quinta-feira, julho 03, 2008

Despidas Para Matar

Eis o Verão e com ele mulheres desnudadas. Vamos poder apreciar o melhor da carne lusa (e não estou a falar dos porcos pretos do Alentejo nem de qualquer raça bovina charolesa), como também petrificar com o pior. O pior esquece-se facilmente com a quantidade dos exemplares de qualidade média/alta, que é o que convém reter. É uma excelente época para circular por aí em transportes públicos e à beira da água, ou qualquer lado onde o calor aperte.
Elas estão aí, vestindo-se (ou despindo-se?) para arrasar até com a mais empedernida fleuma masculina. Pressinto que as mulheres, regra geral, vestem-se (ou despem-se?) não para agradar à turba impregnada de testosterona, como seria lógico no mundo animal, mas sim para provocar inveja às outras mulheres. São tramadas, as gajas.
No fundo, tornam os homens em meros figurantes neste jogo fratricida de intrigas e pequenos detalhes: o que conta é captar a atenção das outras mulheres quando se desperta o interesse deles, exaltar o seu belo corpinho bronzeado e também as suas sandálias compradas em promoção. Isto para que as outras se sintam tentadas a copiá-la. Mais que quererem ser objecto de desejo, as mulheres querem é ser “trend-setters”. Se uma mulher sente que três homens repararam na sua chegada, o que verdadeiramente lhe importa é se houve três mulheres que notaram esse facto e se elas se remoeram por dentro por não terem sido elas o alvo das atenções. Sim, porque um homem elas têm sempre que quiserem, com maior ou menor esforço, mas o reconhecimento implícito da sua magnífica silhueta física por outras mulheres é um desafio mais duro e que exige muita subtileza. Vencê-lo reforça astronomicamente a moral.
O homem, por seu turno, não está para se queimar na fogueira das vaidades. É muito mais directo e honesto – quer um corpo feminino gostoso sempre por perto e dele retirar o máximo de prazer físico. Contenta-se com pouco, fica satisfeito apenas com a superficialidade. Os olhos, na maior parte das vezes e com grande desgosto, são os únicos que comem, mas nem por isso a simples contemplação deixa de ser deliciosamente imperdível. É nesta estação que os olhos comem a valer, sem nunca acusarem o risco de congestão.
Alguns decotes são mesmo impossíveis de resistir. Mesmo com a quantidade de silicone batoteiro que já se vislumbra por aí, e mesmo considerando que as generosas mamalhudas clássicas talvez já não sejam tantas como antigamente, um decote é um decote. Quer se designe como uma dupla de seios ou como um par de mamas, quer seja um pouco mais firme ou um pouco mais mole, quer seja de uma fogosa adolescente nos meandros da experimentação corporal ou de uma respeitável quarentona com um sensual aspecto austero, o peito feminino é sempre uma coisa linda de se ver. Quando elas nos aparecem de frente, com uma camisola que apresenta uma abertura saliente a descair até cá baixo, os olhos nem querem saber de mais nada. Vamos atrás até ao limite do tecido e tentamos ir um pouco mais além. Quantos ares embasbacados fazemos, quantos pescoços torcemos, quantas ilusões nos passam pela cabeça – a imaginação fertiliza-se com o Verão.
E depois há barriguinhas apetitosas – confesso que acho piada ao gesto delas quando baixam a camisola para esconder o umbigo, ou porque acham, num assomo pudico, que já estão a mostrar demais, ou porque acham que isso é apenas para rapariguinhas, ou porque ainda se querem convencer que não engordaram e que aquela camisola serve para este ano. E ainda há aqueles deliciosos rabos com as cuequinhas enterradas lá nos confins do rêgo, matéria na qual as brasileiras são campeãs. E há tanta coisa mais que fico por aqui, só para não me alongar demasiado. É que o corpo da mulher é quase como o de uma vaca (sem conotações depreciativas) – praticamente tudo se aproveita.
Elas sabem que tudo aquilo é para mostrar – o Verão é a grande montra anual das mulheres, é aqui que se processa o verdadeiro tira-teimas entre egos femininos. Elas passam os últimos meses da Primavera com rigorosas dietas, programas de ginásio e selecção criteriosa de roupas para dar nas vistas. Depois, há que controlar a celulite, tratar da depilação, escolher os cremes e vernizes mais adequados e nunca descurar os saldos da roupa. Todo este ritual de preparação prévio que se assemelha a um sacrifício nunca é descurado, regularmente, ano após ano. Só há que esperar pela primeira tepidez pós-Abril e, então, toca a mostrar o corpinho.
Nós cá estamos para desfrutar a paisagem. Sentimo-nos mesmo patéticos por não conseguirmos desviar o olhar arregalado da tipa que está sentada à nossa frente, mas sabemos que é inútil resistir e temos a desculpa que ela nos está a provocar ostensivamente. No Verão, mais do que no resto do ano, somos vítimas passivas e não nos queixamos.

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