sexta-feira, junho 30, 2006

Smashing Pumpkins "Siamese Dream" (1993)


Os Smashing Pumpkins não deveriam chamar-se “Smashing Pumpkins”. O mais correcto era designarem-se “The Billy Corgan Band”. Pronto, com alguma boa fé, deveriam chamar-se “The Billy Corgan and Jimmy Chamberlin Band”. Agora Smashing Pumpkins?

Esta foi (é?) uma banda fetiche dos anos 90. Cresceu e morreu com a década. Por volta de 1996 eram a maior banda rock do mundo. Corgan andava nas nuvens, após um duplo-álbum concebido especialmente com o propósito de tomar o mundo de assalto. Depois vieram os problemas, como seria de esperar. A partir de 1998, com o advento do nu-metal, o progressivo esquecimento das bandas que formavam o “core” do rock anos antes, dissipado o fantasma de Kurt Cobain, Corgan e a sua banda caíram a pique e em 2000 programaram o ridículo que foi a última digressão, fazendo com que todos que os presenciassem pudessem afirmar “Pai, Mãe; esta foi a última vez que viram esta banda ao vivo”. Foi uma atitude claramente virada para os bolsos e não para o sentimento, embora perfeitamente legítima. Eu, como fã, recusar-me-ia a participar nessa fraude… caso tivesse tido a oportunidade. Contudo, compreendo quem os foi ver. Afinal, sempre havia grandes momentos para recordar. Podiam eram ter tido uma saída mais digna – para mim, um comunicado de imprensa em que se lesse “acabámos” seria mais digno. Mas isso sou eu, com as minhas ideias utópicas sobre integralismo ideológico dentro do universo rock.
Corgan andaria depois por outra banda, os Zwan. Este projecto foi claramente assumido como sendo “Billy Corgan e mais uns amigos”, ao contrário dos Pumpkins… embora a lógica fosse sensivelmente a mesma: um grande baterista, um ou dois guitarristas low-profile o suficiente para nunca entrar em conflitos com o enorme ego de Corgan e uma mulher baixista com pinceladas góticas, capaz de atrair um público diferente e de fazer as “backing vocals” com um toque sensual. Mas os Zwan, descobriu-se depois, não eram assim tão amigos e após um álbum decepcionante terminaram. Desta vez não houve “festa de despedida”, até porque os Zwan não tinham motivos para festejar.
Corgan insistiu e, pela primeira vez em 15 anos, teve a hombridade de assumir-se como um artista a solo. Nem sequer ouvi esse álbum. Ouvi dizer que vendeu muito mal, se é que vendeu. E Corgan pensou de novo em reformar a banda, como está tão em voga. Quanto a mim, é um sinal claro de três coisas: que Corgan sabe que a mística reside no seu projecto Pumpkins; que os Pumpkins estão com dificuldades de tesouraria e provavelmente enfrentam uma depressão emotiva; que a cena rock actual e as novas bandas que despontam são tão más que mais vale voltar a ouvir bandas do passado a tocar as mesmas coisas “over and over again”, como uma pilha Duracell. Citando os Metallica, “sad but true”.

Escrevendo sobre o que interessa, voltemos a 1993. Os Pumpkins eram uma banda imberbe (especialmente a D’Arcy), buscando o seu lugar ao sol após a explosão de Seattle. Consta que Corgan, de Chicago, estava francamente deprimido e que trabalhou de forma compulsiva neste álbum, como terapia para libertar-se desses tormentos que o afligiam. Foi o apogeu da primazia de Corgan sobre a banda, pois Corgan fez todo o álbum sozinho, desacreditando as colaborações de todos os restantes elementos da banda, excepto a do excelente baterista Chamberlin. Os outros, basicamente, apenas apareceram no “inlay” do álbum. O japonês James Iha ficou deveras satisfeito por Corgan lhe ter presenteado com a co-autoria de três faixas, em jeito de agradecimento por ele não fazer muitas ondas relativamente ao seu papel mais que secundário.
Corgan estava decidido a que este álbum lhe abrisse as portas do sucesso, depois de ter sido aceite sem grande alarido dentro do segmento “alternativo” após o álbum anterior, “Gish”, de 1991. “Gish” tinha sido um sucesso mediano, agradável “ma non troppo” para as ambições de Corgan, decidido a ser uma “rock-star”. Curiosamente, tanto em “Gish” como em “Siamese Dream” utilizou o mesmo produtor, Butch Vig, que por sua vez tinha estado no álbum que definiu o som da década: esse mesmo, “Nevermind”, dos Nirvana.
O que aqui se ouviu foi, discutivelmente, a “banda” no seu auge: ainda sem atingir o pretensiosismo épico-gótico do subsequente “Mellon Collie and The Infinite Sadness” (veja-se só o nome), que lhes escancarou o caminho para o mega-estrelato; já sem se reter unicamente a esteoreótipos “indie” evidenciados na produção de “Gish”; acima de tudo, feito com o querer e a paixão de ter algo a provar e esforçar-se por fazer um álbum que ficasse para a história.
Para o mundo, foi um álbum que revelou os Pumpkins como uma banda muito promissora, sem chegar aos calcanhares dos Nirvana, mas competindo com a atenção dada aos Pearl Jam (embora as filosofias destas bandas fossem bem diferentes entre si); para Corgan, funcionou como um balão de oxigénio que lhe tonificou a alma, mas ainda sem o super-estrelato desejado; para mim, foi o resultado mais honesto da banda, mais enfocado que “Mellon Collie”, mais desenvolvido que “Gish”, mais ajustado à realidade da época e qualitativamente superior, bem superior, a qualquer registo pós-“Mellon Collie”.
Corgan ainda não se rendera totalmente ao fascínio gótico; as canções eram essencialmente rock, com bastante distorção, amplificadores bastante altos (a famosa expressão “muralha de som”), guitarras a guinchar solos por entre ritmos tecnicamente evoluídos desenhados por Chamberlin na bateria; ou então, baladas “poppy”, metendo violinos e tudo, com Corgan suspirando as interessantes letras ao microfone. Corgan, honra lhe seja feita, era um compositor prendado e prolífero (não consigo, assim de repente, lembrar-me de ninguém que tenha escrito tantas e tão boas músicas e letras como ele em tão pouco tempo), um intérprete bastante razoável e um liricista apreciável – isto até 1996.
Depois, rapou o cabelo, vestiu-se de preto (aquela T-shirt do “Zero”…) e mandou o “rock alternativo” às malvas, abraçando as grandes arenas. Pior para ele, pior para nós. Poucas bandas representaram tão bem o espírito dos anos 90 como os Pumpkins. Se bem que os Pumpkins eram Billy Corgan e Billy Corgan era os Smashing Pumpkins, isto é, uma perfeita redundância falar-se dos dois, quando se pode falar só de um. Acho que ele(s) irá(ão) voltar em breve…

Classificação: 8/10
Faixas a reter:
“Cherub Rock”;
“Quiet”;
“Disarm”

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