quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Nu Bar

Só eu e o meu copo. Atento ao desfile de corpos. Preso ao balcão pelo fumo que sai de todo o lado. A ver se se vê alguém. A ver se se fala com alguém. Tomo lugar nas romarias pós-modernas às discotecas e bares. Actualizo o catálogo dos contactos a reter. Atiro o guarda-roupa para o topo da minha pirâmide de Maslow. A minha agenda é a tua agenda. Não tenho agenda. Tenho vontade de ir ao sabor do vento. Às vezes dei com a cabeça no muro. Agora volto a dar com a cabeça no muro. Não sei quem coloca lá o muro. A cabeça ferida e calejada já nem sente muito. Apenas espero que venha alguém. Analiso movimentos de anca na pista baça. Não sei o que eles significam para elas. Sei o que isso significa para mim. Penso que estou velho. Penso que tudo ao meu lado é demasiado novo. Julgo que não vou a mais lado nenhum. E depois acho que ainda poderei ir. Se houver tempo. Se tiver sorte. Se encontrar a porta de saída. Se acertar com a urina dentro da sanita. Tento gerir as minhas náuseas pré-nupciais. Aborreço-me. Volto para fora e regresso para dentro. Procuro ceder à desistência, mesmo crendo que não estou a encontrar a solução. Que se lixe a solução, irei reconfortar-me com a insignificância. Inalo o cheiro de fêmeas com o cio. Tiro uma fotografia mental dum nu integral e virtual. Ponho-me a magicar. Brinco com os desígnios da perfeição. Pode ser que elas sejam mais lúgubres que eu. Mas pode ser que não. É certo que não. Eles haveriam de saber se fosse sim. Preciso de mais um copo para acicatar a imaginação. Mais uma noite por aí. Menos sono ganho. Mais suor perdido. Ouço o ruído que cresce à volta sem distinguir nada de especial. Tens tabaco? Tens tempo para gastar comigo? Não te dás nada por ti próprio? Óptimo. Levaremos a nossa vida à ruína. Eu e quem me conseguir agarrar.

1 comentário:

. disse...

Para quando o próximo? Agora que já somos habitués do googleé que escreves pouco? Nem um albúm, nada?

Fica bem