quinta-feira, dezembro 18, 2008

Gente Comum


A gente comum não vai a lado nenhum.
A gente incomum diz que não lhes conhece de lado algum.
A gente comum é muito mais que um conjunto de anónimos da classe média, é toda uma sociedade anestesiada.
E a classe média nem sequer é mediana, é medíocre.
Troca de carro e muda de telemóvel mas a merda é insubstituível.
Quer ser ajudada e nunca ajudar, quer sacrifícios sem dor e ganhos espontâneos.
A classe média caminha a passos largos para a sua extinção.
E julga-se feliz porque pensa que está a evoluir para uma classe superior, mas está a afundar-se nas areias movediças dos interesses que a manipulam.
A gente comum pensa que é o suporte moral da sociedade.
Mas é apenas um repositório de invejas e gabarolices.
É apenas gente que quer comprar especialmente o que não se vende.
Eles não sentem a crise. Eles são a crise.
Continuam a ladrar para a caravana que os explora.
Gostam do espectáculo mórbido que é a sua própria aniquilação.
Fazem número e enchem espaço.
Agitam bandeiras e preenchem cruzinhas.
Vendem a alma por um plasma.
Desenham esquemas para sacar subsídios.
Estacionam o automóvel em lugares reservados.
Acham engraçado o cão defecar no quintal do vizinho.
Plantam couves no meio da capital.
Atribuem as culpas a entidades fictícias.
Vestem um fato para serem doutores.
Têm soluções que só colocam mais problemas.
Divertem-se a destruir as iniciativas dos outros.
A gente comum faz com que a gente reles seja algo a ter em conta.
A gente comum não percebe que está a rir-se ao espelho.
A gente comum não percebe alguma coisa de muitas coisas.
A gente comum tem demasiados olhos para uma barriga tão mirrada.
A gente comum queixa-se por tudo e por nada.
Bem o merecem.

Sem comentários: