quinta-feira, junho 21, 2007

Alves, o Rogério

Para quem não saiba, o senhor da foto é Bastonário da Ordem dos Advogados (qualidade na qual aparece representado) e Presidente da Mesa da Assembleia-Geral do Sporting Clube de Portugal (qualidade na qual não aparece representado). Quem sabe quem ele é, certamente que o sabe por ele aparecer com frequência regular nos nossos ecrãs, comentando alguma questão jurídica assaz intrincada.
Aliás, este homem possui um dom oratório notável. Domina com laivos de aparente facilidade a língua portuguesa. Nele tudo encaixa com uma naturalidade assombrosa: a elaboração dum raciocínio argumentativo ou explicativo recorrendo à quase perfeição da estruturação frásica, da dicção, da entoação, da escolha de adjectivos au point, do cuidado na colocação das palavras certas na situação certa, do gesticular das mãos e da expressão facial que acompanha as suas prelecções. Eu fico perfeitamente convencido quando é ele a comentar alguma coisa. Com todas as suas qualidades comunicacionais, Rogério Alves consegue dar a ideia que domina qualquer assunto sobre o qual é chamado a pronunciar-se. Tenho a impressão que ele sabe de cor os Códigos Civil e Processual e, de um modo geral, toda a legislação e regulamentação portuguesas. Quiçá, até mesmo o Direito Internacional. Portanto, alguém que se me afigura como de confiança e de competência inquestionável. Eu creio que seria capaz de comprar um aspirador que Rogério Alves me tentasse vender, acaso ele os andasse a impingir porta-a-porta, mesmo que eu não precisasse de mais um aspirador para juntar à dúzia que se acumula na minha arrecadação, ironicamente a ganhar pó. Ele fala e fala bem, agrega numa simbiose orgânica a língua portuguesa e as noções do Direito como poucos e congratulo-o por isso.
Aliás, o meu reconhecimento não é isolado: Rogério Alves já assumiu algumas missões de relevo. Vejamos o seu currículo: vogal do Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados entre 1993 e 1995; membro da Comissão Nacional de Estágio em representação do Conselho Distrital de Lisboa nesse triénio; presidente do Conselho Distrital de Lisboa no Triénio 2002/2004; comentador habitual de temas jurídicos em diversos órgãos de Comunicação Social; autor de diversos textos de opinião sobre questões jurídicas e outras questões da actualidade, publicados em diversos órgãos de comunicação; autor de várias palestras e conferências sobre questões ligadas ao direito e à justiça, nomeadamente em Universidades; participante em diversos debates, seminários e iniciativas similares como orador convidado em Portugal e no estrangeiro; participou como orador no Curso Sobre Jornalismo Judiciário na Universidade Católica Portuguesa, 2003/2004; orador no curso de Jornalismo Judiciário organizado pelo CDL em 2005/2006; orador convidado no curso de pós-graduação em Mediação e Justiça Restaurativa no Instituto Superior de Educação e Ciências, 2004 e professor convidado da UCP para reger o Seminário de Retórica Forense do 5.º ano do curso de Direito. Este currículo é oficial, está na página da Ordem dos Advogados e “esquece” o seu papel no Sporting (enfim…). Mas conseguimos captar a ideia que ele convenceu mesmo os seus colegas de profissão, profissionais da retórica e da complicação difíceis de aturar, ao ser eleito como Bastonário. Outra explicação é a de que mais ninguém se esteve para chatear na candidatura, ou mesmo votar, e só ele se candidatou com entusiasmo suficiente para ganhar, o que não acredito muito.
O que me leva a perder tempo com Rogério Alves não é, contudo, a exaltação dos seus atributos nem a constatação da sua aparente hiperactividade jurídico-judicial. É sim o reconhecimento do triunfo dos nerds.
Poucas personalidades públicas revelam um cariz tão nerdy como Rogério Alves. A começar pelos seus óculos, de acentuada graduação, que minimizam os seus olhinhos. Depois, acabando nos seus óculos, retirados do fundo dum garrafão, que lhe atribuem um estatuto de “homem-alvo” das partidas no balneário. De passagem, temos a sua própria expressão oral, que sendo muito enleante e erudita, sim senhor, é também duma nerdice evidente – como sinal, temos aqueles “esses” acompanhados por tímidos gafanhotos que se expelem por entre os lábios que se afunilam e expressões, que sendo muito bonitas e curiosas, só mesmo um nerd as profere sem constrangimentos e sem gaguez.
Ou seja, Rogério Alves provou que as qualidades podem prevalecer sobre o aspecto físico. Ele conseguiu superar todas as partidas no colégio (a não ser que tivesse frequentado o Colégio dos Nerds), conseguiu estudar tudo o que havia para estudar e passar nos exames orais (todavia, qualquer professor que olhasse para ele teria, certamente, alguma bonomia para com ele, alguma parcimónia inicial no início do exame, olhando para o seu aspecto de grande estudioso), conseguiu chegar aonde chegou e, a cereja no topo do bolo, casou-se e teve dois filhos, a ambição secreta de qualquer nerd.

Sugiro que todos os nerds entre os 12 e os 25 anos larguem os computadores e as séries da Fox por algum tempo e se dediquem à análise do percurso deste homem. Requisitem uma entrevista e aulas práticas para aprenderem o segredo do sucesso deste nerd. Ainda vão a tempo de fazer alguma coisa nesta vida.

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