terça-feira, julho 08, 2008

Urinando Pela Vida

A deliciosa notícia que provem do sul da Índia dá-nos conta de um pagamento no valor de um euro, efectuado pelas próprias entidades oficiais, a quem urinar no local apropriado – isto é, no urinol. Para além dos óbvios efeitos higiénicos da medida, a urina ainda vai ser recolhida e estudada na hipótese da mesma poder ser utilizada como “fertelizante”. Assim mesmo, para ajudar ao insólito da notícia.
Gostava que as nossas autoridades fizessem o mesmo. Aliás, sugiro um pagamento progressivo: passado o meio litro de mijo (e é de mijo que estamos mesmo a falar, urina é apenas um termo técnico), o “dador” seria recompensado com 0,5 € por cada decilitro adicional. Gostava que começassem já, no Verão – que é quando se ingerem mais líquidos e, logo, sai mais matéria. O défice que se lixe. O défice que vá com o mijo cano abaixo.
Afinal, precisamos de bons incentivos ambientais. Eu esticaria de bom grado os limites de capacidade da minha bexiguinha durante um dia inteiro de praia, apenas para não conspurcar as águas ou as finas areias do nosso Portugal. E depois iria mijar a uma retrete oficial qualquer, das muitas que se iriam instalar por todo o país, com a certeza que a minha aflição temporária se iria esvanecer com a solidariedade das autoridades sorridentes que esperariam pelo meu soberbo mijo pago a peso de… bem, não de ouro, mas pago consideravelmente bem para aquilo que eu acho que ele vale.
Vamos então fazer-nos à vida, dar-nos ao trabalho pelo mijo. Já vejo as senhoras secretárias a segurarem-nos a porta, “É urina? Para este lado, por favor”, casas-de-banho imaculadas e os incontinentes todos à porta com os bolsos cheios a tinir, desempregados, doutores e oportunistas a beberem jarros de água enquanto esperam pela sua vez de mijar num local autenticado com o selo da garantia Estatal, nós a exercermos o nosso dever cívico, a recebermos subsídios para esvaziar o depósito de mijo e sustentarmo-nos graças ao desempenho dos nossos preciosos rins.
O próximo passo será aproveitar as defecações intestinais, o cuspo e o pus. Ou seja, toda a merda, em bom português. Não quereremos as nossas ruas poluídas, não; iremos aos WCs do Estado e ganharemos todos com isso; todos, menos o orçamento público. Deixem estar, vejam isto como um investimento a longo prazo. Pensem no “fertelizante” que fará maravilhas à nossa amordaçada agricultura. Não se esqueçam do potencial retorno das fraldas usadas dos vossos bebés. Tragam a merda dos vossos animais também. Bostas de vaca serão bem vindas. Cagadelas de pássaro têm aceitação garantida. Tragam até mijo de peixe. A água toda também se aproveita. E o peixe, se for ao barulho, não fará mal. Vamos optimizar toda a merda deste mundo, chular o Estado em milhares de Euros e deixá-lo com a merda de nós todos nos braços. Viva o Estado previdente.
Vivermos às custas daquilo que não aguentamos dentro de nós é uma perspectiva assaz interessante. Ingeriríamos litros de água até sentirmos os olhos a nadar e relaxaríamos. Deitaríamos fora os nossos antiácidos e abraçaríamos os nossos laxantes, vê-los-íamos como os nossos novos cartões Multibanco em que o código… bem, o código seria simplesmente ir à merda. Deveríamos arriscar e copiar este exemplo indiano. Vamos mudar de paradigma em relação ao tratamento das nossas excreções. Assim como estamos, estamos na merda.

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