quinta-feira, junho 21, 2007

Eu Sou A Morsa

Mulheres de cabelo curto protestam contra qualquer coisa, imitando abortos tornados vivos, irritando com os seus incómodos permanentes. Há algo de podre no reino encantado do capitalismo, que bom que era se fosse só na Dinamarca. Deve ser o cravo que murchou e que nunca devia ter tapado o cano da metralhadora. Compro mais qualquer coisa para resolver os meus não-problemas. Eu não sei se devo tentar compreender todos estes temas que me assaltam no dia-a-dia, estas escadas rolantes vagarosas com pessoas recostadas do lado direito, estes avisos colocados ao lado da publicidade aos bikinis, não compreendo as mensagens codificadas que gravitam nas minhas órbitas oculares. Sinto um sono profundo durante as longas horas do dia e lamento não conseguir dormir em pé. E quem me conhece, sabe que até tento, sempre tentei, pelo menos sempre o disse e ninguém desconfiou. Mas também nunca perguntei. Pareço-me sublimado por palavras que não pretendem criar efeito e indiferente perante as novas teologias pagãs do mundo livre. Juntaram-me as postas num único ficheiro corrompido e nem tiveram o cuidado de alterar o tipo de letra de Times New Roman para outro formato qualquer. Não entendo o processo de selecção da gente que entrega jornais gratuitos pela manhã nos interfaces de transportes públicos nem quem constitui o círculo de amizades do Pedro Penim. Isto só para não me alongar. Preferia estar com Alice e o coelhinho pai do coelho da Páscoa no País das Maravilhas, mas receio encontrar o Humpty Dumpty estrelado do outro lado do muro e a Rainha de Copas a deliciar-se com um banho colectivo de anfetaminas juntamente com o resto do baralho. Apercebo-me que gostava de ser a morsa, mas ainda carrego com este fardo de carpinteiro em cima de mim. O “sei lá” é comummente aceite como uma resposta tão adequada que até um livro com este nome é best-seller. Dizem que, se chover, isto ainda vai ao sítio. Eu acredito que sim até chover, depois constato que o Verão faz vítimas mortais em cada esquina. Encontro-me embrulhado em metáforas que implodem a minha sustentabilidade enquanto ser racional. Sinto a força dum carimbo público a levitar por cima de mim, à espera da oportunidade certa para me esborrachar. Gostava de poder dizer que aquele castelo de areia tinha sido erigido por mim antes das malditas ondas o destruírem. Adorava poder participar num auto de fé e atirar lixo para os olhos dos hereges. Enfim, gostava de partilhar um pouco do meu niilismo em troca de alguma crença e algum dinheiro. Que também faz falta. Assisto à queda de velhos paradigmas e à queda do meu cabelo sem perceber qual das quedas me causará mais impactos. É interessante concluir que as alunas do ciclo preparatório já pintam as unhas como as vacas das mães delas, que se atiram descaradamente ao vizinho canalizador enquanto o marido, dizem elas, extermina a última prole de dodós em parte incerta para sua própria satisfação pessoal. Passar o tempo com passatempos é perder tempo. Ninguém realmente se importa, de qualquer maneira.

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