domingo, maio 24, 2009

Taça É Taça - Parte III


Chegou o momento anual de seriedade do Outra Louça: uma abordagem à final da Taça de Portugal. A verdade é que o Outra Louça não é muito de efemérides e a final da Taça ainda nem sequer se jogou. E quando se jogar não vai contar com a presença do Sporting.
Sendo assim, analisemos sucintamente o que foi a época do Sporting, mais concretamente, o desempenho dos seus jogadores (exceptuando este último jogo em que uma série de lesões, castigos e sei lá que mais propiciaram a chamada de quatro juniores ao plantel principal e tornaram Romagnoli, mais do que uma séria hipótese para a titularidade, um elemento imprescindível do onze inicial – só para se ter uma ideia da dimensão destes condicionalismos).

Do lado mau/ decepcionante:
Os laterais – Abel talvez se sinta uma pessoa mais realizada se algum dia sacar um cruzamento bem medido na linha de fundo; como isso já não deve vir a suceder, mais vale preocupar-se com o cabelo e em emagrecer um bocadinho. Não esquecer que foi este o homem que marcou um golo por acaso em Old Trafford e que nem escondeu a felicidade dessa situação, de tão mau que foi o centro. Ou seja, ele próprio está consciente que anda nos limites há uma porção de tempo e que dificilmente ultrapassará o patamar de mediania que caracterizou a sua carreira.
Pedro Silva não é sequer um lateral; é um tipo que gosta de correr com a bola sempre em frente, sem noção do perigo; no fundo, é como um cão que se vê livre da trela e corre desalmadamente para a estrada onde virá um camião que o atropelará. Tem jeito para o lançamento do disco, mas isso raramente servirá de argumento para um lateral-direito decente.
Grimi prometeu; contudo, tornou-se mais célebre pelos seus conhecimentos noctívagos e nunca mais recuperou daquele lance contra o Porto. A lesão parece ter sido mais um acto de misericórdia que outra coisa.
Caneira especializou-se a cometer penalties e em arranjar lesões inoportunas, mas tem a desculpa de não ser lateral de raiz.
E de Ronny nem vale a pena falar.
Miguel Veloso e Yannick – dois irmãos, não de sangue, mas de inconsistência mental. Um já se refere a si na 3ª pessoa, vendo fantasmas junto à linha lateral e auto-vedetizando-se de uma forma que arrancaria muitos sorrisos trocistas, não fosse essa uma fórmula já gasta. O cabelo muda consoante os humores e talvez já só a Fátima Lopes vislumbre nele a capacidade de concretizar todo o potencial que estará algures lá dentro. O que é pena. Já Djaló, o comboio negro que avança mais rápido que a bola, foi castigado com a ausência total e o registo nulo de golos desde que em Basileia ficou triste por ter marcado o tento vencedor. O tipo ficou mesmo aborrecido e vai daí, tumba!, toma lá o que mereces. Ao contrário de Veloso, porém, não me parece que tenha tanto valor desperdiçado quanto isso; é mais um hype musculado da Academia do que propriamente o avançado por quem Portugal anseia.
Vukcevic – o maluco do Montenegro disse que queria ser operado ao ombro quando começava a re-despontar e teve a vontade feita. Enquanto ele estivesse anestesiado, podiam aproveitar a oportunidade e fazer-lhe uma incisão no crânio, a ver se lá se alojavam alguns bichinhos carpinteiros para então exterminá-los. O Sporting podia ganhar ali um grande jogador.
Rochemback - o gordo. Lentidão exasperante no meio-campo e nem um livre para amostra. Não foi de todo decepcionante, porque as expectactivas já não eram muito elevadas, mas em todo o caso recomenda-se menos picanha e mais desenvoltura. Estranho o peso que dá mostras de possuir no balneário. Ou talvez não, porque acaba por ser uma questão... de peso.

Do lado bom/ surpreendente:
Rui Patrício – sempre fui muito céptico com este gajo, é verdade; mas este ano, vendo bem as coisas, julgo que ele optou por despejar cola nas luvas ao invés da banha de porco que colocara o ano passado. Tenho de dar a mão à palmatória e reconhecer que houve progressos.
Daniel Carriço – agradável revelação, malgrado alguns deslizes. Pode vir a ser melhor que o Beto, o que não implica necessariamente arranjar uma gaja tipo Filipa de Castro.
Izmailov – tem cara de russo e é expansivo como um russo, o que será a sua melhor qualidade. Isto é, a discrição, que neste caso se alia à competência e ao grande espírito de equipa. Tem uma débil condição física mas é dos jogadores tacticamente mais inteligentes que já vi jogar. Consolidou a sua posição, apesar de tudo.
João Moutinho – não chegou, nem de perto, àquele que parece ter sido o seu píncaro de forma e que ocorreu, curiosamente, nos seus primeiros jogos com Peseiro, em 2004/05. Mas resistiu aos destemperos vocais fora de campo e foi sempre muito abnegado no relvado. Não é muito, mas é alguma coisa. Temo que Moutinho não passe do exemplo profissional e que nunca deslumbre. Nunca esqueceremos o lampião que ele é e ele só tem é mais que esforçar-se pelo leão enquanto por cá estiver (e ele ainda se deve aguentar uns tempitos mais por cá, digo eu).
Pereirinha – bons cruzamentos e velocidade. É melhor lateral-direito que Abel, embora isto não possa ser motivo de grande regozijo. Todavia, parece ser melhor como suplente que entra aos 60 minutos do que como titular que joga os 90. Apenas razoável +, mas a subir de rendimento. Para mim, nunca foi o flop que muitos auguraram que seria, talvez pela cara de miúdo e o seu diminutivo nome.
Derlei – equacionamos sempre a probabilidade de Derlei ser expulso ou contrair uma lesão durante o jogo, mas lá que dá gosto ver o ninja a movimentar-se na frente, lá isso dá. Também gosta de fazer bons jogos contra a lampionagem e a massa associativa reconhece e valoriza essa característica. Por mim, mais um anito.


Por fim, Liedson. Liedson não está mesmo plano dos demais. Julgo que Liedson olha à sua volta e sente um desespero interior por possuir um talento largamente acima dos demais e concluir que não tem acompanhamento. Liedson é um bife do lombo ao qual não souberam adicionar um molho au champignon. Vá lá, de vez em quando há uma ou outra batatinha frita. Ele defende melhor que muitos, ele tem mais inteligência que a maioria, é prendado tecnicamente, ataca como mais ninguém e, pronto, marca golos e resolve jogos. Não é despiciendo. Há que admitir: Liedson está desfasado deste Sporting e de todo o Campeonato português no geral. Não há ninguém como ele por cá. Sempre em alto nível desde que chegou em 2003/04, coleccionando os invariáveis títulos de melhor marcador da equipa e facturando com grande prazer aos milhafres que o detestam, ele sim, é a peça verdadeiramente insubstituível neste momento. A sorte do Sporting é ele ir a caminho dos 32 anos e já não despertar grande apetite por essa Europa fora. Apesar de tudo, não parece perder qualidades com o passar do tempo. Deve acabar a carreira no Sporting e isso seria, como diria o velho Artur Jorge… muito bonito.

Sem comentários: