sexta-feira, junho 15, 2007

As Interrogações dum Actor Pornográfico

Porque é que insistes em perguntar-me se estou a gostar?
Porque é que tens essa tendência irritante para corroborar o êxtase do nosso acto sexual, afirmando ofegante “É bom não é?”
Porque é que a tua amiga nos olha de boca aberta, lambuzando o seu batôn vermelho vivo, enquanto acaricia, com os seus dedos das mãos ostentando unhas pontiagudas e berrantemente envernizadas, o clítoris bojudo a descoberto dos pêlos púbicos podados com perícia meticulosa que exibe, alarve, no sofá do Ikea, não ousando sequer retirar os sapatos de salto alto nem o cinto de ligas que teimosamente preserva em cada menàge-á-trois que ocasionalmente praticamos por aqui e por ali, respondendo com olhos semi-cerrados pela suposta excitação profunda que retira em observar-nos, numa dolência possuída: “É muito booooooom…”? Como é que ela sabe que nós achamos que é bom?
Porque é que mènage-á-trois é a única coisa que sei parafrasear em francês?
Porquê é que repetes “Sim! Sim! Sim!” em simulações orgásmicas apenas pelo vislumbrar do meu corpo ou de outros corpos desnudos que aparecem em género de carrossel hedonista e leviano à tua volta, como se tudo fosse novidade para ti: “Ai, que grande mastro que tu tens…”?
Porque é que alternas súbitos momentos de altruísmo corporal, manifestados através da tua extrema disponibilidade em acorrer a todos os pénis que surgem perante ti, com intensas demonstrações de egoísmo, ao quereres açambarcar as actividades desenvolvidas pelas tuas colegas: “Não chupes tudo, que eu também quero”?
Porque é que te alongas em comentários desbragados à tua própria voluptuosidade, com cínicos e pretensiosos louvores pessoais às tuas características despudoradamente exibidas, tipo “Gostas de ver a minha ratinha molhada toda aberta para ti?”, como se alguém retirasse enorme satisfação pela tua auto-adulação verbal, ou como se todos alcançassem um clímax reforçado pela simples sonoridade das tuas sugestões?
Porque é que reclamas que te dê sempre com mais força nesses orifícios sub-lombares? Será que queres que te rebente com todos os hímens imaginários que ainda pensas deter ou queres que te faça cócegas no esófago?
Porquê essa notável confusão entre sexo e amor, tu que tratas todos por “amor”, mesmo que seja a primeira vez que os vês, é “amor” para aqui, “amor” para acolá, “fazer amor” assim, “toma lá amor” assado, mas afinal só queres é sexo, sexo e sexo? E, já agora, ainda mais sexo?
Porquê esse fascínio pelo masoquismo do “Fode-me! Fode-me toda!”, se já não é isso que te estou a fazer nesse momento? Será que o sexo violento te faz assumir uma outra personagem que, paradoxalmente, só pensa em sexo violento, numa espécie de espiral para o infinito tipo lata de fermento Royal?
E porque é que não manténs essa atitude masoquista no teu dia-a-dia e não pretendes ser “fodida” toda a tua vida, em toda e qualquer situação, por toda e qualquer pessoa, de forma a, pelo menos, atingir um certo grau de coerência, mesmo que, se assim fosse, a tua vida seria um autêntico pantanal sub-humano (e talvez até já seja)?
Porque é que não resistes quando me vês chegar, sozinho ou em grupo, e não tens a mínima veleidade ou vergonha de acasalarmos em qualquer ocasião, seja ela uma recepção protocolar a um bispo evangélico, uma reunião de alcoólicos anónimos, uma familiar ceia natalícia ou mesmo quando chegas cansada após um corriqueiro dia de trabalho?
Porque é que manténs essa curiosa tendência para te masturbares em qualquer situação que presencias outro alguém a procriar, sem qualquer pejo em destapar e apalpar os teus seios nem em, mais uma vez, acariciar o teu sexo, por muito inconveniente que seja o local e o tempo?
Porque é que te rodeias de outras mulheres ainda mais deslambidas e atraentes que tu e não te importas minimamente em partilhar-me com elas, com o eventual ciúme a surgir apenas muito após a inevitável orgia?
De onde vem esse inusitado descontrolo de emoções que te leva a amar profundamente sob a forma de sexo oral qualquer estranho que se aproxime de ti quando estás em pleno acto sexual?
Porque é que nunca te cansas de sexo em grupo, com duplas e triplas penetrações simultâneas, com todas as tuas amigas a assistir e com estas, corajosamente mas sem constrangimentos alguns, a participarem activa e alegremente nas tuas orgias que espontaneamente cultivas em todos os eventos sociais em que participas?
Porque é que te sentes atraída por chineses anões, pretos gigantes, animais inocentes e barbas de ZZ Top de igual forma sem nunca emitires um sinal de desagrado nem parares de gemer ou contorcer-te de forma sonora e veemente?
Porquê é que o lesbianismo nunca foi um tabu para ti?
Porque é que retiras enorme prazer em lamber qualquer parte de qualquer corpo humano e te comprazes com os fluidos vaginais das tuas primas e tias, da mesma forma como te regalas com o sémen, urina, champanhe, fezes, iogurte, ovos moles de Aveiro, qualquer coisa que o teu garanhão te derrama em cima dos olhos e da boca? Nunca te ensinaram que os verdadeiros suplementos vitamínicos vendem-se na farmácia?
Enfim, não devias ser-me um ente estranho. Apenas acho que finges demasiado mal. Ao menos, que o dinheiro te faça jeito.

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