segunda-feira, setembro 18, 2006

Amar-te Até Terça-Feira


- Eu amo-te mais do que tu me amas!
- Isso é que era bom! Eu é que te amo mais do que ninguém! Tu só me amas desde Segunda-Feira…
- Ai, queres ver!... Desde Segunda-Feira… Queres ver que esta gaja me ama mais do que eu a ela… Eu é que te amo, pá! E desde muito antes de Segunda-Feira!
- Ahah, não me faças rir! Mostra lá o teu amor…
- Olha que eu mostro! Olha que eu mostro!

Euclides sentiu a ameaça de Bernarda como um golpe profundo no seu coração. Está bem, eles eram apenas actores, representando os seus papéis numa novela. Mas o produtor tinha sido muito explícito: “Quero ver muito amor nesta novela! Vai ser a novela com mais amor alguma vez vista! Tem de haver um amor doentio do princípio ao fim! Amor à força!”
Euclides, ferido na sua cega paixão de amar demasiado, estava desesperadamente amando. Bernarda espicaçou-o, certa que o amor dela suplantaria o gosto para amar de Euclides.

- Mostra lá, se és capaz…
- Eu já fui sodomizado por um gang inteiro só por ter dito que te amava demasiado!
- E então? Eu sou regularmente esfaqueada no bairro por andar a gritar o meu amor por ti à noite na rua…
- Pois bem… eu amo-te mais do que os peixes amam a água!
- Pfui… eu amo-te assim desde que te conheci…
- Pois eu amo-te ainda nem sequer te conhecia! Pensei numa forma vagamente parecida contigo e pumba!, comecei logo a amar-te!
- Fica sabendo que eu amei-te, amo-te e amar-te-ei… para todo o sempre!
- Não podes amar-me até sempre! Esse é um exclusivo meu!
- Ah, posso, posso! Escrevi isso no meu diário e tudo: “Ainda no útero da minha mãe comecei a amar Euclides e amá-lo-ei até que a vida acabe na Terra!”
- Ahá!! Mas eu amar-te-ei até depois da vida acabar na Terra! Eu amar-te-ei até ao infinito!
- O que eu queria dizer é que eu irei amar-te até ao infinito e mais um dia!
- Quê? Isso não faz sentido!...
- Toma!, eu disse que te amava mais do que tu a mim…
- Parva…
- Convencido? Dou-te um beijinho como prova do meu amor?
- Dás-me isso e mais o c*****o! Deves pensar que brincas assim com os meus sentimentos! Eu é que te amo como ninguém!
- Deves é ser estúpido… Como te amo!
- Tu não me amas tanto, f***-se! Cala-te já com essa porcaria amorosa! Só eu é que amo desta forma platónica!
- Amas, amas… Sabes lá tu o que é o amor, ó palhaço…
- Eu mato-te, Bernarda! Eu mato-te com todo o amor que tenho!!

Euclides apertou o pescoço de Bernarda com força. Enquanto ele espumava pela boca, certamente pela torrente de amor que assolava dentro de si, Bernarda adquiria uma tonalidade roxa na sua pele. A polícia, felizmente, chegou na altura certa para impedir males maiores. Já não era a primeira vez que Bernarda e Euclides trocaram mimos de uma forma mais acintosa, expressando violentamente o seu tórrido amor.
- Tu não devias ter posto em causa o meu amor por ti, minha p**a rasca!
- C***ão! Hás-de cá vir, hás-de… Irás receber com todo o meu amor nessas trombas!
- Um amor pequeno, se comparado com o meu, meu amor…
- Não! Tu é que és o meu amor! O meu amorzão, melhor dizendo, que é mesmo um grande, grande amor.
- Agarrem-me que eu vou despejar todo o meu amor para cima dela outra vez!...

Corta!
Perfeito. A sintonia entre os actores era tal que muitos julgam que eles se amam na vida real. A química entre os dois fará, concerteza, com que muitas adolescentes colem posters nas paredes e os olhos dos telespectadores se preguem à televisão até ao último episódio.

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