quarta-feira, janeiro 14, 2009

Faz o Download da Tua Amizade

Fixe, fixe, é enviarmos mensagens de amizade, com coisas a piscar e cãezinhos a lamber monitores, a todos os contactos da nossa lista, pelo menos uma vez por mês. A plataforma não interessa, pode ser mail, telemóvel ou site na Internet. Pode ser-se fixe de qualquer forma.

Sempre ficam a saber que (ainda) existimos e que somos pessoas extremamente chatas, carentes de atenção e sem sentido de originalidade – porque, na maior parte das vezes, apenas fazemos o forward da mensagem que nos foi enviada por outro semelhante, que por sua vez pescou a mensagem numa central qualquer de “mensagens fixes”.
Às vezes, nem sequer apagamos o “Fw:”. Quase que fazemos de propósito para que percebam que a mensagem não é nossa, como que denotando medo que algo escrito por nós possa ofender a sensibilidade do receptor. Todavia, interessa é deixar claro que a mensagem tem subjacente um sentido positivo, engraçado, porventura até didáctico. Super-baril.

Isto é quase como a história do dinheiro a circular: quanto mais circula, mais riqueza espalha no seu caminho. Assim são as mensagens: pega-se numa “mensagem fixe”, os forwards multiplicam-se exponencialmente e com isso cresce a “fixeza” da mensagem.
Uma mensagem que nos chega igual por intermédio de pessoas diferentes só pode ser uma mensagem altamente fixe. E será tanto mais fixe quanto mais espaçada no tempo for a recepção dessa mensagem: significa que uma atravessou o mundo pelo leste e outra pelo oeste até chegar a nós.

Enchemos os outros com estas mensagens fixes, complemente despersonalizadas, prolongando a ilusão que é muito fácil contentar alguém: “se eu enviar-lhe esta mensagem, ele/ela irá pensar que eu não lhe esqueci, que conto com ele/ela quando precisar dele/dela a sério no futuro; até poderá servir como introdução para uma conversa que nem sei como iniciar”.

Mas o que acontece é estar a revelar que sou preguiçoso demais para actualizar as listas de contactos. Que nem sequer me importo. Que houve alguém que teve o trabalho de pensar em algo por mim. É chapa-5, a torto e a direito. Tomem lá. Não quero nada só para mim. O que me mandaram eu mando para vocês; vocês que me disponibilizaram o vosso contacto algures no tempo e que nem me estou a lembrar na realidade quem são.

Estas palavras formatadas por alguém, recalcadas e de conveniência, podem soar muito bem, mas o gesto de enviá-las às carradas acaba por ser feio, se nunca acompanhado por outros gestos que demonstrem a veracidade dessas palavras.
Como é bom de ver, este gesto revela uma moleza confrangedora, um desinteresse que seria dispensável declarar. Por muito fixe que se queira ser ou parecer.

Creio que a palavra-chave é “parecer”. Mais do que querer ser, o que normalmente custa e dá trabalho, estamos na fase de querermos “parecer”. Parece suficiente e é geralmente muito mais fácil. É só fazer “click”.

Costuma ser esta a forma que arranjamos para agradar de forma instantânea na era dos instantâneos. Contacto pessoal? A menos que possa haver dinheiro ou sexo em jogo, já não é deste tempo.

Hoje pensa-se que a amizade compra-se, ou downloada-se, ilegalmente ou não, em qualquer site.

1 comentário:

Rodrigues disse...

Obrigado por provares o meu ponto, caro mensageiro automático brasileiro.