segunda-feira, novembro 03, 2008

Esta É A Minha Crise, Conta-me A Tua

A crise dos pobres era uma crise localizada – basicamente, Apelação, Miragaia e todo o interior. Sempre os mesmos. “A culpa é do Governo”, ai os meus filhos, etc.. Bah.
A crise dos ricos é uma crise de todos – em traços gerais, todos havemo-la de pagar via impostos, via juros ou via desemprego. Ter tanta diversidade de opções é reconfortante.
Viva a globalização.

Acho que os ricos se fartaram dos joguinhos de computador e de pós-graduações no estrangeiro.
Aquelas canetinhas nos PDAs são engraçadas nos primeiros dias, mas é preciso algo mais. Sei lá, uma falência, umas transferências ilegais para uns off-shores, qualquer coisa que espevite.
Olharam à volta e viram “eh pá, o pobretanas chora, chora, mas ele é que mama os prémios todos do Malato e das meninas da madrugada na televisão – se queremos liquidez temos de descer a este nível”.
E vai daí, toca a chorar para mamar mais um bocadinho. Ou um belo bocadão. Mas com sofisticação. Ninguém quer ver a Júlia Pinheiro em roupão outra vez. Desta vez é mais “ou os vossos impostos pagam as nossas trafulhices ou não há guito para ninguém” em horário nobre, de forma a que até a Fátima Campos Ferreira consiga perceber. Alguém consegue ficar indiferente a este choro?
Vamos mas é mudar a fralda, não é? Senão o rabinho assa e ainda pode ser pior.

Está tudo bem, dr. Ricardo Salgado? Ainda bem, eu também gosto muito da maneira como olha por cima dos seus óculos.
Então dr. Fernando Ulrich, não come a papinha que acabei de fazer? Não gosta de bananinha, dr.? Para a próxima faço-lhe um guisadozinho, está bem?
Ora essa, dr. Santos Ferreira, por quem é? Esteja descansado que havemos de arranjar-lhe qualquer coisa para não ficar por casa sem saber bem o que fazer. Não há nada pior que o tédio, eu sei. Estaria interessado numa Lusoponte? Ou numa Mota Engil? Excelente escolha, eu também acho que o dr. Jorge Coelho é muito bom rapaz. Agora coloque aqui a sua cabecinha… já arrotou? Pronto, pronto.

Foram dadas instruções aos funcionários do BPN para tranquilizarem os clientes.
Com uma pistola de dardos, entenda-se.
Ainda bem que no BPN têm todos boa pontaria. Olha-se para a Administração e vê-se que toda a gente estava perfeitamente alinhada – eram quase todos membros relevantes no aparelho do PSD e juntaram-se num banco, assim como quem combina um cafezinho num lugar aprazível. Isto para mim é que é acertar em cheio.
A dose de tranquilizante não será letal, de qualquer forma. Apenas o suficiente para os clientes adormecerem umas horitas até que se consiga retirar todos os objectos de valor dos balcões. O dinheiro incluído, claro. Apesar de tudo, o dinheiro continua a ser um meio de pagamento aceite. Pelo menos até 4ª feira.

Paulo Teixeira Pinto, em onda negativa, viu o seu filho morrer esta semana. Foi, dizem, morte súbita e só contava 22 anos.
Já tinha visto morrer o negócio de fusão BCP-BPI há pouco.
Portanto, já pouco o poderia chocar.
Se o tipo não fosse crente em Deus, não sei como se aguentaria.
A fé em Deus é tudo. Os montantes milionários da sua reforma e as maquias exorbitantes exigidas pelas suas conferências também são alguma coisa. Mas o que lhe vale é ter fé em Deus. Pode não mover o Jardim Gonçalves, mas move montanhas.
Pelo menos, o Paulo Teixeira Pinto já não está casado com a Paula Teixeira da Cruz. Isso faz maravilhas à auto-estima de um homem, tanto que o Paulo é agora pintor e poeta – curiosamente, através de uma empresa por ele adquirida. Se o coitado se esforçar, ainda é capaz de ter uma exposição em nome dele. Apoio sempre os tipos que vêm de baixo e conseguem chegar ao reconhecimento público. Especialmente, estes que têm tanta fé despreocupada em Deus.
Até eu me torno mais crente.

Ninguém me tira esta convicção.
A Paula Teixeira da Cruz urina de pé, como um homem.
Tem toda a cara disso, embora eu não o possa provar. Nem quero.

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