quarta-feira, julho 09, 2008

Três Porquinhos

Prático
Já não tenho dúvidas que quanto mais se desenvolvem os meios tecnológicos para facilitar a comunicação, mais difícil se torna comunicar. É paradoxal, mas é verdade. Não comunicamos com quem nos é mais próximo quando temos as condições perfeitas para o fazer. Toda a gente tem telemóvel e e-mail. E, no entanto, preferimos comentar um estranho qualquer ou abreviar a linguagem no Messenger. Sejamos nós miúdos ou graúdos. A banalização do contacto acabou por destruí-lo. Não sabemos lidar com a abundância. Dantes, ansiávamos por esta época, em que seria possível conference-calls em tempo real com gente do outro lado do planeta e e-mails instantâneos. O dia-a-dia seria um passeio feliz. Hoje, sabemos bem que a realidade não se encaixa com a utopia dos nossos sonhos de outrora. A era da informação empobrece-nos a todos enquanto pessoas. A proliferação de engenhos tecnológicos esvaziou a nossa imaginação e sugou a nossa vontade. Abandonámos a nossa amizade à sorte de não se sabe bem o quê. Escravizámo-nos pela nossa criação. Os “lol”s e os :) são apenas para disfarçar esse enorme vazio que se apoderou de nós.

Cícero
Ela tem um grande cu. Mesmo grande. Mas não tem mamas. Não é bonita. Não é grande companhia. É apenas agradável de se apreciar por trás. Tem um cu que parece convidar-me a montá-lo à bruta. Só a imagino vista de trás. Vislumbro-a sempre com um grande e imaginário rótulo onde se lê “SEXO ANAL: POR AQUI” colado ao bolso de trás das suas calças de ganga. Ela sabe bem que o cu é a sua especialidade, não me digam que não. Se eu quiser ser simpático e não dizer que só o cu é que presta nela, digo que ela é espectacular do umbigo para baixo. Só que eu não quero ser simpático com ela. Ela também não é muito simpática comigo. É quase recíproco. Ela não engraça comigo, pronto. Não devo possuir nenhum traço físico ou psicológico que seja do seu agrado. Compreendo-a. Também só engraço com uma parte corporal dela. E, pressinto, as mulheres não gostam de ser apreciadas apenas pelo seu cu. Gostam mais que lhes gabemos os olhos e a personalidade. É difícil conviver frequentemente com este tipo de pessoas. Acho que tudo se podia resolver com uma sessão de sexo. Aliás, quase todas as interacções mais complicadas com mulheres se deviam resolver com recurso ao sexo. O sexo é o apaziguador preferencial para este género de tensões.

Heitor
Clara de Sousa de novo a mulher mais sexy de Portugal. Cristiano Ronaldo outra vez a namorar nas costas do Manchester United. O Porto outra vez acusado de corrupção. Os preços da gasolina outra vez a aumentar. A TVI a estrear outra novela portuguesa. Jean-Claude Trichet outra vez preocupado com a inflação. Amy Winehouse a drogar-se outra vez. Outro bombista suicida a fazer das suas. A justiça a deixar prescrever um caso delicado outra vez. Um fardo de cocaína a dar outra vez à costa. O José Sócrates outra vez de gravata azul. O concerto de ontem foi outra vez o melhor de sempre. Os cães são outra vez os nossos melhores amigos. Cheguei atrasado outra vez. O teatro português nunca esteve tão mal outra vez. O ministro saiu-se mal outra vez. Os saldos estão a bombar outra vez. A tua avó morreu outra vez. Está a chover outra vez. Portugal está na cauda da Europa mais esta vez. Enganaram-se na morada outra vez. Há outra vez mais opiniões do que acções. António Lobo Antunes a escrever outra vez muito bem para ninguém. A bateria foi-se abaixo outra vez.
A minha vida é demasiado corriqueira. A irrelevância dos dias cola-se a mim como uma lapa. Sinto-me uma caderneta completa de déja-vus. E tenho imensos cromos repetidos. Vou escrever isso outra vez.

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