segunda-feira, outubro 22, 2007

Arte & Ofício

Estou tão cheio de tudo. Algumas coisas não enchem. Muitas esvaziam-se. Vogamos em semi-vácuos de consciência em direcção ao nádir absoluto.
Noto que este mundo é constituído pelo somatório de almas que ambicionam tudo… mas conseguem nada. E tudo o que falha a forma não tem conteúdo que lhe salve. Não há espaço para des-modas na estação da moda. Sentem-te como diferente e sugam-te a individualidade para um mega conjunto oco e uno – eis como te assimilam. De um passas para zero e daí nunca sairás.
Acheguem-me as lembranças de tempos em que nunca fui. Façam-me relatórios dos tempos que nunca serei. Assino por baixo. Reafirmo a inutilidade do hoje. Observo a exponenciação de apelos num mundo vão à cata da logaritmização do código universal.
É melhor que acredites em mim. Juntos bocejaremos melhor do que isolados. Citaremos autores desconhecidos como se fossem nossos pais. Faremos boa figura. Seremos um mais um igual a dois e esquecer-nos-emos dos grandes algarismos. Deixaremos de ser dígitos não reconhecidos. Refugiar-nos-emos no nosso próprio mundo. Na nossa arte incógnita. Nos nossos devaneios experimentais. Um universo alternativo do actual.
Que é um universo nulo. Infinitamente zero. Imensamente nada.

1 comentário:

Rodrigues disse...

À posteriori:

Arte & Ofício
"Contradiction", do álbum "Faces" (1979)

António Garcez - voz
Sérgio Castro - baixo
Sérgio Cordeiro - guitarra solo
António Azevedo - bateria
Fernando Nascimento - guitarra ritmo