quinta-feira, maio 08, 2008

Não Vou Ceder

Ele vai resistir. Já nos apercebemos do quão inútil é supor o inverso. A amálgama de sentimentos espúrios destas ocasiões chega-se à frente – eles são o orgulho, a obstinação e a persistência. Mexidos como ovos e atirados para a luz, esperando aterrar num qualquer fascículo de fábulas modernas, almejando alimentar folhetins e suscitar tertúlias de bairro.
A teimosia é dos burros, é substantivo semanticamente simples, ele é mais complexo. Não se percebe, todavia, se ele é um tubarão com cabeça de galinha ou uma formiga com cérebro de Einstein. Suspeitamos que há um traço que ele quer deixar, desconfiamos que ele quer que o mesmo seja indelével, duvidamos que ele possa cumprir os objectivos que delineou lá no alto, lá longe, onde as vistas mais comuns não alcançam.
Agora a montanha-russa já arrancou. Não há volta a dar, a saída faz-se em frente ao toque da sineta. Se ele quisesse, fechava os olhos e deixava-se levar pelos rodopios estonteantes. Mas não. Ele vai olhar de frente e enfrentar, batalhar, defender, atacar, aguentar. Resistir. Aturar-nos por termos que o aturar.
Ele não vai atirar a toalha ao imundo chão dos vencidos, é esta a sua causa, esta luta incessante pela individualidade, esta glorificação da singularidade, esta magnética atracção pela peculiaridade. Resiste porque já não há outra opção. Resiste porque é isso que está grifado na sebenta da sua ideologia. Resiste por estar agarrado a si mesmo e ele próprio agarrado a nada.
E quem diz ele, diz eu. No fundo, somos todos farinha do mesmo saco. Somos todos pães bolorentos e egocêntricos desta Humanidade. Desprezamos outras convicções. Fazemos de conta que somos a força das forças. Preferimos romper a coser. Resistimos.

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