quinta-feira, setembro 10, 2009

Ficção Dura de Roer

O enredo das telenovelas portuguesas entrou por caminhos lynch
ianos. Ou, pelo menos, assim somos levados a crer pelas revistas da especialidade, que nos mimam com resumos de elevado requinte literário. Há demasiada tensão entre as personagens e as histórias paralelas acumulam-se, trocando pontos em comum de quando em vez. O que lá foi há três meses já não interessa para nada agora.
Agora há “mães” suspeitas, com direito a aspas e tudo, mantendo relações dúbias com os filhos. Guardas prisionais à solta em plena luz
do dia, metendo-se com as pessoas nos momentos mais impróprios. E, acima de tudo, tipos que juram ""continuar mortos"" – com aspas duplas, que é para realçar que é uma citação de uma citação.

Tal ideia suscitou o seguinte comentário de Matt Warhol, um sobrinho-neto obscuro do tio-avô Andy:


O certo é que a mãe não anda bem. Numa aparição pública, desata aos tiros, alegando inverdades. Até a polícia, que por acaso estava por ali, sentiu-se na obrigação de detê-la. A ver se o bicho acalmava.

Os ânimos continuam exaltados um pouco por todo o lado. Mesmo os habitualmente imperturbáveis médicos queimam o rastilho muito rápido. Num momento de maior ebulição e quando os nervos pulavam à vara pela flor da pele, um bananeiro acorre ao local e conquista a simpatia da profissional de saúde, neutralizando a bomba. Na próxima revista não perca a sequência: sexo no consultório dela, ela com bata branca e ele com a maior banana da sua colecção.

Por fim, eclesiásticos corruptos e agressivos, de mente tão suja quanto a cor da sua batina. Alguém viu o que não devia. Deus vê o que Diabo faz na sombra através dos espelhos instalados na alma de todos nós. Dólares e euros, punhos e pontapés. Morte aos chibos. A fuga em frente, a toda a velocidade contra o destino.

Será um encontro com a droga? Ah, a droga, a religião, o dinheiro, o poder, as chantagens e o martírio das ressacas. Ficção bem rasgadinha, fracturante, dramática, diabólica.
Foge, padre, se queres sobreviver.
Outros preferem continuar mortos.

E assim este mundo vai girando.

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