terça-feira, junho 20, 2006

"Os Belenenses"


Belém. Belém dos pastéis bem direccionados ao estômago – ao contrário dos livres directos de Paulo Torres. Belém da Cruz de Cristo sobre o magnífico fundo azul – e com as flores do plantel do FC Porto junto ao busto do Pepe, como o cartão vermelho junto da mão do rigoroso Martins dos Santos. Belém da II Liga – mais uma vez, ao que parece, e com contornos mais disputados que um lance a meio campo que envolvesse Rui França ou Eusébio (não a pantera negra, mas o caterpillar de Aveiro e Braga).

Houve uma Taça em 1988, cheia de Macaé, Baidek, Adão, Jaime, que ainda foi genial no futebol de praia, Galo, Juanico, o malogrado José António, Chico Faria e Jorge Martins, o veterano e anafado guarda-redes. Mas o declínio até à II Divisão, experimentado pela primeira vez entre 1982 e 1984, prosseguiu durante a década de 90, década na qual «Os Belenenses» sentiram fortemente o apelo da linha de água em diversas ocasiões. Quiçá inspirados pela estrela sem brilho, mas sempre com bigode, que foi Chalana; ou pela falta de cabelo de Mihailov (viram como ele recuperou depois de sair de lá?); ou pela ausência do último grande maestro que foi Mauro Airez, «Os Belenenses» viveram momentos desportivamente sofríveis no passado recente, mas ainda assim cromofilicamente frutuosos.

Principais responsáveis: logo à cabeça, um avançado que deu azo às mais variadas fantasias – Monga. A táctica nunca foi o seu forte e a técnica também não era muita, mas o seu nome chegou a um píncaro nunca antes visto. Monga. Rima com Bonga, o que não é bom. Monga. Diminutivo depreciativo de mongolóide, o que ainda é pior. Monga. Existiu, é verdade, não é invenção, estive vivo para presenciar e vivo estarei para transmitir a gerações futuras o nome que ainda hoje desperta sensações nas despidas bancadas azuis do Restelo: Monga.

Salam Sow quis chegar aonde Monga chegou. Mas falhou. Fertout procurou ser um bom jogador com um nome esquisito – não é fácil, sabia disso. Disfarçou apenas no início. M’Jid, embora voluntarioso, nunca ultrapassou o estigma inerente ao apóstrofe que tão distintivamente ostentava no nome – o de ser um jogador não mais que razoável, que desaparece ao fim de pouco tempo (a excepção mais honrosa foi, talvez, N’ Dinga). Honi Serge, camaronês promissor, deu-se mal com os ares do Restelo, tão propensos a ofuscar estrelas emergentes, vide Zoran Ban ou Adamczuk. Darci, poderoso brasileiro, não prometeu nem resolveu nada. Talvez Gonçalves, português remediado, ainda tenha sido quem mais remou contra a maré de vulgaridade que assolou esta zona nobre de Lisboa. Mas quando viu que andava a remar sozinho, exilou-se na Amadora e por lá desapareceu.

Estrategas tacticamente desenvolvidos, como o fantástico croata Bogicevic, não conseguiram fazer passar a sua mensagem ao balneário. Sorrisos como os de Milton Mendes e os de Nito não levantaram a moral do plantel. Corridas e fintas de João Paulo Brito, Carrasqueira ou Verona apenas deleitaram a espaços a “Fúria Azul”. Os arremessos laterais de Álvaro Gregório, que podiam ser a sua imagem de marca, perderam-se na mediania. Pedro Estrela acrescentou pouco brilho ao que seria esperado do seu nome. Pontapés e cabeçadas de Guto, Edmundo, João Manuel Pinto ou Orestes lá deixaram as suas marcas nos adversários, mas não marcaram golos. As bolas que Pedro, o Espinha, deixava anichar-se nas redes desesperaram os eternos suplentes Adamo e Justino. Nem a técnica perfumada de Taira, Tulipa ou de um velhito Abílio a conduzir jogo, com o apoio de Mauro Soares (que ainda andou pelo Algarve e conseguiu enganar fugazmente o Sporting), reconduziu os azuis a patamares superiores ao meio da tabela. Para cúmulo, duas das maiores promessas belenenses, Tonanha e Seba, que refinara a sua técnica invulgar no inevitável viveiro espanhol que foi o Desp. Chaves, abandonaram o futebol por problemas de coração.

E o coração destes adeptos, Velhos do Restelo, está um pouco como estes desgraçados cromos – aos solavancos. Para já, abandonaram os domínios da Superliga. Nós continuaremos por cá, atentos à fornada que está ao lume na fábrica dos pastéis. Na temporada que findou, os olhos estiveram postos em Dady, reforço que animou as hostes azuis, tanto como Rodolfo Lima e quase tanto como um pontapé de Ruben Amorim à barra ou mais uma bola de golo falhada escandalosamente por Ahamada, após trabalho esforçado de Fábio Januário na esquerda. Na próxima temporada, quem virá?

1 comentário:

Rodrigues disse...

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