terça-feira, agosto 07, 2007

Assassinos Natos

PÁS!
Geraldo – O que foi isto?
Heliodora – Matei um mosquito.
G – Bolas, Heliodora! São 8 da manhã, ainda estava a dormir e já andas a matar!...
H – Querido, sabes bem que eu não descanso. Quero é matar, matar, matar!
G – E já sabes quem vamos matar hoje?
H – Quem é que matámos ontem, que já não me lembro?
G – Eh pá, assim de repente não estou a ver… sei que almocei umas febras grelhadas que estavam um espectáculo!
H – Bem boa foi a pescada cozida que jantámos!
G – É verdade, ganda pescada!... Já não comia peixe assim desde o dia 7 de Outubro de 1995, quando fomos a Setúbal, lembras-te?
H – Então não? Foi naquele restaurante com vista para a Arrábida, fazia um solzinho bem quentinho para a época e até te esqueceste dos morteiros no banco de trás do carro… Mas há algum peixinho assim que se esqueça?
G – Ainda parece que sinto esse sabor… Hmm-hmm…
H – Mas quem é que matámos ontem, pá? Não estou a ver…
G – Não foi o Herman José?
H – Estás parvo, pá! O gajo ainda está vivo!
G – É capaz de estar, é… Então não foi aquele professor que defendeu a regionalização no fórum da TSF?
H – Não, Geraldo, isso já foi há mais tempo… Foi para aí na semana passada…
G – Ah, já sei! Foi o vereador de urbanismo da Câmara!
H – Foi?
G – Então não foi? Mandámos-lhe com 3 balázios à queima-roupa na porta da Câmara e depois pendurámos-lhe num andaime da construção daquele mamarracho junto ao rio, que era para toda a gente ver!...
H – Ah, pois foi! Que cabeça a minha!...
G – Então e hoje, quem é que vamos matar?
H – Sei lá… Queres o quê? Matar mais alguém com pretextos políticos?
G – Eh pá, estou a ficar um bocado farto de matar pessoal com pretextos políticos… Já executámos para aí umas dúzias de presidentes de Câmara, ministros, assessores, grandes empresários, polícias e juízes… Já me incomoda a ideia de ser um ícone para aquela cambada da extrema esquerda e direita, que nos toma como uns “libertadores”, “heróis da luta contra a opressão”, “revolucionários” e cenas do género…
H – Podes crer. Não há nada mais chato de que gostarem de nós…
G – Nada pode ser mais enjoativo de que o amor das massas, querida…
H – Então e se matássemos uns inocentes quaisquer? Sem qualquer justificação? Nem para extorquir um resgate nem nada, matar por matar?
G – Pode ser. Para variar. O que sugeres?
H – Tipo… Não sei… Uns turistas no metro… Ou umas crianças desfavorecidas…
G – Olha, vamos aniquilar uns velhos no jardim, só para distrair. Até vai ser bom para eles, com as reformas que ganham mais vale estarem mortos…
H – Pode ser! Vamos ali ao jardim, interrompemos o jogo de sueca quando alguém fizer renúncia e desatamos aos tiros!
G – Eh pá, aos tiros não. Temos poucas munições para a metralhadora… vamos explodir com o jardim todo com umas granadas!
H – E se os raptássemos e os decepássemos com um machado num bairro degradado, à moda antiga? Depois enviávamos as cabeças num saco de plástico para as famílias, com um bilhete a reivindicar a nossa autoria…
G – Isso dá muito trabalho, querida! Já viste, termos de saber aquelas moradas todas… Vamos é deixar os cadáveres logo ali e depois as famílias que se desenrasquem…
H – És tão perverso, querido…
G – Faço o meu melhor, querida… Espera lá… Que barulho é este? Parece que estão a raspar na nossa porta!
H – Queres ver que é a bófia?
G – Não pode ser! Almocei com o inspector há pouco tempo e ele disse-me para estarmos à vontade, ninguém nos ia chatear… passa-me aí a catana oferecida pelo general guineense que já lhe trato do sebo!
H – Tem cuidado, amor…
G – Olha… é um cãozinho numa alcova cor-de-rosa! Alguém o abandonou aqui!
H – Tão giro!
G – Como é que é? Mato-o já aqui?
H – Não sejas bruto, Geraldo! Como és capaz de maltratar este animal tão fofo? Olha lá para ele, está a ganir e tudo… tão giro, tão giro, tão giro! Não gostas dele?
G – Bem… reconheço que o cachorro é engraçado… Olha lá! Está a lamber-me e tudo!
H – Ahhh! Que amoroso! Ele gosta de ti!
G – Eheh! É esperto, o sacana!... Vamos adoptá-lo!
H – Sim! Adoptemo-lo! Como é que o vamos chamar?
G – Eu gosto do nome Piloto. Ou Piruças.
H – Ah, eu preferia algo mais simbólico e condizente com o seu aspecto… que tal Belzebu ou Mafarrico?
G – Ivan, o Terrível, não gostas?
H – Ivan! Óptimo! Ai, ele é tão querido!
Ivan – Auf! Auf!
G e H – E já fala!!!! Oooooooh!!!...
G – Quem é que seria tão maldoso ao ponto de abandonar esta criatura indefesa?
H – Há gente muito má neste mundo, não achas, querido?
G – Gente sem juízo nenhum, querida.
H – Bem, mas temos uns velhos para matar, não temos?
G – Sim, o trabalho espera-nos. Traz lá umas cordas e uns machados e vamos lá despachar estes assassinatos, que é para estarmos em casa cedo e tratarmos do Ivan.
H – … mas temos de passar primeiro no supermercado, para trazemos comida para ele…
G – … e, já agora, compramos-lhe uma casota à maneira.
H – Podíamos aproveitar e matávamos o pessoal do supermercado com um gás venenoso, assim escusávamos de gastar dinheiro!
G – Grande ideia! És pérfida, Heliodora. Estou orgulhoso de ser o teu companheiro no crime.
H – Dás-me um beijinho antes de pegarmos ao serviço?
G – Todos os que tu quiseres, querida. Eu amo-te, querida.
H – Eu também te amo, querido.
CHUAC!

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