segunda-feira, julho 07, 2008

Schadenfreude

Eu não pedi por aquilo. Aquilo veio sem eu saber. Posto à frente da porta de casa, nu ao ar livre. Um tempo que levou tempo a perceber. Um dedo apontado ao teu cérebro. Um disparo de sarcasmo acertando em cheio nos teus nervos. Vivo para a não-vida. Falava de asas e tu já voavas. Não podia suportar tamanha petulância. Pedia emprestado coisas que nunca tencionava devolver. Urgia-me pelo vagar. Exalava um profundo fedor crítico. Satisfazia-me com a ruína alheia. Vencia pelo desgaste, vencia pelo empate, vencia pelo afogado. E gozava o teu insucesso qual pão de cada dia. Vi-te a cambalear num trapézio irresolúvel, ansiei o desastre, anunciei-me como o teu abutre de estimação. Aquilo tingiu-me de negro. Recebi o jacto imundo como uma monção, diverti-me com a espuma da humilhação, humilhei o teu rebaixamento até aos limites. O dentro veio para fora. Mostrei-me como sempre fui. Então estiquei-me no parapeito do delírio, destilei ironia gratuita das minhas entranhas e suspirei de alívio. Não fui eu, não fui eu. A calma cínica do espectador espalhou-se pelo meu sangue. A tranquilidade da sobrevivência passiva preencheu-me. Ainda bem que estavas por aí. Folgo em saber que és mesmo tu. É tão bom saber-te mal.

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