quarta-feira, julho 04, 2007

A Europa ao Contrário

Vou cheirar uma ganza à porta do McDonalds junto duns jovens vegetarianos.
Quero fumar o pó dos gabinetes do paraíso burocrático da Comunidade, assim como quem não quer a coisa, só para o estilo, só para poder ser um yuppie feliz e economicamente alienado, só porque sim.
Vou tentar escrever uma canção que não seja de amor utilizando “I love you” no mínimo umas dez vezes.
Dit nooit meer. Ik hou van u. Dit nooit meer.
Quero servir-me da tua cara de Ségolène Royal sem as plásticas para as minhas perversões sexuais.
Estou encravado numa contradição de proporções colossais relacionada com o anti-semitismo, ou talvez esteja só na plataforma errada do comboio.
Vou tentar esperar pelo check-in de cócoras e enganar os magrebinos com indicações falsas sobre o meu estado mental e sobre as boarding gates abertas.
Quero passar pelo controlo cheio de parafusos nas articulações, apenas pelo prazer de ser revistado por máquinas esquisitas que apitam, manuseadas por seguranças de luvas que são ex-carniceiros que só conhecem cutelos e cabeças de gado decepadas.
Quero perder os saltos numa calçada de cimento para sentir o desconforto da típica calçada portuguesa. E para isso vou começar a andar de saltos altos a partir de Ayamonte.
Adis Abeba merece uma referência. Uma nota de rodapé serve. Uma nota de 10 euros também.
Aplausos pela iniciativa. Aplausos por qualquer coisa. Aplaude. Faz o favor de ser gentil.
Quero enganar os outros só mais esta vez, antes de ir fazer ó-ó uma hora atrasado.
Vou tentar vender uma lata de tinta Dyrup na Porta de Brandenburgo por uma módica quantia, encestar uma bola de Berlim que vale três pontos na pilinha do Manneken Pis, argumentar que Deus é flamengo como um queijo.
Esse bigode à Hitler fica-te a matar. És a nova atracção siciliana. Quero ser teu amigo durante as próximas três horas e esquecer-te durante os próximos três séculos.
O Jardim do Luxemburgo é maior que o próprio Luxemburgo e não está no Luxemburgo, eu não consigo aguentar tanta ironia junta.
Tens aspecto de quem não quer ser elegante, pois reconforta-te, tu e a tua banha acumulada que indelicadamente espalhas na cadeira.
Há chineses por todo o lado, ficamos com os olhos em bico com a piada fácil.
Faz-me falta ver a obra do Zeca Afonso traduzida pelo Pac Man para o mongolês urbano circa 2005 e difundida a todas as vítimas de insónia capitalista.
Quero chafurdar-me em carne de porco, trazer bifanas dentro da pasta do meu laptop e fritar baterias.
É incrível a quantidade de Ségolènes Royales que proliferam por todo o lado, é só olhar e ver narizes espetados na nossa direcção.
Vou tentar sacar o soutien da estrangeira que está cheia de comichões peitorais nos seus enormes sacos. Ela não pára. Ela não atina com os elásticos. Ela não sabe o que fazer. Ela desespera para o meu sádico deleite voyeurístico.
Verhuur mij help u, meisje.
Generalizando, quero sacar a roupa toda destas meninas que adoram maionese e calamares regados com água mineral gaseificada.
Tenho pena, acho que estou bastante sensibilizado. Mas não dou esmolas.
Se tiveres tempo, passa por cá, dá umas voltas, tira umas fotos à atmosfera e coloca a viagem no topo das tuas preferências pessoais, faz dela motivo para iniciares uma conversa de elevador.
Eu não gosto de ti, tu não gostas de mim, se isto não chega para sintetizar o nosso encontro, então temos tudo aos chutos e pontapés e ao contrário.
Isto está tudo mesmo ao contrário ou sou eu que estou a fazer o pino e não sei.
Geluk helpt soms. Moed altijd.

4 comentários:

Muntubila disse...

Já? A sorte vai ajudando. A coragem ganha sempre.

Rodrigues disse...

Não entendi o "já", mas em relação a essa frase, ela tem uma história (banal mas curiosa). Explico-te depois. De permeio, felicito-te pelo domínio do neerlandês.

Muntubila disse...

era "já de volta?" O Neerlandês está todo no atalho para o babel do meu igoogle. :)

Rodrigues disse...

Ah!, bolas!, e eu a pensar que iria deixar o pessoal todo (aka tu) surpreso e atarantado, tipo: "Eh pá, o gajo deve ter escrito cenas com bué significado..." :)
Enfim, dá um ar culto e sofisticado.
Só estive out o tempo planeado. Estou de volta à labuta :)