qualquer coisa para te fazeres valer! Insulta o governo! Escreve ofensas num blogue! Rouba artigos punk de marca nas lojas da especialidade! Isso sim, é não ser conservador!
- Pronto… vou contar as minhas agruras a um repórter a sério, que assim não vale a pena continuar…
- É isso, é isso! É esse o espírito: “não vale a pena”! Não vale a pena fazeres nada, não há futuro nesta sociedade! Tudo o que te resta é destruíres o que eles fazem! Só assim sentirás a liberdade suprema! Olha para mim… Vou partir a montra daquela loja, símbolo do domínio capitalista… e vou sentir-me orgulhoso ao desempenhar este papel de contestação!
- Manda lá a pedra, então…

CRASH!

- E agora, punk? A polícia estava logo ali!
- Foi ele, sr. guarda! Foi este paneleiro que partiu a montra! Eu vi tudo! Estava aqui a passear o meu cãozinho e este maricas veio lançado com um calhau na mão e fez esse estrago todo! Prenda-o, sr. guarda, prenda-o já!
- Mas eu… eu não… Ei! Largue-me, seu bruto!
- Eheheh! Eu estarei sempre por aqui, imparável, com a revolta pronta a estalar! Anda cão, vamos ver se
encontramos mais uns pins para colocar no meu blusão de ganga da Levi’s.

segunda-feira, agosto 03, 2009

Curtinhas do Verão

O Val Kilmer é mais parecido com o Jim Morrison que o próprio Jim Morrison.
Por estranho que pareça, aquilo por cima da boca da Maya não é um ferrão.
Se ninguém admite gostar dos Nickelback, por que razão é que eles continuam a ter tanto airplay?
A Maya levou duas ferroadas no peito. O nariz foi sempre assim.
Estava tudo a correr às mil maravilhas entre a Elsa Raposo e o seu 26º namorado deste mês até aparecer o tratador e acabar com tudo.
Está confirmado: os Depeche Mode vêm a Portugal cancelar o concerto de 14 de Novembro. Motivo: o David Gahan vai intoxicar-se a olhar para o cabelo (?) do Diogo Feyo.
A Maya e a Elsa Raposo gostam muito de Algés. Porque Dafundo.