segunda-feira, junho 26, 2006

Adrenalina

Um destes dias, vou enfiar-me pela auto-estrada em contramão.
Puro prazer, o que me estará reservado. Enfrentar destemidamente as luzes de carros de gente normal sem Via Verde, sem jantes de liga leve, sem luzinhas lilazes por baixo da viatura, sem sistemas de alta fidelidade a ocuparem a bagageira, sem vidros fumados, a desviarem-se aflitas contra os rails de protecção ou a esfrangalharem-se contra a berma. A minha máquina a semear quilómetros de terror no lado errado da estrada.
Vou recordar o Zé Miguel, ás dos piões na rotunda lá do bairro – o tal que se despenhou do viaduto ao perder o controlo do seu Citröen Saxo a 140 a hora e só parou nas pedras graníticas que ladeavam a Ribeira de Matamouros. Irei honrar a sua memória a altas rotações.
Sonho com o momento em que a Brigada de Trânsito me aguarda com os seus pirilampos cintilantes, qual criminoso à solta em Los Angeles, numa barricada montada aparatosamente perto de uma estação de serviço consumida por famílias inteiras em pânico.
Quero sentir a pressão mediática dos telejornais e estar acompanhado por um psicólogo que me vai dizer “é mais um grave desequilíbrio afectivo que merece ser observado pormenorizadamente tendo em vista a reinserção social do indíviduo”.
Ambiciono falar com a minha voz distorcida e com a câmara a filmar a minha sombra na gravilha enquanto defendo o espectáculo de uma contra-ordenação de trânsito desta envergadura.
Espero corresponder às expectativas da malta que me apoia nas corridas lá na terra, com buzinas e aplausos, após mais uma audaciosa aceleração. Não vai haver óleo no asfalto nem pneus furados que me detenham.
Não tenho medo. S. Cristóvão está junto ao CD que penduro no espelho retrovisor.
E tu, queres vir comigo?

1 comentário:

. disse...

Eu até ia não fosse o preço da gasosa. Contra mão sim senhor mas nas descidas, logo ponto morto.