quarta-feira, janeiro 21, 2009

A Escola Não É Para Mim II

(continuação do post anterior, que, paradoxalmente aparece a seguir a este, seguindo a lógica bloguística do “passado-não-interessa-só-o-presente-é-que-está-no-topo”)

O professor permanece grogue, fazendo os possíveis para estabilizar-se de pé. Policarpo está naturalmente agitado por lhe faltar a droga, furioso pelas suas vontades não terem sido imediatamente saciadas. Vai daí, começa a partir os vidros da janela da sala de aula, atirando cadeiras. Necessitava de largar as suas tensões acumuladas enquanto os pais não vinham.
Felizmente para o material escolar, os pais de Policarpo surgem com brevidade. O pai é um zombie. A mãe é uma vampira. Literalmente, um zombie e uma vampira.
Como seria de esperar, a mãe é que toma a iniciativa – o pai tem pouca habilidade para falar, move-se vagarosamente e tem um olhar perdido semelhante ao de Evaristo. Arlete assusta-se com os encarregados de educação de Policarpo e guincha desalmada.
- Eu v-vou… Eu vou para o recreio! Tchau! – e foge, cheia de medo e nervosa, pela porta fora, feito uma louca. Não mais regressou.
A vampira pergunta a Policarpo os motivos daquela chamada de urgência.
- ‘Tás a ver aquele ca****o cheio de sangue? Fui eu que lhe arreei porrada por se armar em esperto! E, feito estúpido, mentiu-me de seguida! Nem estou em mim!
A vampira fica muito espantada, os seus olhos com elevado grau de transparência arregalam-se e os caninos proeminentes quase quebram de tanta estupefacção:
- Que horror! Ando eu a confiar a educação do meu filhinho a estes monstros mentirosos! E que mentira é que ele te contou?
- Disse-me que não tinha trocos para me ajudar a comprar um bolo, que ando cheio de fome e os meus pais andam com dificuldades… mas fui ver e o gajo tinha 10 euros. 10 euros, mãe! Isto não se faz!
- Ooooh! Isto que o Policarpo disse é verdade, sr. professor?
O professor explica, muito combalido:
- Eu só… só disse que ia ensinar um tempo verbal…
- Qual?
- O… o condicional…
- Quer dar-me um exemplo?
- S-sim… verbo matar: eu mataria, tu matarias, ele mataria…
- E já deram o futuro do indicativo?
- Sim… d-démos… é… eu matarei, tu matarás, ele matará…
- … ou “ela matará”, não? Também pode ser, não pode, seu professor desencaminhador de crianças, mas com um pescocinho bonito?
O professor estava demasiado aturdido, mas finalmente compreendeu o insólito da situação.
- Você… V-v-você é um vampiro? Oooh… eu não estou bem…
A vampira não calou a sua indignação.
- Até me custa a crer, um professor com um aspecto tão suculento… hmmm… tãããão suculento… – e, dito isto, agarra-se ao pescoço do professor e espeta-lhe uma dentada profunda, sugando o seu delicioso sangue A-RH+. O professor grita de dor, sentindo-se a esvair em sangue – a partir de agora, seria também um professor vampiro.
- Aaaaai!!!! Por favor… piedade!
- Hmmm… tão bom, que sanguinho tão apetitoso… fazia uma cabidela de trás da orelha com este professor… – nota a vampira, lambendo os seus lábios com lascívia. Mas logo volta à carga – Bom, mas isso não desculpa o que fez ao meu filhinho, isso não pode ser.
- É isso, mãe! Esse gajo precisa de ser fo***o a sério! É dar cabo dele! – apoia Policarpo.
- Pois é isso que vai acontecer! – sentencia a vampira – Assim damos uma lição a este desgraçado e aos outros que encaminharem mal os nossos filhos! Andamos nós a fazer o nosso melhor em casa, a suportarmos sacrifícios de toda a espécie… e é na escola que eles aprendem tudo o que é mau! Francamente! Bruce, – diz para o seu esposo zombie – arranca-lhe as entranhas para depois as levarmos para o gabinete da Directora desta escola, que é para ela ter um sinal da nossa insatisfação. Melhor, vamos levar as miudezas deste triste professor para o Ministério!
- Aaaargh… Comer? Uh-uh! – balbucia o papá zombie.
- Sim, querido vai lá tratar do professor, tens ali papinha da boa.
- Papa… papa… duuuuh… nham, nham! – eis que o zombie se arrasta de braços estendidos, aos balanços, em direcção ao professor, ainda agarrado ao pescoço que esguicha sangue para cima das secretárias, tornando o ambiente o mais propício para o filme de terror que se desenrola. O seu próprio terror.
- N-não… não… NÃÂÂÂÂÂO!!!! AAAAAAH!!! AAAAAH!!! A minha pélvis!!! NÃÂÂÂÔ!!!! AAAAAAAAH!!!!
O pai zombie ataca o professor arranhando-lhe a face, dilacerando-lhe o tórax, trincando-lhe o abdómen, escarafunchando-lhe os membros e sugando-lhe as profundezas, chupando-lhe os ossinhos sem esquecer a bílis e os órgãos de que ninguém se lembra. Um espectáculo de sangue e dor, uma operação brutal sem recurso a anestesia, um massacre selvático de contornos ultra-cruéis. Policarpo não sente misericórdia pelo professor: apraz-lhe o cenário de carnificina, que lhe lembra o “Resident Evil”, no qual é perito.
- Vai-lhe aos cornos, pai! F**e o gajo!
Quando finalmente saltam os intestinos do professor, a vampira dá as ordens finais.
- Pronto, já chega Bruce; senão logo não tens fome para o jantar. Deixa-me só recolher aqui um bocadinho deste sangue docinho… já está. Pega nessas vísceras e vamos ao nosso protesto, Bruce.
- Ahm-ahm… grunf…
- Não, Bruce, não vamos levar o cadáver… já lá temos muitos que cheguem! Este fica para as contínuas limparem, que elas precisam de trabalhar. E tu filho, o que vais fazer agora?
- Sei lá… já não tenho professor… acho que já se acabaram as aulas. Vou descarregar as minhas frustrações adolescentes no crime.
- Vê lá, filho, não te aleijes.
- ‘Tá descansada, mãe. Eu cá me arranjo.
Dão dois beijinhos e cada um segue a sua vida.

Evaristo ficou por lá até o virem buscar. Quem o veio buscar estranhou que houvesse mais sangue que o normal na sala de aula, mas deixaram Evaristo na mesma escola até ao final do ano lectivo. O argumento era que Evaristo até se andava a safar nos estudos.
No final do ano, Evaristo transitou com nota máxima.

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