domingo, agosto 12, 2007

Quero Morder-te As Mãos

Já tenho os planos para a nossa vida a dois.
Uma moradia a quinze minutos do centro da cidade.
Precisa apenas de pequenas remodelações.
Nada que não consigamos suportar.
Um jardim aberrantemente verde para os miúdos.
Um cão.
Pastor alemão.
E um gato.
Preto e com muito pêlo.
Harmoniosos.
Uma cama de dossel.
Sumo de laranja pela manhã.
Espaço para o churrasco dominical.
Mobílias de mogno.
Cortinados acetinados.
Beijos de volúpia.
Carícias pela tardinha.
Sorvetes no Verão.
Chá quente pelo Inverno.
Cinema a dois.
Uma música ambiente no hall.
Flores garridas nos degraus.
Um sonho colorido.
Mas há uma coisa que deves saber.
Tudo na vida exige contrapartidas.
Eu sou um ser que aprecia irrevogabilidades.
E neste meu desejo não admitirei desvios.
Pretendo ver satisfeitas as minhas ousadias.
Quero que saibas concordar.
Não dramatizes.
A carne humana não é um exclusivo teu.
Obrigo-te apenas a certos sacrifícios.
A algumas cicatrizes.
A um leviano desprendimento moral.
A felicidade toma caminhos ínvios e diversos.
Esconde-se atrás das fachadas mais impensáveis.
Visita o inferno e o céu com a velocidade dum cometa.
Por vezes há que dar passos atrás para nos chegarmos à frente.
E por vezes o horror sabe-nos mesmo bem.
Vem por bem.
Vem-te a bem.

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