segunda-feira, outubro 26, 2009

Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas

Pode haver algo mais irritante do que pessoas a tentar entrar no comboio antes das pessoas que estavam no comboio saírem? Há, e não me refiro ao abate clandestino de ciganas que lêem a sina (o que ainda não aconteceu, porque as balas não conseguem ultrapassar aquela camada de andrajos e gordura e atingir os órgãos vitais. E também por medo de represálias, vamos ser honestos). Mas isso não importa para nada. Quem quer saber o que me irrita? Eu nem sequer estou ligado a nenhuma rede social…
Ou melhor, até estou. Mas é como se não estivesse. Não tenho 153 amigos. Ou amigas sorridentes. Ou tipos com a pose de surfista. Ou gente com fotos a preto-e-branco. 153 amigos que podiam ter sido modelos e capas de fotos poéticas e que por mero acaso não chegaram lá. Gente que é primo do conhecido do amigo. Personagens que já apareceram ao lado da modelo que esteve num programa do serão da SIC mascarada de cavalo-marinho. Seres que serão muito aborrecidos na realidade mas que fazem um excelente número. Só mais um. Adiciona aí. São 154 e continuam a crescer.
Brilhante. Tens uma enorme rede social, então és um tipo espectacularmente sociável e com muito boas influências. Quase que acredito que papaste todas essas gajas que parecem tão suculentas com o seu domínio de Photoshop. Quase que penso que a tua ocupação é falares com toda essa gente que já não falavas há vinte anos. É fantástico. E mais fantástico é ver toda essa tua disponibilidade retribuída com uma carrada de yes-men que dizem que sim ou que não consoante o teu sinal, que te dão palmadinhas nas costas em forma de comentários cheios de mel peganhento. A amizade não deixa espaço para ambiguidades. A amizade é fundamentalista. Leva-se a mal se se questionar algo, pois a contradição é inimiga da amizade. Se tu dizes que o peido é perfume, então eles acentuam que é Chanel. Se tu dizes que o ouro é lixo, então eles mandam a ourivesaria para os pilhões.
Pronto, eu confesso que o que é realmente irritante é o culto da mediocridade. É a subalternização da qualidade perante a divulgação em massa pelas mãos das etéreas e infinitas redes sociais. É descobrir que eminentes opinion makers têm 16 anos e uma idade mental de 12. Porque se o gajo tem 154 amigos é porque o gajo é bom. E se o tipo tem 3245 fãs, alguém pode se sentir mal por apenas o ter descoberto agora e é levado a pensar que o tipo é um génio – e sê-lo-á, sem dúvidas e pelo menos, no domínio novas tecnologias de informação.
Mas a verdade é que os nossos olhos andam a comer muita merda, apenas porque o invólucro é muito apelativo e todos os outros olhos já comeram dessa merda e até gostaram. Custa dizer que não quando todos à nossa volta disseram que sim. O papel do contra é um papel de merda.
Não é nada de novo. Este texto é, em si, uma grande merda. Nem sempre estou em forma e eu sei-o mais do que ninguém. Mas não desespere, caro navegador internético que foi iludido pelo título do post. O Google tem destas coisas e não faz por mal. Por este texto ser realmente merdoso está na moda. A merda vende. E vende muito. Ser-se merdoso é um lifestyle. Ainda por cima, extremamente valorizado nos dias que correm. Se os dias por acaso corressem. Eu acho que ultimamente os dias apenas deslizam. Pois correr dá trabalho, cansa, e o esforço tornou-se num tema tabu. Já ninguém faz muita força. Basta-lhes abrir as pernas e a diarreia sai a (es)correr.
Leitor iludido e imaginário, você acaba de ganhar um bilhete para a lotaria que vai andar à roda e se chama sucesso. Você pode ser o primeiro a descobrir a nova atracção que será uma sensação durante uns tempos. Ou ser você mesmo essa atracção. O sucesso, hoje, é o maior dos cagalhões e as plataformas de comunicação são enormes retretes a céu aberto.
É escatológico, eu sei. Boa sorte e bem-vindo ao século XXI.

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