terça-feira, janeiro 06, 2009

A Beleza Está Nos Olhos De Quem A Paga

Sandra, Solange e Soraia, três meninas de vinte e tal anos, bem constituídas, estão deitadas numa cama bem grande e pejada de peluches, almofadas e parafernália alusiva à Hello Kitty.

Convém advertir que nenhuma delas é lésbica, porque esta Solange fez um “upgrade” e é G (de “ponto G”) e não F (de “fufa”), como a mais célebre Solange do Mundo. Informa-se igualmente que a Soraia não é de Chaves e a Sandra não é nenhuma estrela pop mamalhuda contemporânea da Sabrina ou da Samantha Fox.


Pois bem. As três estão envolvidas numa discussão existencial sobre as vicissitudes da mulher moderna em pleno século XXI.
- Fui à manicura. Um roubo! – lamenta-se Sandra.
- Ai, mas nada se compara ao cabeleireiro – corrobora Solange – Já não dá para ir ao cabeleireiro com a mesma frequência de antes. Só ganhando o Euromilhões!
- Os preços são altíssimos, minha cara! Só para arranjar estas unhas foi o que foi. Já não volto lá até, no mínimo, 4ª feira! À pedicura já não vou… olha, nem me lembro! Certamente que já foi há mais de 2 semanas! Nem devia estar a dizer isto, mas estou um horror!
- Ai querida, eu acho que também estou. Mas com estes preços… os cabeleireiros é que a sabem toda! Sabem que são imprescindíveis e depois sobem os preços desta maneira indecente!
Soraia, que estava a brincar com os bigodes de um boneco da Kitty, intervém.
- O paxaxista não está assim tão caro…
Sandra e Soraia entreolham-se de espanto.
- Paxaxista? – interrogam-se em uníssono – O que é isso?
- Bem, é o tipo que nos arranja a paxaxa – explica Soraia, com calma.
- A paxaxa?!? A… paxaxa?
- Sim, o grelo.
- Aiiiiiiiiiiii, que horror, Soraia! Que brejeira! Que nojenta! – exclamam, agoniadas, Sandra e Solange.
- Então, qual é o mal? Paguei para me arranjarem a passarinha.
- Aiiiiiiiiiiiiiiiiii!, onde aprendeste esses modos, Soraia?!? Isso não se diz!!! – indigna-se Sandra até quase ao ponto do desfalecimento – Que horror!! Que modos!!
- Tu… tu foste fazer o teu pipi? Como assim?! – pergunta Solange que, embora ainda enojada, parecia um pouco mais curiosa.
- Então, não se arranja o cabelo e as unhas? Eu arranjei a paxaxa. É o seguimento natural. Um desbaste de pêlos ali, um repuxamento dos lábios acolá, um envernizamento do clitóris aqui… e fiquei com uma paxaxa totalmente renovada. Não foi muito caro.
- Com mil dildos! Onde é que arranjaste esse… esse…
- Paxaxista. Paxaxista é o nome.
- … esse… “fascista”? Ele só trabalha com a genitália? – tenta saber Solange, intrigada. Sandra, entretanto, abre a boca estarrecida, incapaz de emitir algum som (e facilitando assim a escrita do diálogo).
- Só com paxaxas. Nada de pilas.
- Ooooh!...
- Para isso existe o caralheiro.
- O… cara… eiro?!?!
- Sim, logo ao lado. São dois irmãos. Estão logo ali a fazer esquina com a florista. Mas aviso que o caralheiro é mais caro que o paxaxista.
- Porquê? – pergunta Solange, uma máquina de curiosidade. Sandra continuava catatónica.
- O caralheiro trabalha com músculos rijos, o paxaxista pode trabalhar em profundidade em tecidos mais maleáveis. Arranjar uma pila não tem muito que se lhe diga, aquilo resolve-se com próteses e extensões… que são mais caras. Já a paxaxa tem todo um campo aberto por onde se pode trabalhar – elucida Soraia, à vontade no tema.
- E o teu pipi… como está?
- Já te disse: óptimo. Tenho uma paxaxa de meter inveja a qualquer um ou uma. Queres ver?
Pura retórica. Solange não disse nada, mas Soraia foi lesta a desapertar as calças, baixar as cuecas e revelar o seu deslumbrante baixo-ventre.
Era de facto uma paxaxa adorável, muito queriducha. Pêlos púbicos estrategicamente aparados com uma precisão quase tão afinada quanto a dos japoneses com os seus bonsais, deixando a zona não muito frondosa, nem muito deserta, desenhando uma forma semelhante a um triângulo isósceles invertido, com os lábios vaginais muito rosáceos, suculentos como um bivalve, a sobressaírem na região mais meridional e um clitóris brilhante, saliente, quase ofuscante na sua altivez. Um trabalho de mestre. Solange rendeu-se.
- Mas que belo pipi é o teu, Soraia! Parabéns! Se eu fosse F e não G estaria apaixonada.
- Obrigada! És uma querida! Ainda pensei em comprar uns tampões perfumados para cortar o cheiro do período, mas desisti. Acho que é demasiado supérfluo.
- Eu detesto tudo o que é fútil.
- Ai, eu também. Só perco tempo com coisas essenciais.
Sandra despertou levemente do seu torpor.
- E o teu namorado? O que pensa disso?
- Beeeeeeem… - sorri, maliciosa, Soraia – fomos os dois aos nossos respectivos esteticistas: eu ao paxaxista e ele ao caralheiro; ele foi colocar uma extensão pélvica que, minhas amigas: custou os olhos da cara, mas acrescentou-lhe 3 preciosos centímetros que dão um gooooooooooooozo…
- Oooooh!...
- Ele estava divinal. E adorou a minha paxaxa. Fizemos amor durante horas a fio e fomos ao Céu…
- Oooooh!...
- … ao Céu dos Tachos, que é o restaurante lá da minha zona, para comemorar os nossos novos looks. Recomendo.
Solange não se conteve.
- Leva-me já ao teu paxaxista! Quero que ele trate dos meus pêlos encravados na virilha! E quero que o Saraiva me deseje como nunca!
- Vamos lá, minha amiga. E o teu Saraiva, não tem uns milhares de euros para gastar no caralheiro?
- Ele não precisa, ele já é bem prendado. Se bem que podia ter mais consistência nos tomates, eles estão um pouco flácidos…
- Trá-lo contigo, Solange. Uma injecção de cimentina nos tomates dele vai fazer-lhe milagres… parece que vai rejuvenescer uns 10 anos! Ele que faça esse sacrifício.
- Então passamos por casa antes de irmos. Vamos lá?
- Vamos!
Solange alertou a distraída Soraia.
- Vais para a rua com as calças em baixo, Soraia?
- Ah, que cabeça a minha! Ando tão contente com o visual da minha paxaxa que me distraio facilmente! No outro dia, foi o revisor no comboio que me avisou para esse facto, já eu ia quase em Rio de Mouro. Eu bem que estava a sentir um friozinho, mas…
Soraia acompanhou Solange, que se mostrava deveras excitada, inebriada pelo chamamento do salão de beleza. A hipótese de fazer furor estava ali à mão de semear e não havia nada que se pudesse intrometer naquele momento. Como se fosse a abertura de uma loja em saldos, nada a podia parar. Sandra apenas teve tempo para gritar, passados alguns minutos:
- Porcas!

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