sexta-feira, junho 16, 2006

Kiss My Jazz "Doc's Place, Friday Evening" (1996)




Prosseguindo com o ecletismo anunciado no primeiro post deste blog: para mostrar que isto não vai ser só futebol, falemos agora de música.

Este não é o álbum do momento, definitivamente. Não é novo, não passa na rádio, não é inglês, não é americano, não é parecido com D’ ZRT (salvé, deuses da pitalhada) e a banda já nem sequer está em actividade. Por isso, e pela música em si, é que tem a honra de ser o assunto do primeiro post a sério (se assim podemos chamar) deste blog.

O nome desta banda é fabuloso. O álbum… sejamos francos, é de uma irregularidade monstruosa. Que é como todos nós somos – ou tu és daqueles que tem a mania que és maníaco-depressivo desde os 7 anos ou daqueles que pensas todos os dias que ainda vais ser astronauta? Todos temos os nossos momentos bons e maus… E este álbum tem boa música, daquela propriamente dita, e, simultanemente, tem vários momentos de não-música no seu sentido formal. É uma montanha russa em formato sonoro, sem nunca ser especialmente barulhenta. Digamos que é uma montanha russa dentro de um sótão apertado no centro de uma cidade pluviosa (Antuérpia deve ser assim, imagino).

Isto não é só jazz. Retém a improvisação, o espírito de uma jam, mas não é só jazz. Mesmo que fosse só jazz eu não saberia dizê-lo, não sou grande especialista nessa área. Sente-se que há por aqui algo mais. Há álcool, há gajos que apareceram no estúdio e mexeram com alguns intrumentos, estórias sobre amigos imaginários, sacos de plástico pretos, esquizofrenia, pedaços de canções descolados do seu contexto e doses de experimentalismo sonoro. Há funk, há noise-rock, há violinos, trompetes e conversas sobre chapéus. Não há hip-hop, nu-metal, folclore mirandês, R&B, nem sequer uma atitude muito rebelde para com o mundo em geral – isso é certo. Portanto, “música alternativa” é a máxima catalogação que consigo para este álbum. Muito suspirarão – “ganda seca!”

O álbum é muito bom, mas não considerem isto uma crítica. Não consigo ser imparcial com este álbum. Isto é mais uma opinião de um adepto sem muita credibilidade, apaixonado desde o início pelo espírito que a banda empresta ao álbum.

O álbum é tão bom que até gosto das faixas que são más. Isto é, aprecio de certa forma aqueles registos sonoros que ficam extraordinários ali, no alinhamento do álbum, como aperitivos entre refeições que enchem. O álbum ganha imenso com estes interlúdios, embora não os ouça isoladamente.

E é reconfortante saber que quase ninguém sabe que eles existem (ou que existiram). Deixem-nos estar assim.

Abençoados sejam estes belgas que seguiram pelos caminhos mais obscuros que dEUS abriu.

Classificação: 8/10
Faixas a reter:
“The Stud vs Drunk Kid”;
“Nails”;
“Mute Fish”

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